coluna maria paula
Todo mundo sabe contar um caso de uma pessoa inteligente que d� seus trope�os inexplic�veis. Ficamos pensando: puxa, mas � t�o inteligente, como pode?
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� claro que vale a pena ser inteligente e sabemos que isso tem um forte componente gen�tico. Pessoas inteligentes t�m mais sucesso acad�mico e no trabalho, al�m de terem menor chance de se meterem em encrenca. Apesar dessas vantagens, a intelig�ncia n�o garante o sucesso em outras dimens�es, como o bem-estar e a longevidade.
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O pensamento cr�tico � algo diferente. Este, sim, est� associado ao bem-estar e � longevidade. Ele � um conjunto de habilidades cognitivas que nos ajuda a pensar racionalmente e de forma orientada.
Uma pessoa com alto grau de pensamento cr�tico precisa de evid�ncias que apoiem suas cren�as. Podem ser flex�veis, mas precisam de evid�ncias para seguir um rumo ou outro e reconhece contradi��es nas argumenta��es.
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Estudos feitos em diferentes centros de pesquisa mostram que as pessoas com pensamento cr�tico experimentam menos eventos negativos na vida. As escalas que medem essa habilidade costumam incluir testes de racioc�nio verbal, an�lise de argumentos, testagem de hip�teses, probabilidade e incerteza, resolu��o de problemas e tomada de decis�es. Tamb�m � inclu�do nessa avalia��o um question�rio de eventos negativos que abrange a vida acad�mica (e.g., esquecer o dia da prova), sa�de (e.g., contrair uma doen�a sexualmente transmiss�vel por n�o ter usado camisinha), legal (e.g., ser preso por dirigir alcoolizado), interpessoal (e.g., trai��o), financeira (e.g., d�vidas fora do controle), etc. O aprendizado de um pensamento cr�tico existe, e isso pode ser exercitado desde a inf�ncia.
Ent�o, � melhor ter um pensamento cr�tico ou ser inteligente? Pesquisadores j� testaram esse duelo e o desfecho foi o de que ter ambos � o melhor, mas quando se pensa em eventos negativos na vida, o pensamento cr�tico ganha.
A hist�ria est� cheia de exemplos de idiotices, e muitos deles nos faz pensar que faltou tanto pensamento cr�tico quanto intelig�ncia. Os troianos levaram o cavalo de Troia para dentro das muralhas da cidade achando que seria um s�mbolo de vit�ria de algumas batalhas. Esqueceram de checar o recheio grego. A torre de Pisa j� era torta mesmo antes do t�rmino de sua constru��o. O governo franc�s investiu 15 bilh�es de d�lares em novos trens para descobrir que eles eram muito grandes para cerca de 1.300 esta��es ferrovi�rias.
Um estudo recente no peri�dico Intelligence dividiu as idiotices em tr�s diferentes tipos. � o ladr�o que rouba uma TV e � preso quando volta ao local do crime para pegar o controle remoto. � o homem que engatou um carrinho de supermercado a um trem e morreu ap�s ser arrastado por mais de cinco quil�metros. Isso para n�o pagar a passagem. Outro exemplo � o de um terrorista que enviou uma carta bomba com uma quantidade insuficiente de selos. A carta voltou e ele abriu a pr�pria carta. Bum. N�o s�o meros acidentes.
O primeiro tipo de idiotice � explicado por excesso de confian�a. Um bom exemplo � o de homem que assaltou um banco � luz do dia sem disfarce nem m�scara e achou que seu rosto ficaria invis�vel para as c�meras de seguran�a porque esfregou lim�o no rosto. Uma pesquisa mostra que, depois de testes de l�gica e gram�tica, volunt�rios que tiveram as piores notas eram frequentemente os que julgaram ter apresentado um bom desempenho nos testes. O segundo tipo � decorrente de impulsividade, atos em que o comportamento est� fora do seu controle habitual. � o caso das pessoas que publicam conte�dos nas redes sociais e logo se arrependem. O terceiro tipo de erro � explicado pela falta de aten��o. O cara dirige 200km de Bras�lia at� Goi�nia quando, na verdade, estava querendo ir a Paracatu.
Todos n�s estamos sujeitos a superestimar nossas capacidades, tomar decis�es por impulso e falhar por falta de aten��o. Algumas pessoas, �s vezes, exageram na dose.
*Dr. Ricardo Afonso Teixeira � doutor em neurologia pela Unicamp e diretor do Instituto do C�rebro de Bras�lia
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