Lisa Mara Teles é mãe de Heitor, de 6 anos, e conta sempre com a ajuda da 'vovó Marisa' para cuidar do filho

Tr�s gera��es e muito amor: Lisa Mara Teles � m�e de Heitor, de 6 anos, e conta sempre com a ajuda da 'vov� Marisa' para cuidar do filho

Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press

H� um prov�rbio africano que diz que "� preciso uma aldeia inteira para educar uma crian�a", cita a mentora de mulheres Sheilla Ant�o. De fato, ela ressalta, acompanhar a forma��o de um ser humano com todo o cuidado, afeto e aten��o que ele demanda n�o deveria ser considerado tarefa para uma pessoa s�, mas infelizmente � o que quase sempre acontece.

Para Sheilla, a quest�o da rede de apoio ainda est� no campo das ideias e tem sido tratada com uma certa romantiza��o. "As demais pessoas do conv�vio da m�e, como amigas, familiares e, principalmente, o pai da crian�a, ocupam uma posi��o confort�vel em se colocar ‘a postos’ para o que a mulher precisar. Ou seja, a carga de responsabilidade de gerenciar e delegar recai sobre a mulher, al�m da carga executiva, que permanece alta", aponta.
 

Os dilemas da maternidade s�o muito mais profundos do que trocar fraldas, fazer para-casa ou regular o uso de telas. Sheilla diz que a sensa��o de solid�o acontece quando os pensamentos conflitam com o que socialmente se espera de uma m�e. "� muito dif�cil separar, inclusive dentro das m�es, o que de fato � o amor que sentimos pelos nossos filhos e o que � uma a��o motivada pela culpa ou obriga��o materna", avalia. Segundo a especialista, � fundamental compreender como estabelecer uma cria��o respons�vel, leve, amorosa e segura junto aos filhos, ao mesmo tempo em que se preserva o espa�o de sua pr�pria exist�ncia como mulher e como m�e.

Coopera��o 

"Costumo trabalhar a ideia do "voc� n�o ‘tem que’ nada" com as m�es que eu atendo. � a� onde se consegue delimitar o que � culpa, o que � amor, e o que de fato � a responsabilidade diante da vida, enquanto ainda depende de cuidados, afeto e dedica��o. E da�, voltamos � quest�o da atitude ativa de escuta, acolhimento e coopera��o com as m�es."
 

A sensa��o de solid�o, somada � loucura hormonal e todas as situa��es do cotidiano formam, para muitas mulheres, a receita de exaust�o, continua Sheilla. Fica para a mulher, ela aponta, se sentir neste lugar solit�rio de equilibrar todos os pratos sozinha e se ver, a cada dia que passa, impelida a abdicar de si mesma (sonhos, carreira, autocuidado e afins) para se concentrar na nova din�mica de vida que se apresenta ali. "� claro que h� exce��es. Algumas m�es t�m um tra�o de personalidade que facilita lidar com leveza com todas essas quest�es. Outras t�m ajuda emocional e funcional; outras t�m beb�s que n�o d�o o menor trabalho."

Para quem realmente quer acolher e cooperar com a m�e, Sheilla aconselha ter atitudes que as fa�a se sentir confort�vel em mostrar exatamente o que sente, precisa e pensa. "Liberte-se de sua vis�o pessoal sobre a maternidade, ainda que voc� tamb�m seja m�e. Permita que essa m�e que est� ali, demandando ajuda, possa encontrar a sua pr�pria vers�o de maternidade de uma forma leve, aut�ntica e livre de qualquer julgamento social. Isso certamente diminuir� a sensa��o de solid�o", ensina.

Para ler e refletir…

Capa do livro 'As conversas que nunca tive com minha a minha mãe - histórias reais'

Capa do livro "As conversas que nunca tive com minha a minha m�e - hist�rias reais"

“As conversas que nunca tive com minha a minha m�e - hist�rias reais”, Michele Filgate (organizadora) reuniu o relato de 15 escritores e escritoras que contam momentos de seus relacionamentos com as m�es. A obra tem hist�rias de filhos e filhas que vivenciam lares amorosos, responsabilidades, “falsas” acusa��es, segredos, rela��es abusivas, perdas e reconquistas. Professora de escrita criativa, Michele � editora do Literary Hub e criadora de um grupo de mulheres escritoras. Editora Vest�gio, 221 p�ginas. 


Sheilla Antão

Sheilla Ant�o, mentora de mulheres: %u2018Rede de apoio tem sido tratada com uma certa romantiza��o%u2019

Daniel Pitanga/Divulga��o
Hist�ria de luta

Heitor nasceu prematuro, aos sete meses de gesta��o, em 2017, com 1,824 quilos. � filho da empreendedora na �rea de consultoria e atendimento ao cliente, Lisa Mara Teles, de 40 anos, e de Leandro. A bolsa rompeu antes da hora, e Lisa precisou ser internada, tomando rem�dios que amadurecem o pulm�o do beb�, e antibi�ticos para evitar que ele contra�sse bact�rias na hora do parto. Ela deu entrada no hospital numa ter�a-feira, e o pequeno nasceu no s�bado seguinte.

Uma hist�ria de luta come�ava ali. Heitor tamb�m apresentou um quadro de icter�cia. Durante os 17 dias que se seguiram ao parto, com o filho ainda no hospital, a rotina de Lisa era ir e voltar todos os dias do centro de sa�de para acompanhar o filho. "Precisava tirar o leite com bomba e passava para a sonda para que ele recebesse. Com tanta coisa, acabei desenvolvendo um quadro depressivo. Tive febre emocional, n�o dormia nem comia direito, uma rotina exaustiva. Tamb�m tive uma inflama��o grave nos pontos da ces�rea. Peguei meu filho no colo pela primeira vez quando ele tinha 10 dias de vida", relata. Foi em uma crise de choro no elevador do hospital que Lisa recebeu os conselhos de uma m�dica que percebeu a situa��o. Era hora de procurar ajuda. "Precisava me cuidar para conseguir cuidar dele."

Quando Heitor finalmente p�de ir para casa, mais uma jornada come�ou. Ele teve alta pesando 2,3 quilos. Lisa foi para a casa da m�e, Marisa, mas ela e Leandro ficavam fora o dia todo trabalhando. Lisa passava a maior parte do tempo sozinha com o beb�, e tendo que aprender tudo o que envolvia cuidar dele. No in�cio, o leite materno n�o foi suficiente para seu desenvolvimento (entrou com suplementos) e, com quatro meses, o menino teve uma h�rnia na virilha e precisou de cirurgia. Tamb�m chorava muito. Ao mesmo tempo, ela passou quase o ano inteiro do nascimento de Heitor com crises de dor por causa da ves�cula, que acabou deixando de lado at� que n�o pudesse mais ficar sem retir�-la.

Inseguran�a

A sobrecarga do primeiro ano com o Heitor, conta Lisa, tinha muito a ver com o medo de errar, n�o saber cuidar, a inseguran�a e a solid�o. "Acontece com todas as m�es. Quando voc� est� gr�vida, as amigas e pessoas pr�ximas oferecem ajuda, mas depois voc� entende que a responsabilidade � sua, afinal, cada uma tem sua vida e afazeres."

A situa��o come�ou a melhorar quando a m�e de Lisa aposentou e passou a ser sua grande rede de  apoio, juntamente com o esposo, que se desdobrava para ajudar. Aos poucos, depois de receber o aux�lio da mentora em gest�o pessoal Sheilla Ant�o, ela p�de retomar a vida profissional e, agora, trabalhando em casa, consegue ficar perto do filho, hoje com seis anos.