Como manter a sa�de mental durante o puerp�rio
Caso o estado psicol�gico da gestante n�o receba a devida aten��o, h� riscos de provocar graves preju�zos � consolida��o do v�nculo entre m�e e filho
Oito em cada 10 mulheres podem desenvolver o chamado 'baby blues', um est�gio caracterizado por humor deprimido que pode ser revertido, espontaneamente, em at� duas semanas
Marcelo Lellis/EM/D.A Press
Durante os nove meses da gravidez e depois que o beb� nasce, per�odo conhecido como puerp�rio (at� o 45º dia ap�s o parto), a nova m�e experimenta transforma��es. Corpo e mente precisam se adaptar a mudan�as extremas e, neste momento, � muito comum que a mulher apresente oscila��es de humor. Nada mais natural, mas existem alguns sinais aos quais deve-se ter aten��o, caso indiquem dist�rbios ps�quicos e emocionais mais s�rios.
Mais do que as altera��es fisiol�gicas e anat�micas inerentes � gesta��o, a m�e se v� diante da responsabilidade de cuidar das necessidades de um rec�m-nascido, adequando-se a uma outra rotina, que pode ser sobrecarregada. O cansa�o extremo, a inseguran�a, o isolamento dos primeiros dias, altera��es no sono, poss�veis dificuldades no processo de aleitamento e, principalmente, a gangorra hormonal, associadas �s sensa��es trazidas pela viv�ncia da maternidade em si, est�o entre os fatores que contribuem para o surgimento de alguns desequil�brios.
Jaqueline Bifano, psiquiatra
Leca Novo/Divulga��o
Oito em cada 10 mulheres podem desenvolver o chamado ‘baby blues’, um est�gio caracterizado por humor deprimido que pode ser revertido, espontaneamente, em at� duas semanas. H� outras que chegam a ter depress�o. Transtorno psic�tico mais severo, a psicose puerperal provoca um afastamento da realidade, com perturba��es mentais de extrema intensidade.
Enquanto no baby blues a remiss�o, na maioria das vezes, � espont�nea, na depress�o p�s-parto e na psicose puerperal � necess�rio apoio psicol�gico de profissionais e, por vezes, tratamentos medicamentosos. S�o quadros de sa�de mental que, se n�o receberem a devida aten��o, podem acarretar preju�zos graves na consolida��o do v�nculo afetivo entre m�e e beb�, inseguran�as em rela��o ao cuidado com a crian�a, o que impacta diretamente em seu bem-estar.
No blues puerperal, geralmente as manifesta��es s�o falta de �nimo, de confian�a, de energia, de prazer na realiza��o das coisas e na rotina. Tamb�m pode haver ins�nia, choro f�cil, irritabilidade, acelera��o do pensamento e falta de concentra��o, misturados a um cansa�o e sentimento de incompreens�o, ensina a psiquiatra Jaqueline Bifano. Mas tudo isso deve regredir em at� duas semanas.
"O baby blues � uma rea��o em que a paciente se v� com muita fragilidade e instabilidade emocional. Existe um quadro de disforia, com altera��es de humor, com momentos de alegria seguidos de tristeza. � marcado por certa melancolia e pela sensa��o de incapacidade ou medo de n�o saber ou n�o conseguir cuidar do beb�", diz Jaqueline. E n�o se trata de uma doen�a, j� que acomete a maioria das mulheres. "O baby blues � benigno, porque, apesar de estar ligado �s adapta��es do p�s-parto na mulher, regride sozinho e n�o � necess�rio um tratamento."
Quando os sintomas continuam al�m disso, a mulher pode estar enfrentando um quadro depressivo, que afeta entre cerca de 15% a 20% das pu�rperas, informa a psiquiatra. A condi��o come�a em algum momento do primeiro ano p�s-parto e ocorre com mais frequ�ncia entre a quarta e a oitava semanas ap�s o parto. "� uma condi��o de profunda tristeza, desespero e falta de esperan�a, que pode acarretar algumas consequ�ncias ligadas ao v�nculo da m�e com o beb�, no aspecto afetivo. Sua principal causa tem a ver com o desequil�brio de horm�nios que ocorrem com o t�rmino da gravidez."
As depress�es acontecem por causa da queda brusca de horm�nios, que ocorre quando a placenta � expelida, esclarece a especialista. "Com a queda dos horm�nios, o organismo pode ter um aumento da enzima monoaminoxidase no c�rebro. Essa enzima quebra os neurotransmissores serotonina, dopamina e noradrenalina, que, al�m de respons�veis por transmitir os sinais entre as c�lulas nervosas, tamb�m influenciam o humor. Existem fatores biol�gicos envolvidos nas altera��es psiqui�tricas do p�s-parto, mas tamb�m h� fatores psicol�gicos e sociais importantes", refor�a.
Mulheres com hist�rico de depress�o t�m 50% mais chances de desenvolver a doen�a no per�odo p�s-parto. A gen�tica tamb�m gera predisposi��o. Problemas conjugais, falta de intera��o social e casos de viol�ncia dom�stica podem funcionar como gatilho. O diagn�stico passa pela observa��o de sinais como: humor deprimido, na maior parte do dia, diminui��o do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades, perda ou ganho de peso, ins�nia ou hipersonia, fadiga ou perda de energia, agita��o ou retardo psicomotor, pensamentos recorrentes de morte e dificuldade de concentra��o.
PODEM DURAR ANOS Os epis�dios de depress�o p�s-parto duram, em m�dia, de 3 a 6 meses, mas podem seguir por meses ou at� anos. Para esses quadros, Jaqueline esclarece que o tratamento � realizado com psicoterapia (a mais indicada � a terapia cognitiva comportamental) e/ou medicamentos. Os antidepressivos s�o recomendados para epis�dios mais intensos se a mulher recusar a psicoterapia, se esta for ineficaz ou se n�o estiver dispon�vel. "O encaminhamento psiqui�trico pode ser necess�rio para pacientes que n�o respondem ao tratamento psicoter�pico e necessitam de tratamento medicamentoso. Uma avalia��o psiqui�trica urgente � necess�ria se houver risco de a mulher causar danos a si mesma ou � crian�a", indica.
Por sua vez, a psicose puerperal � o transtorno psiqui�trico mais grave e menos frequente que pode acometer a m�e ap�s o nascimento do beb�. Nessas situa��es, as mulheres apresentam instabilidade emocional, confus�o mental, desconfian�a, nervosismo, del�rios, alucina��es, choro excessivo, estado de humor man�aco (pensar e falar extremamente r�pido) e desorganiza��o do comportamento, explica Jaqueline.
Pode ter rela��o com o transtorno bipolar e oscila entre a indiferen�a e a agress�o, entre outros sintomas. "A psicose puerperal em pacientes bipolares aumenta 100 vezes. A condi��o afeta milhares de mulheres a cada ano. Os graves epis�dios come�am dias ou semanas ap�s o parto e afetam humor, pensamento e comportamento da m�e", esclarece a psiquiatra.
Muitas vezes, a pu�rpera pode n�o ser capaz de reconhecer seu beb� como filho ou como um beb�. Considerada uma emerg�ncia m�dica, se n�o devidamente tratada a psicose puerperal pode levar ao suic�dio e/ou ao infantic�dio. N�o h� dados concretos sobre sua preval�ncia no Brasil, mas alguns estudos apontam que a incid�ncia dessa psicose seja de um caso em cada 1 mil partos.
"O tratamento em pacientes seriamente deprimidas, com ideias suicidas e quadros de catatonia (dificuldades motoras e mudan�as na reatividade ao ambiente que podem ocorrer na depress�o, esquizofrenia e transtorno bipolar) geralmente requer a interna��o hospitalar ou mesmo domiciliar, pelos riscos envolvidos � m�e e ao beb�."
*Para comentar, fa�a seu login ou assine