Espermatozoides e �vulo
Esse m�todo de contracep��o ainda n�o existe, mas pode se tornar realidade ao considerar um estudo publicado na revista cient�fica Nature Communications. O caminho para isso acontecer, no entanto, � longo. E pode ser que n�o d� certo.
Na pesquisa, os cientistas investigaram uma subst�ncia que afeta a motilidade -isto �, a capacidade de o espermatozoide se locomover de forma espont�nea, "nadar". Como resultado da defici�ncia na locomo��o, ele n�o chega ao �vulo e, assim, n�o h� fecunda��o.
Matheus Groner, urologista especialista em reprodu��o humana e m�dico assistente do setor integrado de reprodu��o humana da Unifesp (Universidade Federal de S�o Paulo), afirma que � raro somente uma defici�ncia na motilidade causar a infertilidade natural. Ela, normalmente, est� associada a outros fatores, como baixa quantidade de espermatozoides.
Ainda assim, o m�dico reitera que a baixa capacidade de locomo��o dos gametas masculinos � um problema s�rio para quem deseja ter filhos. "A motilidade � important�ssima para ter uma gravidez natural", afirma Groner, que n�o faz parte do estudo.
A subst�ncia que faz com que o espermatozoide se movimente de forma adequada � a adenilil ciclase sol�vel. E o que o novo estudo prop�e � um medicamento que inibe sua a��o -sem ela, os espermatozoides n�o iniciam a procura pelo �vulo.
Os resultados foram positivos em dois meios utilizados na pesquisa: in vitro e com animais vivos.
No primeiro caso, com espermatozoides tanto de humanos como de ratos, os pesquisadores observaram a efic�cia da medica��o em um tubo de laborat�rio. "Viram que a a��o in vitro � efetiva. [O espermatozoide] para de mexer mesmo", explica Groner.
Depois disso, a pesquisa utilizou ratos vivos para observar o efeito do medicamento na pr�tica. A subst�ncia foi injetada nos animais, enquanto um segundo grupo n�o teve acesso � droga. Ent�o eles foram colocados para acasalar com as f�meas.
Os pesquisadores compararam os dois grupos para verificar a taxa de fecundidade entre eles. Tamb�m observaram o hor�rio em que ocorreu o acasalamento a partir da inje��o da subst�ncia. O objetivo era medir a efic�cia do rem�dio em rela��o ao tempo que se passava.
De 30 minutos at� 2 horas e meia depois da inje��o, nenhum dos ratos que estava com o medicamento em seu organismo foi f�rtil.
Enquanto isso, no outro grupo, cerca de 30% das f�meas foram fecundadas. A efic�cia do medicamento para esse intervalo foi de 100%.
Quando o per�odo era de at� 3 horas e meia a partir da inje��o, um dos ratos fecundou uma f�mea entre 45 acasalamentos. No grupo sem a subst�ncia, por sua vez, foram 11 fecunda��es. Nesse cen�rio, os pesquisadores consideraram que a efic�cia estava em torno de 91%.
O terceiro per�odo analisado no estudo compreendia de 1 a 9 horas depois da aplica��o do medicamento. A taxa de efic�cia continuou alta, mas baixou um pouco: foi 78%. Cerca de 9% dos acasalamentos entre ratos com o rem�dio resultaram em fecunda��es, enquanto no outro grupo a taxa foi de 41%.
O �ltimo per�odo analisado foi ap�s 24 horas da aplica��o. Nesse caso, basicamente n�o houve distin��o entre os dois grupos. Ou seja, o rem�dio n�o era mais eficaz, o que � um indicativo de que a droga n�o afeta a fertilidade do homem para sempre.
Groner afirma que os resultados s�o promissores. "� uma maneira de tentar mexer na concep��o masculina de uma forma que n�o tinha sido estudada."
Mesmo assim, ele chama aten��o para a necessidade de mais pesquisas, principalmente em humanos. Como o estudo ainda � experimental, com testes somente em ratos, pode ser que, ao chegar aos humanos, os resultados possam ser diferentes.
H�, ainda, quest�es de seguran�a. "Outras [pesquisas] j� tentaram estudar e come�aram exatamente como isso come�ou: foi tudo bem nos ratos, mas no humano provocou uma toxicidade no f�gado muito alta que n�o deu para utilizar, ou causou muito efeito colateral visual [...] que tamb�m n�o dava para utilizar", exemplificou o m�dico.
Um desses efeitos colaterais que podem ocorrer tem rela��o com o fato de a adenilil ciclase sol�vel possuir outras fun��es no organismo, como regula��o da press�o intraocular e dos sais nos rins. Ao inibir a subst�ncia para afetar a motilidade dos espermatozoides, pode acarretar problemas nessas outras regi�es do corpo humano.
O pr�prio estudo apontou que, de forma cr�nica, o medicamento esteve associado ao aparecimento de glaucoma -problema nos olhos relacionado � regula��o intracoular- e � forma��o de pedras nos rins. Como a ideia � utilizar o rem�dio apenas sob demanda, pode ser que condi��es como essas n�o sejam acarretadas pela droga. Ainda assim, esses s�o pontos que precisam ser investigados em humanos.
O fato de ser consumido sob demanda tamb�m traz um dilema. Ao mesmo tempo em que � interessante por n�o obrigar a ingest�o di�ria do rem�dio, acaba n�o sendo �til em situa��es em que n�o � poss�vel prever a concretiza��o da rela��o sexual.
A preven��o � gravidez com camisinha, por outro lado, n�o traz esse tipo de problema, uma vez que � usada somente no momento exato do sexo. Al�m disso, o preservativo � �til para prevenir ISTs (infec��es sexualmente transmiss�veis), algo que n�o � proporcionado pelo rem�dio, que apenas barra a capacidade de locomo��o dos espermatozoides.
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