Charles Swanton

l�der da pesquisa, Charles Swanton, do Instituto Francis Crick, em Londres.

Charles Swanton

Evitar que as c�lulas doentes cres�am e se infiltrem em outros �rg�os � a chave do sucesso do tratamento de c�ncer. Por�m, ainda n�o � poss�vel prever se isso vai acontecer. Agora, de acordo com pesquisadores da Inglaterra, a ci�ncia est� mais pr�xima de rastrear, com um exame de sangue, o risco de recorr�ncia e espalhamento do tumor. Assim, os m�dicos poderiam desenvolver, a tempo, estrat�gias para evitar a met�stase, principal causa das mortes pela doen�a em todo o mundo.

Em uma s�rie de sete artigos publicados, ontem, nas revistas Nature e Nature Medicine, os cientistas descrevem como altera��es no DNA das c�lulas cancer�genas permitem antecipar o comportamento dessas estruturas. Isso inclui saber quando e onde podem ocorrer as met�stases. Al�m de adaptar o tratamento em tempo real para evitar que o c�ncer atinja outras partes do corpo, os m�dicos teriam a oportunidade de avaliar melhor o risco de retorno da doen�a depois da cirurgia de retirada do tumor.

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A pesquisa que deu origem aos artigos foi realizada em pacientes com c�ncer de pulm�o, mas os cientistas afirmam que as descobertas, fruto de nove anos de trabalho, podem ser aplicadas a outros tumores, como de pele ou rim. Esse � o primeiro estudo de longo prazo que avalia a evolu��o da doen�a e incluiu mais de 800 pessoas que participaram de ensaios cl�nicos, al�m de 250 pesquisadores de 13 hospitais do Reino Unido.

"O c�ncer n�o � est�tico, e a forma como tratamos os pacientes tamb�m n�o deveria ser", diz o l�der da pesquisa, Charles Swanton, do Instituto Francis Crick, em Londres. "O que torna o projeto TRACERx particularmente poderoso � que ele trata os tumores como 'ecossistemas' em constante mudan�a, compostos por diversas popula��es de c�lulas cancer�genas", diz.

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Segundo o cientista, ao observar o tumor em sua totalidade, � poss�vel descobrir como essas popula��es de c�lulas interagem e at� competem entre si, ajudando a obter informa��es sobre a probabilidade de um tumor retornar e quando isso pode acontecer. "Tamb�m podemos observar a probabilidade de o tumor evoluir com o tempo, de se espalhar e como responder� ao tratamento, oferecendo esperan�a a milh�es de pacientes no futuro."

Padr�es

 

Nos sete estudos, os pesquisadores do Instituto Crick e da Universidade College London acompanharam 421 dos 842 participantes do TRACERx desde o momento em que foram diagnosticados para monitorar como os tumores mudaram ao longo do tempo. Os pacientes tinham c�ncer de pulm�o de c�lulas n�o pequenas (NSCLC), o tipo mais comum, e a doen�a que mais mata no mundo.

Entre as principais descobertas, est� a de que os tumores podem ser formados por conjuntos diferentes de c�lulas cancer�genas, que carregam genes em constante mudan�a. Quanto mais diversos forem, maior a probabilidade de o c�ncer retornar em um ano de tratamento. Alguns padr�es de altera��es do DNA tumoral indicam o pr�ximo passo da doen�a. "Esses padr�es podem indicar aos m�dicos quais partes de um tumor podem crescer e se espalhar para outras partes do corpo no futuro", diz Swanton. Segundo o pesquisador, exames de sangue podem ser usados para monitorar essas varia��es gen�ticas em tempo real, ajudando a detectar os primeiros sinais de que a doen�a est� retornando ou que n�o est� respondendo ao tratamento.

Outra descoberta foi a de que a diversidade gen�tica das popula��es de c�lulas dentro de um tumor n�o resulta apenas de altera��es no DNA, mas tamb�m da forma como os genes s�o expressos. Nesse caso, os pesquisadores sugerem que os m�dicos que tratam de pacientes com c�ncer de pulm�o podem intervir precocemente, identificando aqueles cuja doen�a corre maior risco de retornar ap�s a cirurgia e seguir com tratamento adicional, para prevenir a reincid�ncia.

Os pesquisadores tamb�m observaram mais de perto como o c�ncer de pulm�o se espalhou nos pacientes. Eles identificaram quais c�lulas cancer�genas tinham maior probabilidade de serem respons�veis pela met�stase no futuro, porque elas eram mais propensas a abrigar determinadas mudan�as em seus genes. Isso indica que a estrutura tem um risco maior de deixar o tumor e se mover para outras partes do corpo, onde, ent�o, forma um novo tumor.


 

Sem bi�psia

Os cientistas pesquisaram se poderiam rastrear mudan�as no tumor e as caracter�sticas de sua diversidade gen�tica sem a necessidade de cirurgia ou bi�psias, um tipo de procedimento m�dico invasivo que envolve a coleta de uma amostra de tecido. Ao analisar o DNA liberado na corrente sangu�nea das c�lulas tumorais, conhecido como DNA tumoral circulante (ctDNA), descobriram que a presen�a de ctDNA no sangue antes ou depois da cirurgia sugeria que a doen�a tinha grande probabilidade de retornar.

"Atualmente, a melhor op��o que temos para monitorar o tumor de um paciente � extrair o tecido por meio de uma bi�psia ou durante uma cirurgia. Ambas s�o op��es invasivas e demoradas que nos d�o uma vis�o limitada de como esse tumor est� se comportando em um determinado momento", explica Iain Foulkes, pesquisador do Cancer Research UK, uma das institui��es que financia o estudo.

De acordo com Foulkes, a presen�a de DNA tumoral no sangue n�o � o �nico indicador de que o c�ncer pode se espalhar ou voltar. Os pesquisadores tamb�m constataram que os padr�es microsc�picos criados pelo arranjo das c�lulas tumorais est�o ligados ao risco de retorno da doen�a. O projeto segue, agora, com novas an�lises para avan�ar ainda mais na compreens�o do risco de met�stase, diz.