Dorm�ncia e fraqueza que come�am por p�s e pernas � um dos primeiros sinais da s�ndrome de Guillain Barr�
O governo do Peru decretou estado emerg�ncia sanit�ria nacional, no s�bado (8/7), devido ao “aumento incomum” de casos da s�ndrome de Guillain Barr�.
Segundo os dados do Minist�rio da Sa�de local, o pa�s registrou 182 pacientes com a doen�a no primeiro semestre de 2023. Desses, quatro morreram, 31 seguem internados e 147 receberam alta.
Segundo a nota publicada, o decreto de emerg�ncia sanit�ria vale por 90 dias e permitir� que as autoridades acelerem a compra de insumos e medicamentos para lidar com a alta repentina nas notifica��es desse problema.
O ministro da Sa�de peruano, C�sar V�squez, declarou que a decis�o aconteceu ap�s “um incremento importante [de casos] durante as �ltimas semanas”, o que exige “a��es do Estado para proteger a sa�de e a vida da popula��o”.
O que � a s�ndrome de Guillain Barr� e quais s�o as principais formas de diagn�stico e tratamento?
O ataque de um antigo aliado
A s�ndrome de Guillain Barr� � classificada como uma doen�a autoimune, em que o pr�prio sistema imunol�gico passa a atacar certas partes do corpo de um indiv�duo.
No caso espec�fico desta doen�a, a regi�o acometida � o sistema nervoso perif�rico, respons�vel por fazer a comunica��o entre o c�rebro e as diferentes regi�es e estruturas do nosso organismo.
Mas o que leva a esse ataque s�bito das c�lulas de defesa?
Segundo o Minist�rio da Sa�de brasileiro, a s�ndrome � geralmente provocada por um processo infeccioso pr�vio.
At� o momento, os agentes identificados como poss�veis gatilhos para a s�ndrome de Guillain Barr� s�o:
- Campylobacter, uma das bact�rias por tr�s da diarreia;
- Zika;
- Dengue;
- Chikungunya;
- Citomegalov�rus;
- V�rus Epstein-Barr;
- Influenza A (um dos causadores da gripe);
- Mycoplasma pneumoniae;
- Enterov�rus D68;
- Hepatites A, B e C;
- HIV;
- Sars-CoV-2 (causador da covid-19).
O minist�rio ressalta que “muitos v�rus e bact�rias j� foram associados temporalmente com o desenvolvimento da s�ndrome de Guillain Barr�, embora em geral seja dif�cil comprovar a verdadeira causalidade da doen�a”.
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E n�o h� uma rela��o entre a gravidade da infec��o e o aparecimento da doen�a: mesmo quadros leves e com poucos sintomas podem engatilhar o ataque ao sistema nervoso perif�rico.
Segundo os registros oficiais do Brasil, s�o detectados um a quatro casos por 100 mil habitantes a cada ano. A enfermidade � mais comum na faixa et�ria dos 20 aos 40 anos.
A infectologista Raquel Stucchi, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), acrescenta que o Guillain Barr� tamb�m est� eventualmente associado a uma rea��o vacinal, embora esse efeito colateral seja considerado raro.
“Diversas vacinas t�m essa rela��o causal com a s�ndrome, que pode ocorrer no per�odo de 60 a 90 dias ap�s a administra��o da dose”, diz a m�dica, que tamb�m integra a Sociedade Brasileira de Infectologia.
No caso espec�fico dos imunizantes contra a covid-19, os Centros de Controle e Preven��o de Doen�as (CDC) dos Estados Unidos apontam que esse evento adverso em quem tomou as doses de Janssen ou AstraZeneca tamb�m � classificado como algo raro, embora seja mais frequente do que o observado na m�dia da popula��o.
Segundo as autoridades, os benef�cios de se vacinar — e, portanto, ficar protegido das doen�as infecciosas para as quais as doses s�o aplicadas — superam os eventuais riscos observados at� o momento.
Os sintomas de Guillain Barr�
Em linhas gerais, a s�ndrome come�a com formigamentos ou uma sensa��o de fraqueza. Esses inc�modos s�o progressivos e costumam se iniciar pelos membros inferiores (p�s e pernas). Com o tempo, eles “sobem” para o tronco, os bra�os e as m�os.
O Servi�o Nacional de Sa�de do Reino Unido (NHS, na sigla em ingl�s) destaca que os sintomas mais frequentes de Guillain Barr� s�o:
- Dorm�ncia;
- Comich�es;
- Fraqueza muscular;
- Dor;
- Problemas de equil�brio e coordena��o.
Se esses sinais n�o forem embora ou piorarem ap�s alguns dias — com o aparecimento de dificuldades para se locomover, engolir ou respirar —, � importante buscar um m�dico o mais r�pido poss�vel para uma avalia��o criteriosa.
O diagn�stico da doen�a depende de alguns exames, como a an�lise do l�quido cefalorraquidiano (o l�quor, presente na medula espinhal e no c�rebro).

As bact�rias Campylobacter, que usualmente provocam diarreia, s�o uma das causas mais associadas � s�ndrome
Getty ImagesFormas de recupera��o
A detec��o precoce da s�ndrome � primordial para iniciar o tratamento assim que poss�vel.
Desse modo, a doen�a n�o progride e n�o acomete outros m�sculos vitais para a sobreviv�ncia — como � o caso do diafragma, que desempenha um papel fundamental na respira��o.
Na fase aguda, em que o paciente fica internado no hospital, o Guillain Barr� � combatido com medica��es conhecidas como imunoglobulinas intravenosas (IgIV).
Esse f�rmaco traz anticorpos retirados de diversos doadores, numa tentativa de conter a a��o desregulada do sistema imunol�gico.
Se essa primeira op��o n�o d� certo, os especialistas costumam recorrer � plasmaf�rese, um procedimento que substitui o plasma sangu�neo do indiv�duo para livr�-lo de anticorpos que possivelmente engatilharam o quadro.
Quando o problema agudo � resolvido, a pessoa recebe alta e volta para casa. Mesmo assim, ela ainda pode necessitar de tratamentos de reabilita��o — que envolvem fisioterapia, fonoaudiologia e psicologia, entre outros.
O Minist�rio da Sa�de assegura que todos esses tratamentos est�o dispon�veis no Sistema �nico de Sa�de (SUS).

O surto de dengue que acomete o Peru � uma das poss�veis explica��es para o aumento dos casos de Guillain Barr� no pa�s
Getty ImagesEmerg�ncia sanit�ria no Peru
A nota publicada pelo Minist�rio da Sa�de sobre o aumento repentino de casos n�o menciona eventuais explica��es para a alta identificada.
Stucchi aponta que o aumento repentino de casos de Guillain Barr� em terras peruanas demanda uma avalia��o aprofundada sobre poss�veis causas infecciosas.
“Sabemos, por exemplo, que o Peru vive a sua pior epidemia de dengue”, lembra a infectologista.
O surto atual da doen�a transmitida pela picada do Aedes aegypti por l� at� levou � queda da ent�o ministra da Sa�de, Rosa Guti�rrez, no dia 15 de junho.
Segundo os registros oficiais do governo local, j� s�o mais de 146 mil casos e 248 mortes por dengue apenas no primeiro semestre de 2023.
“A dengue talvez seja uma explica��o, mas � necess�rio que se fa�a uma an�lise mais ampla, para se certificar que outros agentes n�o podem estar por tr�s desse cen�rio”, acrescenta Stucchi. “Uma investiga��o � necess�ria e fundamental.”
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