Dist�rbios alimentares s�o definidos como condi��es comportamentais nos quais os h�bitos associados � comida sofrem altera��es, afetando a sa�de f�sica e mental
Patrick Fore/Unsplash
Uma em cada tr�s meninas e um em cada cinco meninos sofrem de dist�rbios alimentares globalmente. Ao todo, 22,36% das crian�as e dos adolescentes de 6 a 18 anos apresentam condi��es como anorexia, compuls�o alimentar e bulimia, entre outros, ou uma combina��o delas. As estat�sticas, consideradas preocupantes por especialistas, s�o de uma an�lise que avaliou 32 estudos de 16 pa�ses, publicada na revista Jama, da Associa��o M�dica Norte-Americana, e inclui dados de 63.181 participantes dos cinco continentes.
Dist�rbios alimentares s�o definidos como condi��es comportamentais nos quais os h�bitos associados � comida sofrem altera��es, afetando a sa�de f�sica e mental. Geralmente, ocorre em combina��o com outros transtornos psiqui�tricos, como depress�o e ansiedade. Fatores gen�ticos e ambientais tamb�m podem influenciar.
A pesquisa publicada na Jama baseia-se em um question�rio de triagem composto por cinco perguntas que, em vez de diagnosticar o dist�rbio, aponta a possibilidade de exist�ncia de algum transtorno alimentar. Segundo os autores, de institui��es da Espanha e do Reino Unido, essa � a ferramenta mais usada no mundo para investigar condi��es do tipo.
No artigo, os pesquisadores destacam que os n�meros oficiais sobre dist�rbios alimentares baseados no Manual Diagn�stico e Estat�stico de Transtornos Mentais (DSM) provavelmente est�o aqu�m da realidade. "Com base no DSM-5, a preval�ncia de transtornos alimentares em crian�as e adolescentes (11 a 19 anos) tem sido estabelecida entre 1,2% (meninos) e 5,7% (meninas), com incid�ncia crescente nas �ltimas d�cadas", dizem os autores, liderados por Jos� Francisco L�pes-Gil, do Centro de Pesquisa em Sa�de e Social da Universidade de Castilla-La Mancha, na Espanha.
IMC
"Como algumas crian�as e adolescentes com transtornos alimentares podem ocultar os principais sintomas da doen�a e retardar a busca por atendimento especializado devido a sentimentos de vergonha ou estigmatiza��o, � razo�vel considerar que os transtornos alimentares s�o subdiagnosticados e subtratados", diz o artigo. Na revis�o, os pesquisadores descobriram que os dist�rbios afetam 30% das meninas e 16,98% dos meninos, sendo que as estat�sticas aumentam com a idade e de acordo com �ndice de massa corporal (IMC) — quanto maior a medida, maior a incid�ncia.
"O estudo mostra que crian�as com um IMC mais alto aparentemente correm risco aumentado de desenvolver dist�rbios alimentares. � poss�vel que esses jovens tenham enfrentado discrimina��o ou estigma com base em seu peso por parte de pessoas importantes em suas vidas e, portanto, se envolvam em dist�rbios alimentares para tentar perder peso", acredita Gemma Sharp, l�der do Grupo de Pesquisa em Imagem Corporal e Dist�rbios Alimentares da Universidade de Monash, na Austr�lia, que n�o participou da pesquisa.
De acordo com os autores, o IMC maior associado � probabilidade elevada de transtorno alimentar � uma informa��o importante para familiares e profissionais de sa�de. "Jovens com excesso de peso s�o a popula��o que parece apresentar sintomas de transtorno alimentar com mais frequ�ncia. Embora a maioria dos adolescentes que desenvolve um transtorno alimentar n�o relate problemas pr�vios de excesso de peso, alguns adolescentes podem interpretar mal o que � uma alimenta��o saud�vel e se envolver em comportamentos n�o saud�veis (por exemplo, pular refei��es para gerar um d�ficit cal�rico), o que pode levar ao desenvolvimento de um dist�rbio alimentar", destacam.
Para Gemma Sharp, outra conclus�o importante do estudo � que ningu�m est� livre de sofrer da condi��o. "A descoberta de que as meninas s�o mais propensas a serem impactadas do que os meninos n�o � inesperada; no entanto, a propor��o de 17% em meninos n�o deve ser ignorada — qualquer pessoa de qualquer sexo pode ter dist�rbios alimentares", diz.
Autoestima
Na opini�o de Abigail Matthews, diretora do Programa de Dist�rbios Alimentares do Hospital da Crian�a de Cincinnati, nos Estados Unidos, as m�dias sociais podem estar colaborando para o aumento de casos de transtornos entre crian�as e jovens. "Infelizmente, � muito comum meus pacientes falarem sobre o impacto negativo das m�dias sociais na imagem corporal e na autoestima. Quando est�o nessas plataformas, eles s�o infiltrados com imagens de seus colegas que parecem ter 'tudo' — corpos perfeitos e vidas perfeitas. Como a maioria de n�s sabe, muitas imagens nas m�dias sociais s�o adulteradas com filtros e ferramentas de edi��o, ent�o os corpos retratados s�o irreais e inating�veis", relata.
Matthews conta que h� uma campanha em curso da Academia de Dist�rbios Alimentares dos Estados Unidos para que plataformas de redes sociais como Instagram e TikTok sejam mais respons�veis com o tema. "� luz de relat�rios recentes de que os algoritmos podem inundar r�pida e permanentemente as contas dos usu�rios com conte�do que promove alimenta��o desordenada e dieta extrema, escrevemos com um pedido urgente � lideran�a corporativa em plataformas de m�dia social como Facebook, Instagram e TikTok, para tomar medidas imediatas que modifiquem suas plataformas para acabar com esses danos."
Influ�ncia da pandemia
A pandemia de COVID-19 est� associada a um aumento de at� 15% nos transtornos alimentares em adultos e adolescentes, de acordo com diversos estudos. Mesmo ap�s o retorno � rotina, o problema continua. Uma pesquisa da Universidade de Massachusetts publicada em dezembro passado constatou que as admiss�es de pacientes internados com esses transtornos aumentaram 7% entre 2020 e 2021. “A pandemia foi um evento universalmente traumatizante para praticamente todo mundo e sabemos que, no contexto do trauma, os dist�rbios alimentares tendem a ser bastante comuns”, disse a principal autora, Sydney Hartman-Munick.
Aula extra de educa��o f�sica reduz obesidade
Aulas adicionais de educa��o f�sica para crian�as podem prevenir a obesidade infantil, segundo um estudo publicado na revista Obesity por pesquisadores eslovenos. Embora a pesquisa tenha avaliado a efic�cia do programa apenas sobre o peso corporal, os autores acreditam que a abordagem tamb�m pode melhorar a sa�de mental e o desempenho cognitivo dos alunos e sugerem que os resultados s�o importantes para a formula��o de pol�ticas p�blicas.
Embora os efeitos ben�ficos das atividades f�sicas na inf�ncia estejam bem documentados, a maioria das evid�ncias vem de pesquisas de curto prazo, afirmou, em nota, Maroje Sori, da Universidade de Zagreb, na Cro�cia, e coautora do estudo. Para avaliar o impacto em um cen�rio mais realista, os cientistas utilizaram dados do Estilo de Vida Saud�vel, uma interven��o nacional introduzida entre 2011 e 2018 em 216 escolas eslovenas com mais de 34 mil participantes.
Dura��o
O programa incluiu duas aulas a mais de educa��o f�sica para alunos da primeira � sexta s�rie, e tr�s adicionais da s�tima � nona s�rie. As crian�as tiveram o �ndice de massa corporal (IMC) medido antes e depois da interven��o e comparado ao de estudantes que n�o estavam no Estilo de Vida Saud�vel. Os resultados mostraram que o IMC foi menor no primeiro grupo, independentemente do tempo de participa��o ou do peso inicial.
A diferen�a no IMC aumentou com a dura��o do programa, com efeitos m�ximos observados ap�s tr�s a quatro anos, e foi consistentemente maior para crian�as com obesidade. O programa come�ou a se tornar eficaz na revers�o do excesso de peso depois de 36 meses. "Nossos resultados mostram a import�ncia de programas de atividade f�sica sustent�veis e duradouros estabelecidos nas escolas para a sa�de das crian�as, tanto em n�vel individual quanto populacional", disse Maroje Sori.
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