sexto mês de gravidez

Dayanne Andrade, de 34 anos, est� no sexto m�s de gravidez e, ao lado do marido, Andr� Gomes, mant�m um di�logo saud�vel sobre a chegada do beb�

T�lio Santos /EM/D.A Press


Por anos, foi preconizado que a maternidade � a melhor coisa que pode acontecer com uma mulher, que tudo vale a pena. Romantizar e idealizar a gravidez e o puerp�rio s�o tend�ncias culturais e sociais que dificultam o reconhecimento e a express�o de sentimentos negativos e, portanto, a busca por ajuda. � o que afirma a pediatra Claudia Drummond, da Sa�de no Lar, empresa especializada em home care. "O fato de emo��es negativas n�o serem socialmente sancionadas alimenta sentimentos como o de inseguran�a, e isola a mulher em sofrimento, o que pode afetar seriamente sua sa�de mental", aponta.
 
As m�es, continua Claudia, costumam receber avisos e conselhos sobre sua sa�de f�sica e do beb�, sobre o que a espera com o nascimento da crian�a, desde o que ela deve comer, sobre a amamenta��o, o futuro do filho, as quest�es financeiras – e tudo isso as torna mais vulner�veis. "De acordo com a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), momentos que alteram a vida, como gravidez, nascimento e paternidade precoce, podem ser estressantes para as mulheres e seus parceiros. Como resultado, as mulheres podem passar por um per�odo de sa�de mental debilitada ou sofrer um agravamento de condi��es preexistentes. Segundo a OMS, cerca de uma em cada cinco mulheres ter� um epis�dio de sa�de mental durante a gravidez ou no ano ap�s o nascimento do beb�", informa Claudia, ressaltando que sentimentos ruins, nesse per�odo da vida, acabam preenchendo um espa�o que deveria ser reservado para outras experi�ncias e mudan�as mais positivas, felizes e leves.
 
 
A melhor forma de preven��o, conforme Claudia, � ter uma boa rede de suporte social – familiares e amigos dispostos a acolher a mulher de maneira humanizada neste momento de tanta vulnerabilidade. S�o eles que v�o ajudar a m�e, seja escutando, perguntando no que podem ser �teis, desprendendo um tempo do dia para que a m�e consiga tirar um cochilo, comer e tomar banho, executando tarefas dom�sticas como arrumar a casa, fazer o almo�o ou jantar, sempre de acordo com o desejo da m�e.
 
� importante ouvir, respeitar os limites, tentar entender o que est� acontecendo. "Quando os sintomas s�o percebidos, tanto pela m�e quanto pela rede de apoio, � fundamental procurar ajuda m�dica pedi�trica, psiqui�trica e psicol�gica. Al�m disso, recorrer a atividades f�sicas e manter uma alimenta��o equilibrada, assim como participar de grupos de m�es com trocas de experi�ncias", ensina a pediatra.
 
 
Tamb�m existe a rede de apoio profissional, que pode, em casa,  trazer orienta��es sobre os cuidados b�sicos com rela��o � crian�a e � mulher, enquanto m�e, tanto f�sica quanto psicologicamente. 
 
Pediatra Claudia Drumond

A pediatra Claudia Drummond, da Sa�de no Lar, empresa especializada em home care, diz que romantizar e idealizar a gravidez e o puerp�rio s�o tend�ncias culturais e sociais que dificultam o reconhecimento e a express�o de sentimentos negativos e, portanto, a busca por ajuda

Arquivo Pessoal
S�o servi�os de home care, que podem acompanhar o ga-   nho de peso, o crescimento e desenvolvimento das habilidades do beb�, al�m de dar as orienta��es corretas com rela��o � vacina��o. Isso se estende � pediatra, equipe de enfermagem e cuidadores que prestam aux�lio com rela��o ao banho, sono, higiene, amamenta��o, coto umbilical, e ainda orienta��es gerais, como troca de fralda e mesmo ajuda com rela��o aos cuidados com os seios, informa Claudia. "Como a vida, tanto das m�es quanto dos pais, anda cada vez mais corrida, esse tipo de servi�o consegue minimizar o tempo gasto fora de casa e preza pelo conforto da crian�a, j� que tanto ela quanto os pais podem ser atendidos dentro do ambiente residencial."
 
Esse � mesmo um momento cercado de mudan�as e adapta��es, e isso acontece n�o s� com as m�es de primeira viagem, mas com aquelas que j� tiveram outra gravidez, refor�a a profissional. "Cada filho � �nico, e cada situa��o precisa de aten��o individualizada. Aquelas mulheres que est�o passando pela maternidade pela primeira vez est�o experimentando algo novo. Aquelas que j� t�m filhos est�o se adaptando � rotina de ser m�e de dois ou mais, por exemplo. Fato � que o per�odo requer acolhimento para que a m�e entenda que n�o est� sozinha e que pode compartilhar todos os seus sentimentos, independentemente de quais sejam", orienta.

UNIVERSO GESTA��O

A empreendedora em reeduca��o sexual e di�logos saud�veis Dayanne Andrade, de 34 anos, est� no sexto m�s de gravidez. Ela espera Akin chegar. Conta que, quando recebeu a boa-nova, foi pesquisar e buscar informa��es sobre a maternidade. Atua como consultora em sa�de e educa��o sexual e, se tornando m�e, adentrou um outro universo. Mas as buscas n�o duraram uma semana, ela lembra – mais atrapalharam do que ajudaram.
 
Quando entrou no "universo gesta��o", em suas palavras, pensou que encontraria boas fontes de informa��o, mas esse � um mundo de possibilidades, um mundo de "talvez seja assim ou talvez n�o". Para ela, um momento incerto e �nico para cada um. "As mulheres n�o t�m filtro e n�o medem palavras para julgar as outras. Eu vi cada coment�rio que me fez muito mal. Tamb�m fiquei imaginando o quanto aqueles coment�rios mexiam com as mam�es que estavam na primeira gesta��o, como eu. Por isso, minhas pesquisas iniciais acabaram. Parei de ler e tamb�m de ver opini�es de outras mulheres, como foi a gesta��o delas", constata.
 
Dayanne conta que ter profissionais qualificados ao seu lado foi importante para n�o ter crises emocionais. No entanto, no in�cio n�o foi f�cil. "Encontrei alguns m�dicos gordof�bicos e muito grosseiros, at� conhecer uma m�dica incr�vel, que conversa e entende que eu sou uma mulher maior, com os exames todos em ordem", diz.
 
Para tudo o que sentia, tudo o que achava diferente encontrava suporte com a m�dica, as amigas, tias, uma prima tamb�m m�dica e, principalmente, o marido. � uma gesta��o de risco, mas caminha muito bem. Dayanne tem consci�ncia de que a experi�ncia pode ser cruel e romantizada. "� muito ach�metro, muitas pessoas interferindo no que voc� est� vivendo", relata.
 
Particularmente, ter o marido ao lado, Andr� Gomes Pereira, de 37, � um aux�lio para manter a mente sadia neste momento, diz Dayanne. "Em casa, a melhor coisa que temos � o di�logo saud�vel. Me ajuda no trabalho, na vida pessoal e agora tamb�m na gesta��o. Ele � um grande apoio emocional e a gravidez tem ficado mais leve", relata. "� um momento muito louco. �s vezes pensamos coisas muito estranhas, que n�o fazem sentido, pensamentos que ficam incomodando. Ent�o, desabafar com quem n�o te julga � algo maravilhoso, e a rede de amigos e parentes � fundamental."
 
Mesmo com tudo em equil�brio, ela passou por crises emocionais, principalmente com quadros de ansiedade, por�m tudo j� controlado. Do ponto de vista f�sico, nenhum mal-estar, como enjoos ou v�mitos. "Para controlar a ansiedade, eu parei de buscar as informa��es, de ver v�deos de mam�es ou qualquer coisa sobre o assunto. Fa�o atividade f�sica todos os dias, muscula��o e aer�bico. A fisioterapia p�lvica tamb�m � um momento muito gostoso de amor comigo e com o nen�m.  Diferentemente das mulheres que via na internet, preocupadas com os quartinhos e o enxoval, estou preocupada com o meu f�sico e do meu filho, para correr tudo bem durante o parto."
 
Dayanne faz terapia h� muitos anos, e continua na gravidez. Ela espera que, assim que o rebento vier ao mundo, tem ainda muito para viver e aprender. "Cada m�e � �nica, n�o cabem compara��es neste momento. Parei de me cobrar sobre coisas que dava conta de fazer e agora n�o dou mais. Aceitei. E aceitei o fato de que estou gestando."
 
 
Palavra de especialista
 
Jaqueline Bifano,  psiquiatra
 
Aconselhamento precoce reduz incid�ncia de depress�o
 
“N�o existe um tratamento preventivo para os desequil�brios que podem acometer as mulheres na gravidez e ap�s o nascimento do beb�. Ainda assim, estudos comprovam que o aconselhamento precoce � capaz de reduzir em 39% a chance de a mulher ter depress�o durante a gesta��o ou depois.  Os m�dicos devem encaminhar para acompanhamento psicoter�pico as pacientes gr�vidas, ou no p�s-parto, que apresentem risco elevado de depress�o. Isso inclui, por exemplo, jovens mulheres de baixa renda, em uma gravidez indesejada, sem apoio familiar e social, com hist�rico de depress�o ou que estejam demonstrando sinais da doen�a. Tamb�m pode se criar um um "pr�-natal psicol�gico". Ele pode ser um trabalho de acompanhamento individual ou em grupo, direcionado especificamente para as quest�es ps�quicas ligadas � gravidez, ao parto e ao p�s-parto. Essa ajuda pode se estender ainda a postos de sa�de, auxiliando m�es de baixa renda. O reconhecimento do problema e o tratamento eficaz s�o essenciais. A depress�o p�s-parto e a psicose puerperal, quando n�o tratadas, causam um preju�zo substancial para a mulher, o que pode resultar em comprometimento comportamental, emocional e cognitivo para o beb�.”