opioides

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University of Missouri

Cerca de 20% da popula��o mundial sofre com dores cr�nicas, e, para algumas dessas pessoas, o desconforto � t�o grande que precisam recorrer a opioides, medicamentos com potente efeito analg�sico, mas que tamb�m podem causar depend�ncia qu�mica e at� levar � morte. Buscar alternativas para esses pacientes mobiliza cientistas h� anos. Um tratamento desenvolvido na Universidade de Warwick e no James Cook University Hospital, ambos no Reino Unido, poder� levar � interrup��o do uso da droga, sem incluir outra. No lugar, entra um combinado de interven��es, como orienta��o m�dica, t�cnicas de aten��o plena e de gerenciamento do estresse.

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A inten��o da equipe era criar um programa para orientar pacientes a abandonarem analg�sicos, diminu�rem a ingest�o de opioides e aprenderem a controlar a dor usando t�cnicas alternativas. Mais de 600 pessoas que tomavam regularmente esse tipo de rem�dio por pelo menos tr�s meses colaboraram com o trabalho, feito entre 2017 e 2020. Os resultados obtidos foram positivos: 29% dos participantes, pararam de usar opioides em um ano, sem ser necess�rio substituir a medica��o e sem piorar os quadro de dor.

Nos testes, os pacientes foram submetidos a duas combina��es de tratamento. Uma parcela teve acesso a suporte m�dico, um livro de autoajuda e um CD de relaxamento. A outra foi submetida aos mesmos cuidados e participou de um programa, com sess�es em grupo, sobre t�cnicas de enfrentamento, gerenciamento de estresse, estabelecimento de metas, aten��o plena, conselhos sobre postura e movimento, e como lidar com sintomas de abstin�ncia e controle da dor.

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Ap�s um ano de avalia��o, 29% daqueles que se submeteram ao programa de interven��o conseguiram abandonar completamente os opioides, enquanto apenas 7% dos integrantes do outro grupo atingiram o objetivo. Tamb�m n�o houve diferen�a em rela��o � dor ou como ela interferiu no cotidiano dos participantes independentemente do uso ou n�o dos opioides.

"Nosso estudo mostra claramente que os opioides podem ser, gradualmente, reduzidos e interrompidos sem piora real da dor. Isso confirma nossas suspeitas de que eles t�m muito pouco impacto a longo prazo na dor persistente", enfatiza, em nota, Sam Eldabe, coautor do ensaio e consultor em medicina da dor no The James Cook University Hospital.

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Sess�es semanais


As atividades em grupo foram feitas, semanalmente, em tr�s sess�es que duravam o dia inteiro, de oito a 10 semanas, por uma enfermeira treinada. Foram inclu�dos, nos encontros, educa��o sobre opioides e dor, an�lise de caso de pessoas que fizeram a redu��o gradual da medica��o e ensinamento de habilidades de autogerenciamento para dor. Houve, ainda, espa�o para t�cnicas como mindfulness (aten��o plena) e distra��o.

Al�m do conv�vio com outros pacientes, os participantes fizeram sess�es individuais, pessoalmente e por telefone, com a enfermeira, a fim de ter maior apoio e aconselhamento personalizado. Um aplicativo de redu��o gradual projetado para o estudo foi usado para calcular a ingest�o de opioides e monitorar a evolu��o do acompanhamento.

Na avalia��o de Harbinder Kaur Sandhu, professora de psicologia da sa�de na Universidade de Warwick e l�der do estudo, os resultados, publicados na revista Jama, s�o positivos porque o consumo de analg�sico, a longo prazo, pode causar efeitos colaterais, al�m fazer as pessoas acreditarem que a interrup��o do uso seja ruim. "Os pacientes podem relutar em abandon�-los porque acham que pioraria a dor ou n�o saberiam como abordar isso com seu m�dico", afirma, em nota. "Nosso programa ajuda as pessoas a aprenderem maneiras alternativas de controlar a dor e a superarem os desafios da abstin�ncia, al�m de ter o potencial de proporcionar �s pessoas uma melhor qualidade de vida em geral.
"O oncologista Carlos Tadeu Garrote, da Rede Dasa, afirma que h� limita��es na medicina para o tratamento e a cura de algumas doen�as, incluindo as que causam dores cr�nicas. Por isso, segundo ele, a avalia��o adequada do controle da dor � fundamental para garantir a dignidade e a qualidade de vida das pessoas com essa condi��o. "Sendo assim, entender a causa e a necessidade de continuidade da medica��o � algo fundamental para evitar erros de uso inadequado de opioides", completa.

Impactos sociais

Eldabe, coautor do ensaio, enfatiza tamb�m os impactos sociais desse tipo de tratamento. Em nota, ele relata que os usu�rios de opioides "perdem o interesse na intera��o social com a fam�lia e amigos e, gradualmente, se retiram da sociedade para um nevoeiro mental induzido" pelos medicamentos.

O m�dico brasileiro lembra que, como muitos rem�dios, os opioides podem levar � depend�ncia, e existem efeitos colaterais agudos — como sonol�ncia, n�useas e redu��o do libido — e mais cr�nicos, a constipa��o, por exemplo. Entretanto, ele ressalta que, desde que acompanhado de maneira adequada, o uso � seguro. "Em muitos casos, a utiliza��o n�o se restringe a pessoas com dores oncol�gicas. Pode ser tamb�m indicado em condi��es benignas, como h�rnia de disco", completa.