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Estado de Minas SA�DE

Transtornos alimentares: rela��o deturpada com a comida e o espelho

Especialistas alertam para os riscos dos dist�rbios e destacam a import�ncia de tratamentos adequados e da n�o problematiza��o do transtorno


02/06/2021 14:00 - atualizado 02/06/2021 14:42

(foto: Evelina Zachariou/Wikimedia Commons)

Mudan�as no padr�o alimentar, rela��o confusa com a comida e sentimento de n�o aceita��o para com o corpo s�o alguns sinais bem caracter�sticos que indicam que algo n�o vai bem com a mente do ser humano no que diz respeito � alimenta��o.

Trata-se de um quadro de transtorno alimentar (TA), dist�rbio emocional em que a pessoa apresenta altera��o na forma como lida com a comida e, tamb�m, consigo mesmo e o seu eu frente ao espelho.  

Nesta quarta-feira (2/6), comemora-se o Dia Mundial de Conscientiza��o sobre os Transtornos Alimentares. E, por isso, especialistas destacam a import�ncia de se falar sobre esses dist�rbios, uma vez que as consequ�ncias podem ser graves, como limita��o de atividades e at� �bito.

Para a psiquiatra Maria Francisca Mauro, inclusive, a data n�o � sobre problematizar o que comer, mas alertar aos que sofrem com algum transtorno que isso n�o precisa ser um segredo.

“Informar e conscientizar n�o criam problemas, mas possibilitam que esses gatilhos emocionais n�o sejam escondidos ou que barreiras o impe�a de obter autoconhecimento e tratamento. Nestes quadros, ocorre uma perturba��o na rela��o do indiv�duo com a comida, ou seja, ele come muito pouco ou come de forma descontrolada, e tamb�m na forma como percebe seu corpo, achando que est� ‘inadequado’, o que torna ‘pior’ quando comparado a outras pessoas", diz.

Para al�m de uma perspectiva cultural em busca da magreza, pessoas com esses quadros t�m preju�zos para estudar, trabalhar e se relacionar. "Portanto, n�o se trata de ‘uma vontade’ ou ‘fase’, mas sim de um transtorno que precisa ser tratado.” 

Segundo ela, as principais causas para que um quadro de transtorno alimentar se instale na vida de um indiv�duo s�o ambientais – influ�ncia da fam�lia e cultura, gen�tica e caracter�sticas do indiv�duo, perfeccionismo, baixa autoestima e susceptibilidade a press�es externas. Portanto, esses dist�rbios s�o tanto biol�gicos quanto das circunst�ncias que cercam aquela pessoa. 

“Por exemplo, pais extremamente preocupados quanto a apar�ncia e alimenta��o podem impor uma alimenta��o muito r�gida aos filhos e voltada para serem ‘magros’. Assim, a pessoa cresce acreditando que seu ‘valor’ est� na apar�ncia, para al�m do que sente ou �. Dessa forma, podem, ap�s uma ‘dieta’, encontrar uma forma de obterem ‘sucesso’ e serem reconhecidos pela ‘for�a de vontade’. O que pode at� ser refor�ado na fam�lia como uma capacidade de ser determinado”, comenta. 

Assim sendo, Maria Francisca Mauro ressalta que os que s�o mais vulner�veis a desenvolver transtornos alimentares assumem essa obten��o de ‘sucesso’ pelo emagrecimento como fator motivador da vida, uma verdadeira obsess�o pelo corpo e peso determinado.

“Algo que passa a valer qualquer pre�o. A partir disso, h� consequ�ncias, que se d�o de acordo com o n�vel de adoecimento da pessoa, como intensidade da alimenta��o – comer muito pouco ou de maneira descontrolada – e a forma como se sente perante essa mudan�a.” 

“Poder� ocorrer uma variedade de desdobramentos, desde um gradativo de deixar de ir � praia, piscina ou algo que sinta que vai expor seu corpo, ou mesmo, perder o controle para comer at� algumas perdas de momentos importantes. Ainda, pode se ter um limite de inani��o completa em que a pessoa pode chegar a morrer por se negar a comer. Importante entendermos que as nuances dependem da invas�o que a doen�a toma na vida daquela pessoa”, pontua a especialista. 
 
Maria Francisca Mauro, psiquiatra
Maria Francisca Mauro, psiquiatra (foto: Datz Comunica��o/Divulga��o)
 

Nesse cen�rio, Maria Francisco Mauro destaca a import�ncia de se haver o reconhecimento da doen�a para a inser��o de um tratamento adequado e eficaz o quanto antes, a fim de evitar danos graves. Segundo ela, � importante destacar que os principais diagn�sticos alimentares s�o os quadros de anorexia, bulimia nervosa e o transtorno de compuls�o alimentar. Por�m, h� uma dezena de transtornos alimentares capazes de interferir, e muito na vida do portador da condi��o. Entenda: 

Anorexia: � uma restri��o de comida intensa, em que a pessoa come cada vez menos e se sente cada vez mais “forte” por conseguir deixar de comer. O peso entra em uma faixa de risco menor que o m�nimo do �ndice de massa corporal (IMC) saud�vel de 18 Kg/m2. De acordo com essa faixa de peso corporal, a anorexia pode ser classificada quanto a sua gravidade.

No entanto, para al�m do peso precisa ser avaliado todo o contexto emocional e f�sico dessas pessoas. Esse dist�rbio pode ter in�cio em uma “dieta” mais pesada ou em algum problema na vida daquela pessoa em que ela “focou” no seu controle de peso para se manter “bem”. Precisa-se observar como era o funcionamento anterior e como o adoecimento alimentar impactou na sua vida. 

Bulimia nervosa: � um quadro que envolve descontrole com a comida e epis�dios de compuls�o alimentar, que podem ser com uma grande quantidade de comida ou mesmo em pequena propor��o. Associado a estes epis�dios, a pessoa desenvolve comportamentos para “compensar” o que comeu. Assim, a pessoa pode passar a jejuar, vomitar, mastigar e jogar fora o que comeu e realizar exerc�cios e inserir o uso de medicamentos para poder “n�o ganhar aquele peso do descontrole” na rotina.

A bulimia nervosa pode ser causada por uma “press�o para emagrecer”, pelo ato de condena��o familiar pelo n�o emagrecimento, pelo ambiente de press�o por corpo e forma f�sica e o h�bito de realizar dietas. 

Transtorno de compuls�o alimentar: as pessoas que sofrem com esse transtorno comem em excesso e em grande quantidade, assim como no quadro de bulimia, mas n�o realizam nenhum comportamento compensat�rio posterior � compuls�o alimentar. Grande parte procura tratamentos para emagrecer, t�m um peso superior do que as pessoas com bulimia e seu desconforto com o corpo n�o � t�o intenso. 

Transtorno purgativo: caracteriza-se por altera��es do comportamento relacionadas a “compensar” o que foi ingerido. Nele, ocorre uma busca constante por tentar eliminar o que n�o conseguiu restringir ao comer. Neste quadro, a pessoa pode fazer uso de medicamentos para perder peso, ter epis�dios de v�mitos, praticar exerc�cio f�sico em exagero ou alguma forma obsessiva que prejudica a sua rotina e cause sofrimento.  

S�ndrome do comer noturno: neste quadro alimentar, a pessoa chega a ingerir em torno de 75% da sua ingest�o cal�rica no per�odo da noite. H� relatos de pessoas que ao longo do dia n�o t�m fome, mas quando chega determinada hora da noite h� uma necessidade de comer constante, de forma exagerada. N�o h� epis�dios de compuls�o alimentar. Verifica-se dentro dos sintomas emocionais associados � depress�o, baixa qualidade de sono e uma dificuldade para regularizar suas refei��es ao longo do dia. 

Conforme a psiquiatra, h�, tamb�m, alguns outros transtornos, n�o t�o comuns, que ainda n�o s�o considerados como diagn�sticos. Confira:  

Adi��o por comida: “Algumas pessoas se dizem ‘viciadas em comida’, como se tivessem uma busca ‘cega’ por alimentos, sem limites, e sem poder viver sem determinado tipo de comida. Elas afirmam que n�o conseguem se controlar mediante alguns grupos de alimentos, quando n�o t�m acesso a eles ficam irritadas ou mesmo sentem-se mal emocionalmente. Na cl�nica e cientificamente, a adi��o por comida ainda est� sendo mais bem investigada para que possa se delimitar se ela � consequ�ncia de um comportamento secund�rio a outro diagn�stico alimentar ou outro quadro psiqui�trico, como a depress�o”, explica. 

Ortorexia: “A ortorexia � um termo grego que remete a um ‘comer correto’. Neste quadro alimentar, pode ocorrer um foco demasiado da pessoa em somente se alimentar de determinados alimentos, os quais acredita que s�o saud�veis. Entretanto, esta rigidez pode determinar uma verdadeira obsess�o por comer daquela forma e dentro daquela cren�a. Ainda � um termo que tem controv�rsias dentro do meio acad�mico, no entanto, cada vez mais � usado para configurar este tipo de comportamento alimentar.” 

Beliscamento: “Consiste em comer de forma distra�da pequenas por��es fora das refei��es planejadas ou dos lanches, com ou sem descontrole alimentar. Este interesse se deve pelo aumento das cirurgias bari�tricas ao redor do mundo e o impacto que este comer pode ter em um retorno de peso p�s-cir�rgico. Alguns estudos v�m delineando que, para al�m de um aumento de peso, este comportamento tamb�m pode ser um marcador de ‘mais algum’ sofrimento emocional, como a depress�o ou ansiedade”, diz. 

Vigorexia: “Reporta-se a um comportamento obstinado por uma busca de um corpo atl�tico, em que este se torna uma obsess�o e limita outros interesses da vida daquela pessoa. � usado para enquadrar pessoas que, al�m dos benef�cios da sa�de do exerc�cio, passam a realiz�-lo de forma obsessiva, principalmente a muscula��o e uso de ‘medicamentos associados’, em busca do que acreditam ser o corpo perfeito. H� casos que chegam a colocar a sa�de em risco para obter resultados que acreditam que os tornar� mais felizes.” 

Drunkorexia: “Esse termo � utilizado para caracterizar um comportamento alimentar restritivo, em que a pessoa restringe o que vai comer para poder utilizar suas calorias permitidas para o consumo de �lcool. Consequentemente, fica exposta a maiores riscos, como a embriaguez e um uso nocivo do �lcool. Comportamento muito comum entre jovens com anorexia ou bulimia, em que passam a n�o comer para beber. N�o constitui um diagn�stico isolado, mas pode ser agravante em comportamentos de risco destes quadros alimentares.” 

Fatorexia: “Esse termo � utilizado para enquadrar de forma leiga algumas pessoas que t�m obesidade, mas n�o conseguem perceber seu tamanho corporal dentro da sua propor��o real. Tem-se uma corrente de pessoas que relatam que seria o inverso da ‘anorexia’, mas o relatado por quem passa por esse transtorno � que somente em algum momento voc� percebe que est� com um tamanho maior. Para poder avan�ar como uma categoria, ou agrupamento de pessoas que possivelmente sofrem com esta quest�o, precisa-se descrever melhor o que sofreriam e o que teriam sofrido de preju�zos. Ainda muito controverso”, comenta. 

CURA E PREVEN��O 


A d�vida que fica �: afinal, h� cura? Ou seja, � poss�vel se ver livre do transtorno alimentar? A resposta � sim, conforme a psic�loga Fabiane de Faria. “� poss�vel, mas mesmo assim o paciente deve estar sempre alerta para que esses padr�es de comportamentos n�o retornem caso aconte�a algum fator externo na sua vida. Por exemplo, a pessoa est� vivendo de forma saud�vel ap�s o tratamento, mas a m�e ou pai morrem. O paciente se sente muito nervoso, desamparado e come�a novamente a ter padr�es compensat�rios da emo��o na comida.” 

“A manuten��o � sempre mais f�cil quando o paciente est� confort�vel, mas quando existe alguma crise na sua vida, ele deve se manter em alerta para n�o retomar comportamentos que seriam um gatilho para o transtorno”, afirma. 
 
(foto: Datz Comunica��o/Divulga��o)

Est� tudo bem fazer uma dieta, mas quando voc� n�o consegue flexibilizar e, por exemplo, falta no anivers�rio de uma amiga, � hora de procurar ajuda. Sempre que os comportamentos forem limitadores, estamos precisando de ajuda. Tamb�m � importante escutar as pessoas a nossa volta. Afinal, se todo mundo te fala o contr�rio do que voc� est� achando sobre seu corpo, porque s� voc� estaria certo?

Fabiane de Faria, psic�loga

 

Nesse cen�rio, o atendimento m�dico � de suma import�ncia, segundo a psic�loga. Isso porque � o psiquiatra o principal respons�vel pelo diagn�stico do transtorno – normalmente feito com base em relatos e em exames f�sicos e ps�quicos do paciente.

Al�m disso, � o especialista mental que ir� ditar o melhor tratamento e ajudar no controle emocional. Fabiane de Faria, inclusive, recomenda que a pessoa busque ajuda sempre que perceber pensamentos desajustados em rela��o a imagem corporal e padr�o alimentar. 

“Est� tudo bem fazer uma dieta, mas quando voc� n�o consegue flexibilizar e, por exemplo, falta no anivers�rio de uma amiga, � hora de procurar ajuda. Sempre que os comportamentos forem limitadores, estamos precisando de ajuda. Tamb�m � importante escutar as pessoas a nossa volta. Afinal, se todo mundo te fala o contr�rio do que voc� est� achando sobre seu corpo, porque s� voc� estaria certo?”, diz. 

A psic�loga destaca, ainda, a import�ncia de buscar uma rela��o saud�vel com corpo desde sempre, a fim de evitar o aparecimento dos transtornos. “A preven��o acontece de forma natural, quando temos uma rela��o saud�vel com nossa vida alimentar. Nossa alimenta��o e nosso corpo � mais uma parcela da nossa vida, junto com outras coisas, como profiss�o, vida familiar, entre outros. Dessa forma, o nosso comportamento e pensamentos n�o devem ser centralizados no nosso corpo ou na nossa alimenta��o.” 

*Estagi�ria sob a supervis�o da editora Teresa Caram 


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