Homem sendo vacinado

Homem sendo vacinado

Pedro Pardo

Passados 10 meses da infec��o por COVID-19, a imunidade natural � semelhante � de pessoas que tomaram duas doses das vacinas de mRNA. Por�m, os autores da maior an�lise, at� agora, a avaliar a dura��o da prote��o contra o Sars-CoV-2 destacam que a vacina��o ainda � a melhor abordagem, porque previne hospitaliza��o e doen�a grave, algo que o cont�gio, sozinho, n�o faz. Publicado na revista The Lancet, o artigo baseia-se em 65 estudos produzidos em 19 pa�ses, incluindo o Brasil, e se refere �s cepas original, alfa, delta e �micron - at� a subvariante BA.1.

O conjunto de informa��es analisado pela Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, avalia o n�vel de prote��o por desfecho (infec��o, doen�a sintom�tica e enfermidade grave) conforme a variante e o tempo desde o cont�gio. Os resultados mostram que uma pessoa que teve covid tem risco de hospitaliza��o ou morte at� 88% menor durante 10 meses caso seja novamente contaminada pelo Sars-CoV-2, em compara��o aos que jamais tiveram contato com o v�rus. Pessoas vacinadas foram exclu�das da an�lise.

Segundo os autores, desde janeiro de 2021, estudos e revis�es relataram a efic�cia da infec��o pr�via na redu��o de riscos de um novo cont�gio, al�m de acompanharem a diminui��o da imunidade. Por�m, eles afirmam que nenhuma pesquisa avaliou de forma abrangente o tempo de prote��o ap�s o contato natural com o v�rus, nem como isso ocorreu contra diferentes variantes.

A an�lise de 21 estudos sobre o tempo de prote��o desde a infec��o de uma variante pr�-�micron estimou que a imunidade natural foi de 85% durante um m�s, caindo para 79% em 10 meses, quando a estirpe dominante ainda era a delta. J� quando o paciente teve COVID antes da �micron, a reinfec��o contra a subvariante BA.1 dessa cepa foi menor: 74% em 30 dias e 36% em 10 meses.

Quanto ao desfecho de gravidade (hospitaliza��o e morte), 90% continuavam protegidos em 10 meses quando infectados pelas estirpes ancestral, alfa e delta. O �ndice foi semelhante para a �micron BA.1: 88%. Outros seis estudos que avaliaram especificamente as sublinhagens BA.2, BA.4 e BA.5 demonstraram uma redu��o significativa da imunidade quando o primeiro contato do paciente com o v�rus foi antes da emerg�ncia da �micron.

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"A imunidade de variante cruzada mais fraca com a �micron e suas sublinhagens reflete as muta��es que fazem o v�rus escapar da imunidade acumulada mais facilmente do que outras cepas", escreveu Hasan Nassereldine, um dos autores. "Os dados limitados que temos sobre a prote��o da imunidade natural da variante �micron e suas subvariantes ressaltam a import�ncia da avalia��o cont�nua, principalmente porque se estima que elas tenham infectado 46% da popula��o global entre novembro de 2021 e junho de 2022. Pesquisas adicionais tamb�m s�o necess�rias para avaliar a imunidade natural de variantes emergentes e a prote��o fornecida por combina��es de vacina��o e infec��o natural", complementou.

Mais riscos

Em um comunicado � imprensa, outros autores da pesquisa ressaltaram que os resultados do estudo n�o desencorajam a vacina��o, pois � a �nica maneira de proteger de morte e doen�a grave quem nunca teve contato com o v�rus. "A vacina��o � a maneira mais segura de adquirir imunidade. A prote��o natural deve ser ponderada, considerando os riscos de doen�a grave e morte associados � infec��o inicial", afirmou o principal autor, Stephen Lim, do Instituto de M�tricas e Avalia��o em Sa�de da Universidade de Washington.

"As vacinas continuam a ser importantes para todos, a fim de proteger as popula��es de alto risco, como aqueles com mais de 60 anos e os com comorbidades", disse a coautora Caroline Stein. "Isso tamb�m inclui popula��es que n�o foram infectadas anteriormente e grupos n�o vacinados, bem como aqueles que foram infectados ou receberam sua �ltima dose de vacina h� mais de seis meses. Os tomadores de decis�o devem considerar a imunidade natural e a situa��o de vacina��o para obter uma imagem completa do perfil de imunidade de um indiv�duo."

Paul Griffin, professor de doen�as infecciosas na Universidade de Queensland, na Austr�lia, que n�o participou do estudo, concorda com os colegas norte-americanos. "A diferen�a �bvia a ter em mente entre a prote��o da vacina��o e a fornecida pela infec��o � que a infec��o traz consigo o risco de doen�a, incluindo quadros graves, enquanto a vacina��o, n�o. Tamb�m � importante considerar que alguns dos desafios que enfrentamos com a longevidade da prote��o da vacina��o, como a diminui��o ao longo do tempo e a evas�o imunol�gica, tamb�m se aplicam �quela gerada pela infec��o", afirma.

Griffin destaca a import�ncia de se continuar monitorando a imunidade porque, segundo ele, "a situa��o da COVID-19 continua mudando em um ritmo r�pido". Embora considere o trabalho publicado na The Lancet o melhor, at� agora, a analisar a prote��o da infec��o natural, o m�dico ressalta que os dados referem-se at� a subvariante BA.1.

Os pesquisadores tamb�m observam algumas limita��es do estudo, alertando que o n�mero de artigos sobre as subvariantes da �micron s�o escassos. Al�m disso, afirmam que algumas informa��es, como a gravidade da infec��o anterior e as interna��es hospitalares, foram medidas de forma diferente ou estavam incompletas, o que pode influenciar a estimativa de prote��o.