Ilustração mostra mãos enlaçando a cabeça de outra pessoa

Ilustra��o mostra m�os enla�ando a cabe�a de outra pessoa

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A viol�ncia psicol�gica envolve a manipula��o, tentativas de assustar uma pessoa e o uso frequente e deliberado de palavras ou a��es n�o f�sicas que fragilizam outra pessoa emocionalmente, segundo defini��o da SaveLives, uma organiza��o com sede no Reino Unido dedicada a combater esse tipo de abuso.


As consequ�ncias do abuso psicol�gico s�o t�o graves quanto as de abusos f�sicos e pode causar problemas na sa�de, como depress�o, ansiedade, �lceras estomacais, palpita��es card�acas, dist�rbios alimentares e ins�nia, segundo o Servi�o Nacional de Sa�de do Reino Unido (NHS, na sigla em ingl�s).


Neste texto, vamos focar na viol�ncia psicol�gica em relacionamentos amorosos.


Pode ser que o agressor n�o valorize as conquistas do parceiro, fa�a coment�rios ou piadas humilhantes, invalide suas emo��es ou o culpe por situa��es pelas quais n�o � respons�vel. H� muitas facetas e formas, mas em geral h� um conjunto de a��es que ocorrem ao longo tempo — n�o � apenas uma conduta pontual.




“Esta viol�ncia � caracterizada por sua sutileza, e os sintomas costumam ser mais mascarados”, explica Silvia Vidal, psic�loga e criadora da @queridaneurona, conta no Instagram que nasceu durante a pandemia.

 

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Devido �s suas caracter�sticas pecualiares, a viol�ncia psicol�gica � dif�cil de ser identificada tanto pela pessoa que sofre quanto pelas pessoas que convivem com ela.

 

Conversamos com psic�logas e listamos abaixo sinais deste tipo de abuso.

1. Perda da 'ess�ncia'

O primeiro cuidado � observar se houve uma mudan�a de padr�o entre o que a pessoa era e o que ela � agora. Resumindo, observe se ela perdeu sua "ess�ncia".

Isso inclui mudan�as em como voc� a percebe fisicamente, como voc� se relaciona com ela e como voc� a v� emocionalmente. Ela pode ter parado de fazer certos hobbies, n�o se veste da mesma forma ou mudou detalhes que antes eram importantes.

Por tr�s de portas fechadas, essa pessoa pode estar em constante tens�o pelo que pode ou n�o pode dizer, pode ter que conter as l�grimas para evitar que seu parceiro diga que est� exagerando ou evita fazer certas coisas para que o outro n�o fique com raiva.

E isso n�o � nada normal.

“Em um relacionamento, voc� precisa ter tranquilidade e n�o precisa esconder as coisas”, diz Vidal.


Três amigas sorrindo e abraçadas caminhando na rua

Mudan�as repentinas no comportamento s�o sinal de alerta

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2. Distanciamento e controle

Novamente, trata-se de observar se h� uma mudan�a de padr�o. Por exemplo, se a pessoa que voc� suspeita estar sendo abusada agora mal tem tempo para amigos ou fam�lia, ou mesmo para falar ao telefone como antes, isso pode ser um sinal.

� importante distinguir em que ponto da rela��o isso ocorre. O isolamento por abuso n�o � o mesmo que pode ocorrer no in�cio de um relacionamento, quando voc� n�o quer ficar com mais ningu�m al�m do novo parceiro e, lembra Vidal, “est� naquele momento de paix�o que costuma acabar”.

A face oculta desse distanciamento costuma ser o controle por parte do agressor por saber o que a v�tima faz, com quem e onde. Isso isolar� a v�tima de familiares e amigos. Como o agressor faz isso? Por exemplo, falando mal deles de forma sutil e prolongada ao longo do tempo.

Se a pessoa que voc� suspeita estar sofrendo abuso psicol�gico mantiver contato com voc�, talvez seja poss�vel captar vislumbres desse controle. Pode ser que ela envie constantemente fotos ou a localiza��o para o agressor ou pe�a para voc� ficar escondido.

3. O que contam e como contam

Um fator importante � que as v�timas costumam contar pouco ou nada sobre o relacionamento, o parceiro e o que ele faz.

"Quem sofre o abuso tenta fazer com que o agressor n�o pare�a uma pessoa m�, evitando que as pessoas vejam o que acontece", explica Vidal.

E, se a v�tima contar algo, pode ser que busque justificar as a��es do agressor.

“Ele fez isso comigo porque eu merecia”, “sou uma pessoa ruim, eu mere�o”, “exijo demais dele”, podem ser algumas frases de justificativa.

Essas falas revelam uma faceta do abuso: a culpa sentida pela pessoa violentada.

"Essa emo��o nos diz muitas coisas e, nesse tipo de relacionamento, � um sinal de que algo est� errado porque em um relacionamento n�o deve haver culpados. Pergunte a si mesmo se voc� � sempre, no relacionamento, aquele que se sente culpado. Se for o caso, verifique o que est� acontecendo", diz Vidal.

4. Depend�ncia emocional e d�vidas

Com a pessoa que sofre abuso psicol�gico, existe um apego ao agressor que se estende em intensidade e dura��o al�m do que � habitual nos primeiros meses de namoro, e � diferente da depend�ncia saud�vel que existe nas intera��es humanas.

Vendo de fora, isso se reflete com a perda da autonomia: a v�tima n�o tem controle sobre seus pr�prios hor�rios e depende do agressor para tomar decis�es.

Podemos perceber tamb�m que a pessoa violentada duvida de tudo e demonstra inseguran�a. Isso, junto com a depend�ncia emocional, � fruto da constante manipula��o a que ela est� sendo submetida.

“H� uma perda brutal do poder e de toda a capacidade de discernir o que � real do que n�o �, o que sou e o que n�o sou", diz a psic�loga Sandra Ferrer, fundadora do @programamia, um empreendimento online de psicologia para mulheres.


Homem mais velho olhando para homem jovem; ambos estão em uma sala e têm o ar preocupado

Ou�a sem julgamentos a pessoa que sofre abuso psicol�gico. Aproveite a abertura para gerar conex�o e confian�a

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5. Como se comporta quando est� com o parceiro

� poss�vel que o c�rculo social da v�tima tenha pouco contato com o abusador, mas, se houver, � importante saber que pessoas que exercem a viol�ncia psicol�gica tendem a ter perfis narcisistas, segundo Vidal.

"Mas o abuso quase nunca � detectado [nesses encontros]. Pode ser que apare�am algumas escorregadas, como um olhar muito fixo para a v�tima ou ordens para que se cale", diz a psic�loga.

Tanto ela quanto Ferrer aconselham observar como a v�tima se comporta nessas ocasi�es.

“D� a sensa��o de que essa pessoa n�o � quem � ao lado da pessoa que a est� violentando. Voc� n�o a reconhece, n�o percebe sua faceta espont�nea, livre e fluida”, diz Ferrer.

A isto, Vidal acrescenta que as v�timas, sobretudo quando est�o com o seu agressor, “n�o tomam a iniciativa, n�o opinam, calam-se e concordam”.

O que fazer e o que n�o fazer nessas situa��es


  • Tanto Silvia Vidal quanto Sandra Ferrer recomendam n�o aconselhar logo que a v�tima saia do relacionamento, um conselho muito comum no in�cio do processo. Esse deve ser, na verdade, um dos �ltimos passos, segundo elas. “Temos que entender que a pessoa est� sob manipula��o da qual n�o tem conhecimento e que, portanto, n�o tem motivos para deixar o parceiro. E, al�m disso, provavelmente vai se afastar e n�o contar mais nada sobre o que est� acontecendo com ela", diz Vidal.
  • Pergunte e ou�a: Parece �bvio, mas nem sempre � algo feito. Pergunte como a pessoa est� e deixe que fale. Ou�a ativamente, sem tentar dar solu��es para n�o perder a conex�o e a confian�a que aquela pessoa deposita em voc�.
  • N�o julgue, repreenda ou diga o que fazer: Dizer coisas do tipo "como voc� pode aguentar isso", "voc� tem que deixar o relacionamento" ou "por que voc� voltou com tal pessoa" traz mais culpa para a v�tima. Essas pessoas est�o sujeitas a julgamentos constantes — pr�prios e dos parceiros — e, se voc� se tornar mais um carrasco, elas se afastar�o. Em vez disso, voc� pode dizer como ajud�-la e apoi�-la incondicionalmente.
  • N�o desqualifique o parceiro dessa pessoa: No final, � com quem ela est�, em quem ela est� ligada. Isso s� vai for��-la a se justificar mais e aumentar a probabilidade que ela n�o te conte mais nada. Ela pode at� contar sua opini�o para o agressor, o que � mais um est�mulo para que se afaste.
  • Respeite seu ritmo: � preciso ser muito paciente com amigos que est�o em relacionamentos abusivos. Pode ser que, a partir do momento que os abusos comecem a ser detectados, eles s� deixem essas rela��es depois de um m�s ou de muitos anos. Respeite o tempo dessa decis�o e fique ao lado do seu amigo.
  • Ajude com informa��es: Em vez de verbalizar acusa��es e julgamentos, encaminhe textos, falas de especialistas no assunto ou um livro que voc� sinta que pode ajudar a v�tima. N�o apresente apenas informa��es sobre abusos, mas tamb�m hist�rias de supera��o, que a fa�am enxergar uma luz no fim do t�nel.
  • E, embora seja cansativo e voc� sinta que a v�tima est� te ignorando, n�o deixe essa pessoa sozinha. � essencial ter paci�ncia e acompanh�-la.