Entuasiasta da tecnologia, Rogers Camargo lembra que rob�s n�o substituem o cirurgi�o, mas s�o uma "extens�o do m�dico"
Medtronic/Divulga��o
Se a mudan�a j� assusta muitos, imagina quando ela vem acompanhada de inova��o, de algo novo? Certamente, questionamentos, d�vidas e apontamento de aspectos bons e ruins s�o inevit�veis. Se na �rea do trabalho existe o medo da substitui��o, se o foco for a da sa�de, ent�o, tudo � mais delicado. H� vidas em jogo. O psicanalista Henrique Medeiros, graduado em tecnologia da informa��o com mais de 25 anos de experi�ncia nesse mercado, aponta a necessidade de que sejam feitas as perguntas corretas na discuss�o sobre os efeitos que a intelig�ncia artificial pode causar. Em vez de perguntar se a IA ou diversas tecnologias v�o substituir postos de trabalho, inclusive dos m�dicos, ele recomenda “perguntar, a n�s mesmos, de carne e osso, como utiliz�-las” e cita exemplos como despoluir rios, limpar os oceanos, recuperar biomas devastados, construir moradias dignas, instalar saneamento b�sico e produzir alimentos para todos”, entre outros.
“A tecnologia, bem como todas as inova��es que ela nos traz, � uma constante. Ela n�o � um fim em si. � meio. Ela sempre nos proporcionar� novas e novas possibilidades de utiliza��o. O que nos leva a concluir que a tecnologia n�o pode ser, de forma alguma, objeto principal da discuss�o, mas sim o que � vari�vel, justamente, n�s, seres humanos”, diz o psicanalista. “Ou, em outras palavras, sendo a tecnologia algo em constante evolu��o, a responsabilidade de utiliz�-la para gerar qualidade de vida para toda a humanidade �, e sempre ser�, uma prerrogativa da parte vari�vel: n�s. E ponto”, defende, lembrando a r�pida evolu��o desde a revolu��o industrial, passando pela era tecnol�gica (quando houve uma expans�o significativa dos computadores, surgimento da internet, redes sociais etc.), chegada da ind�stria 4.0 (onde m�quinas se interligam com sistemas, internet) e, por fim, “a t�o temida intelig�ncia artificial”.
Rob� Hugo
O cirurgi�o Rogers Camargo Mariano da Silva, coordenador do Centro de Endometriose e Rob�tica do ABC e integrante da equipe de Cirurgia Minimamente Invasiva e Endometriose da Faculdade de Medicina ABC, � um entusiasta da tecnologia: “A cirurgia rob�tica-assistida � considerada a mais moderna e inovadora tecnologia cir�rgica da atualidade. Temos desafios para ampliar o acesso, ainda restrito a hospitais privados de excel�ncia em raz�o do alto custo, mas estamos falando de uma tecnologia de ponta e recente. A boa not�cia � que temos um mercado em ascens�o, com variedade de op��es de rob�s cir�rgicos surgindo. Ou seja, h� uma tend�ncia de redu��o nos custos com maior oferta de mercado”. Conforme ele, no Brasil, em 2016, havia 22 plataformas em todo o pa�s, hoje, h� cerca de 115 plataformas de empresas diferentes.
Al�m do obst�culo de acesso a esse tipo de cirurgia devido ao custo, o cirurgi�o lembra que � necess�rio “ampliar o n�mero de cirurgi�es capacitados na �rea rob�tica, hoje temos 1% de m�dicos aptos a fazerem esse tipo de procedimento no Brasil. Mas a regulamenta��o da especialidade tamb�m � recente. O Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou a Resolu��o CFM nº 2.311, em mar�o de 2022, estabelecendo os crit�rios para esse tipo de procedimento, destacando quais institui��es podem fazer a interven��o e quais as compet�ncias exigidas do cirurgi�o”, esclarece.
Quanto � inseguran�a e d�vidas diante das cirurgias feitas com aux�lio do rob�, Rogers Camargo Mariano da Silva informa que “apenas 3% dos procedimentos cir�rgicos no mundo s�o via rob�. Nos Estados Unidos, esse n�mero sobe para 20%”.
O m�dico explica que os rob�s n�o substituem o cirurgi�o nos procedimentos: “Os rob�s cir�rgicos s�o sistemas mec�nico-el�tricos compostos por diferentes componentes que auxiliam o m�dico cirurgi�o a fazer uma s�rie de procedimentos. Imagine um chef sem panelas, facas, fornos, batedeiras e outros utens�lios dom�sticos? N�o haveria gastronomia sem esses utens�lios. O rob� cir�rgico � uma extens�o do m�dico, uma ferramenta que o auxilia. Com os rob�s, as m�os s�o substitu�das por pin�as min�sculas, precisas e de maior amplitude de movimento que a m�o humana. Al�m disso, as imagens que s�o projetadas no monitor s�o em 3 D, dando maior visibilidade e detalhamento do campo cir�rgico”.
Rogers Camargo destaca a atua��o do rob� Hugo, da multinacional Medtronic, que acaba de chegar ao Brasil: “Vamos pensar numa prostatectomia radical, que consiste na retirada da pr�stata. Com o paciente sob anestesia geral, ele tem o abd�men insuflado com g�s carb�nico para auxiliar na visualiza��o da �rea a ser operada. S�o feitos orif�cios de no m�ximo 12mm onde os bra�os do rob� v�o atuar. Um dos bra�os fica com a c�mera que leva as imagens ao console do cirurgi�o. J� os outros tr�s bra�os costumam ser usados no procedimento e incluem a pin�as que v�o fazer cortes e suturas na regi�o, de uma forma precisa e leve, reduzindo em at� 5 vezes a for�a da m�o do cirurgi�o”, explica.
O cirurgi�o esclarece sobre os recursos de IA dos rob�s: “O rob� Hugo, por exemplo, da multinacional Medtronic que acaba de ser lan�ado no Brasil, usa a tecnologia touch surgery enterprise, uma solu��o de armazenamento em nuvem que permite a captura de v�deos cir�rgicos, que conta com equipes de suporte dedicadas e especializadas em otimiza��o, servi�o e treinamento de programas de rob�tica. Essa tecnologia � uma plataforma de intelig�ncia artificial do g�nero que simplifica o compartilhamento de v�deos cir�rgicos e oferece aos cirurgi�es uma nova e poderosa ferramenta de treinamento”.
SAIBA MAIS
A teia
Para o psicanalista Henrique Medeiros, a prerrogativa de como usar a IA cabe � humanidade
Arquivo Pessoal
O professor dr. Cl�udio L�cio do Val Lopes, cientista da computa��o com mais de 25 anos de atua��o na �rea de intelig�ncia artificial, s�cio-fundador da A3Data, empresa especializada em dados e IA, que trabalha com a Rede Mater Dei de Sa�de, explica que “a aplica��o da intelig�ncia artificial na �rea da sa�de � promissora e envolve desde a medicina diagn�stica, como auxilio na detec��o de doen�as em exames, por exemplo, at� o uso de nanorob�s, inseridos no corpo e que podem prevenir e alertar sobre incid�ncias de doen�as”. Ele destaca que, com o advento de novas tecnologias como o chatGPT, tais t�cnicas tendem a ser ainda mais aplicadas para o benef�cio de pacientes e m�dicos. A grande quest�o, destaca, � como a sociedade (pacientes e m�dicos, na �rea m�dica/hospitalar) utilizar� tais tecnologias, em termo pr�ticos e reais. “Neste sentido, usamos um conceito chamado “Teia”, ou seja, toda tecnologia de intelig�ncia artificial tem que ter “Transpar�ncia”, as pessoas devem saber se est�o interagindo com um sistema de IA; “Explicabilidade”, temos de entender como IA tomou decis�es: “Inteligibilidade”, as a��es de IA t�m que ser compreendidas pelas pessoas, de maneira clara; e ser “Audit�vel”, processo deve ser formalmente registrado. Estamos em uma revolu��o gerada pela IA, na �rea de sa�de n�o ser� diferente. Muitas possibilidades de ganhos e melhoria da qualidade assistencial e operacional ainda ser�o obtidos com o usa da IA na sa�de”, explica.
Palavra de especialista
F�tima Bana, doutoranda pelo MIT/USA, p�s-graduada em neuropsicologia e cursando PHD em comportamento de consumo integrado a intelig�ncia artificial (IA)
Aux�lio no tratamento de TDAH e TEA
F�tima Bana, doutoranda pelo MIT/USA, p�s-graduada em neuropsicologia e cursando PHD em comportamento de consumo integrado a intelig�ncia artificial (IA)
Arquivo Pessoal
“A interface entre intelig�ncia artificial (IA) e neuroci�ncia representa nova fronteira na compreens�o e tratamento de neuropatologias, como o transtorno de d�ficit de aten��o e hiperatividade (TDAH) e transtornos do espectro autista (TEA). Afinal, gerenciar novas tecnologias, melhorando a aplica��o de m�todos neurocient�ficos, ajuda no avan�o do tratamento dessas doen�as. A aplica��o da IA ao campo da neuroci�ncia nos permitir� identificar padr�es neurais associados a v�rias doen�as, otimizar o uso de t�cnicas de neuromodula��o e projetar interfaces c�rebro-computador mais eficazes. Podemos desenvolver interfaces c�rebro-computador mais intuitivas e responsivas, dando-nos um controle mais preciso sobre a tecnologia. Estamos no in�cio, mas j� est� claro que a combina��o dessas duas �reas de pesquisa tem o potencial de trazer mudan�as transformacionais no controle da tecnologia e no tratamentos dessas neuropatologias”.
Cirurgi� defende estratifica��o de dados
A intelig�ncia artificial (IA) desempenha papel cada vez mais importante na �rea da medicina, revolucionando a forma como os profissionais de sa�de diagnosticam, tratam e gerenciam doen�as: “O principal motivo � o processamento de dados, com a sua grande capacidade interpretativa, ela consegue impulsionar e dar agilidade na assist�ncia m�dica, muitas vezes melhorando a precis�o dos diagn�sticos, otimizando o planejamento de tratamentos e permitindo uma medicina mais personalizada”, destaca Bianca Pascual, cirurgi� geral, sem atua��o no momento, e gerente executiva de tecnologia da informa��o do Grupo Oncocl�nicas.
Bianca Pascual enfatiza que, hoje, as atua��es de maior destaque s�o o processamento de imagem e outros exames complementares, al�m do apoio � decis�o cl�nica. “Para ambos, podemos identificar e/ou comparar dados individualizados, nos permitindo enxergar padr�es sutis e altera��es para que fechemos um diagn�stico de forma mais precoce, ou mesmo prevenir a evolu��o grave de uma doen�a cr�nica”.
Privacidade e �tica
No entanto, Bianca Pascual diz que � importante ressaltar que a IA na medicina n�o substitui a expertise e o julgamento dos profissionais de sa�de. “Em vez disso, ela serve como uma ferramenta poderosa para auxiliar m�dicos e especialistas, dando agilidade e melhorando a efetividade da assist�ncia m�dica. Isso porque a IA ainda tem vieses de amostragem e identifica��o de situa��es raras. Quest�es �ticas, privacidade e seguran�a dos dados s�o aspectos important�ssimos que devem ser considerados, sendo assim urgente a defini��o de regulamenta��es para uso em �reas cr�ticas como a medicina. Temos o maior exemplo de todos, o famoso ChatGPT, uma ferramenta fant�stica que, por ser aberta, se torna perigosa, devido � busca de dados t�cnicos em fontes n�o confi�veis e sem embasamento cient�fico. � fundamental garantir que os sistemas de IA sejam desenvolvidos com transpar�ncia, responsabilidade e respeito aos direitos e bem-estar dos pacientes.”
P�nico social
Para Biana Pascual, o seu uso na �rea m�dica deve ser estratificado e direcionado. “J� existem muitas tecnologias que guiam a busca dos dados, garantindo que esses venham de um conjunto de fontes confi�veis e que gerem valor a quem est� consultando. Al�m disso, vejo como necess�ria a estratifica��o da informa��o, uma vez que a disponibiliza��o de muitos dados t�cnicos ao p�blico leigo pode gerar um p�nico social e n�o propriamente uma solu��o. As informa��es de sa�de s�o sens�veis, portanto a sua democratiza��o deve ser feita com cautela e ser constantemente revisada”, defende.
Para a gerente m�dica, a IA est� transformando a medicina, permitindo avan�os significativos no diagn�stico e tratamento de doen�as: “Vejo que estamos diante de um marco para a sa�de e seus profissionais, assim como a disponibiliza��o de exames complementares, que gerou efic�cia quando popularizado. A IA vem para remodelar a medicina, e o destaque ser� para aqueles que fazem as perguntas corretas, pois o processamento ser� uma etapa vencida. O que n�o podemos � perder o momento de gerir e garantir que os dados passados s�o de fontes s�rias e confi�veis, e que a sua divulga��o seja de f�cil entendimento ao p�blico-alvo”.
Mais tecnologia chegando
O Bard, concorrente do Google para o ChatGPT, acabou de chegar a Brasil, em 13 de julho. Agora, usu�rios brasileiros poder�o acessar, em portugu�s, o sistema de intelig�ncia artificial (IA) generativa que responde a perguntas e cria conte�do. O lan�amento � mais um passo na expans�o da ferramenta de IA, apresentada pelo Google no in�cio do ano, meses depois da OpenAI liberar o ChatGPT ao p�blico. Al�m do Brasil, tamb�m ter�o acesso ao sistema 27 pa�ses que fazem parte da Uni�o Europeia (UE). A intera��o com a IA poder� ser feita em 40 l�nguas, incluindo �rabe, chin�s, alem�o, hindi e espanhol. Antes, era usada apenas em ingl�s, coreano e japon�s.
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