eletrocardiograma

Doen�as cardiovasculares: no Brasil s�o mais de 1,1 mil �bitos por dia, cerca de 46 por hora, 1 a 90 segundos

Jan Alexander/Pixabay
Em um mundo com 8 bilh�es de habitantes, as doen�as cardiovasculares (DCVs) continuam sendo a principal causa de morte, embora 80% dos casos possam ser evitados. O relat�rio do Col�gio Norte-Americano de Cardiologia, que complementa e atualiza o Estudo Global de Carga de Doen�as, Les�es e Fatores de Risco, analisou dados de 204 pa�ses, incluindo o Brasil. O foco do trabalho, divulgado ontem em uma edi��o especial do jornal da sociedade m�dica, s�o as condi��es evit�veis que podem levar ao desenvolvimento das DCVs.

"A sa�de cardiovascular tem um grande impacto em nossa qualidade de vida e no sistema de sa�de como um todo", disse, em nota, Gregory A. Roth, autor s�nior do artigo e diretor do Programa em M�tricas de Sa�de Cardiovascular no Instituto de M�tricas e Avalia��o de Sa�de da Universidade de Washington. "Mais de 80% das doen�as cardiovasculares s�o evit�veis. Com essa atualiza��o, estamos mensurando algumas tend�ncias globais alarmantes e revisando as interven��es atuais que podem ajudar os pa�ses a fazerem boas escolhas baseadas em evid�ncias para seus sistemas de sa�de", explicou.

Segundo o estudo, globalmente, a doen�a isqu�mica do cora��o ï¿½ a principal causa de morte cardiovascular, sendo respons�vel por 9,44 milh�es de �bitos em 2021 e 185 milh�es de anos de vida ajustados por incapacidade (DALYs). Esse indicador � um reflexo do impacto de uma enfermidade sobre a qualidade de vida, pois considera o tempo em que uma pessoa vive com um mal incapacitante. A an�lise regional revela que a �sia Central � a parte do globo com maior mortalidade por DCVs: 516,9 ocorr�ncias por 100 mil indiv�duos. Em contraste, pa�ses de renda alta da �sia-Pac�fico registraram a menor taxa: 76,6 em 100 mil.
A maior parte desses �bitos poderia ter sido evitada, dizem os especialistas. A press�o arterial elevada, por exemplo, � preven�vel e, quando j� instalada, controlada. Ainda assim, � o principal fator de risco modific�vel para mortes cardiovasculares prematuras. Foram 11,3 milh�es de casos em 2021. De todas as mortes por DCVs, 10,8 milh�es tiveram essa causa. O relat�rio destaca que os DALYs devido � hipertens�o foram 2.770 por 100 mil pessoas.

Tamb�m fatores de risco modific�veis, os h�bitos alimentares representaram 6,58 milh�es de mortes por DVC e 8 milh�es de �bitos no total em 2021. Entre os principais desencadeadores, segundo o relat�rio, est�o o baixo consumo de frutas, vegetais, legumes, gr�os integrais, nozes e leite, entre outros, e o excesso de ingest�o de carnes vermelhas e processadas, bebidas a�ucaradas, gordura trans e s�dio. Entre outros problemas, a dieta inadequada altera o colesterol LDL, o �ndice de massa corporal e a glicemia de jejum, com impactos cardiovasculares.

 Gregory A. Roth

"A sa�de cardiovascular tem um grande impacto em nossa qualidade de vida e no sistema de sa�de como um todo", disse, em nota, Gregory A. Roth, autor s�nior do artigo

Universidade de Washington/Divulga��o

Segundo a m�dica nefrologista Caroline Reigada, da Associa��o de Medicina Intensiva Brasileira, dos fatores diet�ticos, o excesso de sal � um dos grandes vil�es do cora��o e da sa�de vascular. "O sal � a maior causa de hipertens�o arterial. Al�m de reten��o de l�quidos, causa estreitamento das arter�olas (ramifica��es das art�rias), com consequente eleva��o da press�o arterial", diz. "Dados recentes mostram que o s�dio tamb�m modula o funcionamento de c�lulas imunol�gicas, apoiando a teoria do aumento inflamat�rio no organismo", explica.
"Esse atlas serve como um lembrete oportuno sobre a import�ncia de fatores de risco modific�veis para doen�as card�acas, como press�o alta", disse, em nota, George A. Mensah, MD, autor do artigo e diretor do Centro de Pesquisa de Tradu��o e Ci�ncia de Implementa��o no Instituto Nacional do Cora��o, Pulm�o e Hematol�gico dos Estados Unidos. "As mortes por hipertens�o aumentaram constantemente nos Estados Unidos nos �ltimos 20 anos, o que reflete as tend�ncias em outras regi�es e deixa os pesquisadores ansiosos para encontrar solu��es pr�ticas e inovadoras."

�lcool e tabagismo

A edi��o especial do Jornal do Col�gio Norte-Americano de Cardiologia tamb�m destaca o uso de �lcool, o sedentarismo, o tabagismo e o fumo passivo como fatores de risco cardiovascular que podem ser evitados. "O cigarro pode causar problemas circulat�rios como arteriosclerose e tromboange�te obliterante, dist�rbio que afeta as extremidades do corpo", diz a cirurgi� vascular Aline Lamaita, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV). Outra rela��o da nicotina com as DCVs � a diminui��o da espessura dos vasos sangu�neos e a redu��o da concentra��o de oxig�nio no sangue. "Todo esse processo pode causar complica��es para o normal funcionamento dos vasos, que ficam mais suscet�veis ao entupimento, podendo levar a processos de trombose", destaca.

Fatores ambientais, como polui��o atmosf�rica e dom�stica, exposi��o ao chumbo e temperaturas extremas s�o outros riscos destacados pelo relat�rio. Recentemente, a Associa��o Norte-Americana do Cora��o divulgou um comunicado afirmando que mais de 3,5 milh�es de mortes no mundo s�o causadas por DCVs associadas � m� qualidade do ar, fora ou dentro de casa.

Horm�nio � ligado a risco na menopausa

Cientistas da Universidade de Pittsburgh identificaram uma liga��o entre um horm�nio menos conhecido, chamado anti-M�lleriano (HAM), e os n�veis de lip�dios em mulheres de meia-idade. Com essa informa��o e com o que se sabe sobre o estrog�nio, os m�dicos podem obter uma imagem melhor do risco cardiovascular para as pessoas que est�o entrando na menopausa, afirmaram, em um artigo publicado no Journal of Clinical Lipidology.

Ao longo do per�odo anterior, durante e ap�s a cessa��o da menstrua��o, tamb�m conhecido como transi��o da menopausa, as mulheres de meia-idade correm um risco maior de doen�as cardiovasculares com altera��es nos n�veis lip�dicos, como um aumento acentuado do LDL-C ou "colesterol ruim". Os cientistas determinaram, anteriormente, que a rela��o pode ser parcialmente devido a uma diminui��o nos n�veis de estrog�nio. No entanto, a terapia de reposi��o desse horm�nio n�o teve os efeitos cardioprotetores que os m�dicos esperavam.

"Agora, estamos obtendo mais informa��es sobre outros marcadores que podem desempenhar um papel importante e dizer �s mulheres, de maneira mais precisa e consistente, onde elas est�o em rela��o � transi��o da menopausa", diz Samar R. El Khoudary, professora de epidemiologia na Escola de Sa�de P�blica de Pitt. O HAM � um deles. Trata-se de um horm�nio que � mais bem estudado como um fator importante para determinar o sexo de um feto no �tero. Recentemente, no entanto, descobriu-se que a subst�ncia tem uma conex�o forte e confi�vel com o momento da transi��o para a menopausa.
A equipe da m�dica acompanhou um grupo diversificado de 1.440 mulheres de meia-idade durante a transi��o da menopausa, nos EUA. Os pesquisadores descobriram que, enquanto o alto n�vel de estrog�nio era importante para diminuir os n�veis de colesterol ruim, taxas maiores de HAM eram respons�veis pela redu��o do HDL-C ou "colesterol bom". Embora o novo biomarcador ainda precise ser confirmado, a cientista acredita que ele poder� inspirar novas terapias que reduzem o risco cardiovascular associado � menopausa.

1,1 mil mortes por dia

Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, as doen�as cardiovasculares representam a principal causa de mortes no Brasil: s�o mais de 1,1 mil �bitos por dia, cerca de 46 por hora, 1 a 90 segundos. As DCVs s�o respons�veis pelo dobro de mortalidade registrada por todos os tipos de c�ncer juntos. At� o fim deste ano, a associa��o m�dica prev� que 400 mil brasileiros morram por enfermidades do cora��o e do sistema vascular.