Cena do filme 'Sexo sem compromisso', com Natalie Portman e Ashton Kutcher
A identidade deste casal ser� preservada. Para eles, o mito do amor rom�ntico tem mesmo de sair de cena. Para eles, o significado do amor n�o est� preso a tal conceito, mas se define para ambos como “cumplicidade e respeito”. Eles compartilham da ideia de que “todo relacionamento ao meu ver come�a com o amor rom�ntico e, com o tempo, vamos construindo o amor genu�no, ficamos felizes com a felicidade do outro. Sem posse ou algo t�xico”.
H� mais de uma d�cada este casal revela que passou a viver um relacionamento aberto. “Decidimos em 2009, depois de algumas fantasias entre o casal. S�o 14 anos de viv�ncia numa rela��o liberal e aberta. A nossa regra � comunicar com anteced�ncia quando for sair. N�o me vejo num relacionamento monog�mico e cheio de cobran�as por pouca coisa”.
Ao pensar sobre a ilus�o do amor rom�ntico, o casal deixa claro que, antes de mais nada, � importante definir dois conceitos que s�o, muitas vezes, confundidos. “Amor � diferente de paix�o. Gosto de exemplificar os dois conceitos de forma simples e objetiva. Paix�o � algo excitante, por�m, nos apaixonamos milhares de vezes no decorrer da vida e ela tem in�cio, meio e fim. Tem como caracter�sticas marcantes a intensidade e, algumas vezes, a irracionalidade. J� o amor � uma ‘constru��o social’ em que dois indiv�duos se doam e se prop�em a mudar, evoluir para gerar uma unidade. Amor demanda tempo e, por justamente ter essa caracter�stica, de demandar tempo, dedica��o e confian�a n�o � t�o f�cil de ser replicado quanto a paix�o. As pessoas confundem muito porque n�o t�m amor pr�prio. Se o indiv�duo n�o sabe se amar, � imposs�vel amar o outro, o que sobra � pura depend�ncia emocional.”
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Para o casal, a rela��o aberta tem pontos positivos, o que n�o significa se livrar das armadilhas. “H� diversos benef�cios. O primeiro � a desconstru��o do ci�me que, ao nosso ver, � a maior fonte de desgaste em um relacionamento. Somos mais sinceros com o que queremos e sentimos. N�o precisamos fazer rodeios para falar a um homem ou mulher se eles s�o bonitos e que d�o tes�o. Como todo relacionamento, corremos o risco da perda, mas isso ocorre em qualquer forma de relacionamento. A perda ocorre se o casal deixar o cuidado das rotinas do amor de lado e, com isso, a rela��o se torna uma parceria pura e simplesmente”.
Depois de 14 anos, eles contam que est�o seguros e felizes com a escolha. Ainda sabendo que h� quem os apoie, respeite e quem tamb�m n�o os entenda. “Hoje, ap�s tanto tempo, nossos amigos em sua maioria s�o liberais, j� que a compatibilidade de ideias � fundamental na amizade.”
ROMANCE Para quem o amor rom�ntico funciona? Ou realmente ele est� em contagem regressiva para desaparecer da sociedade? Renata Lanza de Melo Franco, psic�loga, especialista em sexologia e educa��o sexual e terapeuta de casal, explica que essa � uma esfera razoavelmente carente em termos de dados cient�ficos, mas o modelo monog�mico pode, sim, funcionar para alguns casais.
“Ele � v�lido e poss�vel de ser fonte de felicidade conjugal, mas n�o deve ser a �nica op��o e nem obrigat�rio para quem n�o se identifica com ele. � preciso entender o que faz sentido para cada caso, analisando-se as implica��es de cada escolha e o que cada pessoa d� conta de viver. S�o diversas as possibilidades e, por isso, � importante analisar cada contexto e a cultura em que se insere. Independentemente da escolha do modelo da rela��o, � primordial que haja consentimento entre todas as partes e que a comunica��o seja sempre clara e respeitosa, j� que � por meio do di�logo e da escuta do outro � que � poss�vel chegar a um lugar de mais satisfa��o e parceria no relacionamento.”
Ao ser questionada sobre as armadilhas do amor rom�ntico, Renata destaca que falar em amor rom�ntico n�o significa falar apenas do sentimento de amor. “Sabemos que o amor � uma constru��o social que se apresenta de maneiras diferentes em cada per�odo da hist�ria. Ele s� passou a ser uma possibilidade no casamento a partir do s�culo 19, com o surgimento do ‘amor rom�ntico’. Antes disso, os casamentos se davam por interesses econ�micos e pol�ticos.”
Para ela, o amor rom�ntico � um modelo calcado na idealiza��o da pessoa amada e na busca da felicidade eterna a dois, com suas cren�as, valores e expectativas, que podem gerar muitas insatisfa��es pessoais, al�m de interfer�ncias negativas nas rela��es. “� aquele velho clich� que diz que somente estaremos completos quando encontrarmos nossa cara-metade”, nossa alma g�mea. � at� cruel esperar essa complementa��o total entre os que se amam, pois essa idealiza��o da alma g�mea � uma ilus�o. Com isso, implementa-se o ci�me e o sentimento de posse. N�o � poss�vel prometer que nunca mais iremos amar outra pessoa, nem mesmo sentir atra��o por outro algu�m, pelo resto da vida.”
“CONTRATOS” Entre as novas formas de amor e seus “contratos”, a psic�loga e educadora sexual ensina que muitas vari�veis est�o envolvidas em cada configura��o. “Os envolvidos em relacionamentos n�o monog�micos e/ou abertos t�m acordos entre si que dependem do que cada um acredita ou d� conta de viver. Atualmente, v�-se formas de se relacionar afetiva e/ou sexualmente que tenham regras e combinados bem particulares de cada dupla (ou trio, ou quarteto etc)”, explica.
“Em alguns casos, as regras s�o fluidas e se modificam; em outros, ainda, a regra � n�o ter regra. Conforme as experi�ncias v�o acontecendo, os “contratos” podem ser renegociados, reformulados e refeitos. � primordial existir assertividade e clareza na comunica��o entre as partes envolvidas. Os inc�modos precisam ser verbalizados e acolhidos. Uma boa comunica��o assertiva entre os parceiros � fundamental para a satisfa��o da rela��o. Al�m, � claro, do consentimento.”
Conforme a psic�loga, os adeptos dos relacionamentos abertos normalmente entendem que � natural sentir atra��o por outras pessoas que n�o a parceria. Com isso, costumam ter possibilidade de viverem mais livremente no que diz respeito � express�o de seus desejos. “Um ponto negativo � o grande preconceito que ainda existe em rela��o a quem decide por esse estilo de uni�o. Formas de amor que desafiam o tradicionalismo costumam sofrer repress�es. Por�m, estamos vendo sinais de um processo migrando de um padr�o mais r�gido para um entendimento mais amplo”, acrescenta. O futuro ainda � incerto, mas transforma��es j� est�o acontecendo.”
Renata enfatiza que � fundamental que a sociedade reconhe�a a exist�ncia das v�rias possibilidades para os relacionamentos, e que n�o existe a certa ou a errada. “Recomendo ler bastante sobre o assunto para estud�-lo e, claro, procurar terapia para tratar das quest�es mais dif�ceis que surgirem.”
Novas configura��es
Discuss�es sexuais pautadas pelo comportamentos:
1 - Sapiossexual: termo utilizado para definir pessoas que sentem atra��o sexual pela intelig�ncia, se atrai e se envolve pela intelig�ncia do outro acima de qualquer atributo f�sico, est�tico ou social. Atra��o puramente pelo intelecto.
2 - Assexual: � a falta total, parcial ou condicional de atra��o sexual a qualquer pessoa, independente do sexo biol�gico ou g�nero. Assexuais tendem em sua maioria a apresentar pouco ou inexistente interesse nas atividades sexuais humanas.
3 - Demissexual: caracteriza pelo surgimento de atra��o sexual somente quando existe envolvimento ou conex�o emocional ou afetiva com essas pessoas. A pessoa se sente atra�da por outra apenas quando h� um v�nculo afetivo entre elas. Ela apresenta um car�ter condicional: o tes�o s� aparecer� caso intimidade, confian�a ou admira��o se fizerem presentes.
4 - Poliamor: Possibilidade de estabelecer mais de uma uni�o afetivo-sexual com a concord�ncia de todas as partes envolvidas. Existe v�nculo amoroso/afetivo.
5 - Rela��o aberta: s�o mais associados a pessoas que t�m um parceiro principal, mas podem ter outros relacionamentos mais casuais, principalmente sexuais, com outras pessoas.
6 - Poligamia: quando uma pessoa criar la�os matrimoniais com v�rias outras ao mesmo tempo, com o conhecimento de todos os envolvidos.
7 - Polifidelidade: envolve diversos relacionamentos amorosos e sexuais, mas apenas entre os indiv�duos que pertencem a este grupo.
8 - Trisal: relacionamento a tr�s, geralmente fechado (onde os tr�s n�o costumam sair com outras pessoas). Ou seja, � um relacionamento n�o monog�mico, mas n�o necessariamente � um relacionamento aberto.
9 - Anarquia Relacional: modelo de relacionamento em que h� rela��o afetiva entre duas ou mais pessoas, mas sem que adotem qualquer no��o de hierarquia, n�o sendo regido por regras pr�-estabelecidas.
10 - Casal swinger: casal que pratica troca de casais, ou seja, n�o existe exclusividade sexual entre o casal, mas existe a exclusividade do v�nculo amoroso entre os dois.
* Fonte: Renata Lanza de Melo Franco, psic�loga, especialista em sexologia, educa��o sexual e relacionamentos/Pesquisa
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