Imagem mostra criança com fita métrica enrolada na cintura

No Brasil, o Minist�rio da Sa�de estima que 6,4 milh�es de crian�as t�m excesso de peso

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Nos Estados Unidos, novas diretrizes sobre como os pediatras devem tratar a obesidade infantil foram recebidas com algumas cr�ticas. A recomenda��o da Academia Americana de Pediatria inclui a previs�o de medicamentos para perda de peso, al�m de cirurgia para adolescentes. No entanto, alguns temem que essa abordagem venha em detrimento da promo��o de um estilo de vida saud�vel e ativo.

Uma em cada cinco crian�as � obesa nos Estados Unidos. Os m�dicos argumentam que o tratamento precoce � necess�rio para prevenir doen�as ao longo da vida, como diabetes.

Tracy e sua filha de 14 anos, Jaelynn, moram em um complexo residencial cercado por rodovias e alguns trechos de grama verde em um sub�rbio de Washington.

Tracy est� chateada - ela acaba de receber a not�cia de que a escola de Jaelynn est� eliminando a aula de educa��o f�sica e substituindo-a por uma mat�ria sobre sa�de dada em sala de aula.

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Ela est� preocupada porque a filha j� n�o tem muita chance de se movimentar e se socializar com os colegas. Ela acha que a nova disciplina tornar� isso ainda mais dif�cil.

Jaelynn disse que no ano passado ela participou de um acampamento de ver�o organizado pela YMCA, onde fazia viagens de campo durante o dia e passava muito tempo ao ar livre.

"Foi muito divertido", diz ela. "Eu me senti melhor, mais saud�vel e adorei fazer amigos."

Jaelynn sofre de doen�a renal desde crian�a, e seu excesso de peso afeta negativamente sua condi��o. Mas sua m�e diz, que durante o ver�o, as coisas come�aram a melhorar.


"Ela perdeu cinco quilos em tr�s meses", diz Tracy. "O nefrologista ficou realmente impressionado com o fato de ela poder perder tanto e t�o rapidamente. A sa�de e a confian�a dela melhoraram tamb�m."


Essa mudan�a, Tracy me conta, mostrou a ela como era importante para a filha fazer atividades ao ar livre.


Foto mostra menino segurando um hambúrguer e um pacote de batatas fritas

Acesso a alimentos ultraprocessados � maior do que a alimentos saud�veis nos EUA

Marcello Casal Jr. / Ag�ncia Brasil

Interven��o precoce

Durante anos, os m�dicos promoveram um estilo de vida saud�vel como a melhor forma de combater a obesidade infantil. Mas, nas �ltimas semanas, o debate sobre essa quest�o foi reacendido porque a Academia Americana de Pediatria emitiu novas diretrizes pela primeira vez em 15 anos.


As novas diretrizes dizem que a alimenta��o saud�vel e a pr�tica de exerc�cios nem sempre s�o o suficiente. "O tratamento m�dico e a preven��o precisam andar de m�os dadas", diz a pediatra Nazrat Mirza, que � uma autora das diretrizes.

"A obesidade � uma condi��o m�dica cr�nica e, al�m de mudan�as saud�veis no estilo de vida, mostramos que a medica��o funciona e a cirurgia tamb�m funciona".

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Mirza diz que as diretrizes querem quebrar as barreiras que as pessoas com obesidade enfrentam - como ouvir que � uma "quest�o de for�a de vontade" - e tornar os tratamentos m�dicos prontamente dispon�veis, como s�o para qualquer outra condi��o.

"Assim como a asma, assim como a hipertens�o", diz ela. "Na hipertens�o, voc� diria a algu�m para cortar o sal, mas se a press�o ainda estiver alta, voc� vai dar rem�dios."

Quest�es sociais que afetam a obesidade

Alguns m�dicos, no entanto, est�o preocupados com a �nfase na interven��o precoce intensiva. A m�dica Katy Miller trabalha com adolescentes afetados por dist�rbios alimentares e teme que essas diretrizes possam estar "preparando as crian�as para um relacionamento complicado com seus corpos".

"Estamos propondo estrat�gias de tratamento que s�o caras e, mesmo nas melhores circunst�ncias, muitas vezes n�o s�o bem-sucedidas", diz ela.

Ela acha que o foco deveria ser mais nos fatores sociais que afetam a obesidade infantil. "Como podemos pedir a algu�m que fa�a dieta quando n�o estamos tratando de quest�es como pobreza, escassez de alimentos saud�veis e instabilidade habitacional?"

"Tive um paciente de 15 anos que foi instru�do pelos m�dicos a perder peso", acrescenta ela, "e sua fam�lia vive em extrema pobreza. Eles tiveram uma melhora em suas circunst�ncias financeiras e ele me disse ' voc� sabe qual � a melhor parte de ter dinheiro? Voc� pode comprar frutas que n�o est�o mofadas'".

'Cirurgia e medica��o devem ser o �ltimo recurso'


Uma mulher de cabelo preto dá frutas para uma criança

Julia Guevara conseguiu mudar os h�bitos alimentares em sua casa

BBC

Julia, que � m�e de tr�s filhos, acabou de terminar um grupo de apoio de um ano sobre culin�ria saud�vel organizado pela YMCA.

"Sou eu quem cozinho em casa", ela diz com orgulho, "portanto, se eu cozinhar comida saud�vel, minha fam�lia fica saud�vel".

Ela foi encaminhada ao programa porque havia sido diagnosticada com colesterol alto e pr�-diabetes durante a gravidez. Seu filho adolescente, ela conta, estava come�ando a ter problemas de sa�de tamb�m, e isso a motivou.

Enquanto ela corta algumas frutas para os filhos, conta o que acha das novas diretrizes. "Como m�e, primeiro tentaria mudar a comida que comemos e levar meus filhos a praticar esportes", diz ela.

"Em nosso pa�s, as crian�as n�o t�m muitas oportunidades de se exercitar, as escolas n�o t�m programas esportivos suficientes. S� se eu tivesse tentado de tudo, poderia considerar rem�dios."


No lado oposto da cidade, Tracy concorda. "Cirurgia e medica��o devem ser o �ltimo recurso", diz ela.


-Este texto foi originalmente publicado em
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-64448859