Novo antibi�tico tem grande potencial de a��o e trata-se de um avan�o porque a cria��o desse tipo de rem�dio � demorada
Cientistas descobriram um novo antibi�tico com grande potencial de a��o e cujo efeito dificulta que os pat�genos desenvolvam resist�ncia a ele. A subst�ncia, chamada clovibactin, demonstrou ser capaz de combater bact�rias prejudiciais aos humanos, inclusive aquelas que n�o s�o trat�veis com outras drogas do tipo. Segundo a equipe, trata-se de um grande avan�o porque a cria��o desse tipo de rem�dio � demorada, e, geralmente, surgem op��es parecidas com as j� dispon�veis. O trabalho foi compartilhado por um grupo internacional de pesquisadores na edi��o desta ter�a-feira (22/08) da revista Cell.
Segundo Markus Weingarth, pesquisador do Departamento de Qu�mica da Universidade de Utrecht, entre os pat�genos bacterianos resistentes que sucubem ao clovibactin, est�o o Staphylococcus aureus, respons�vel por pneumonias e endocardites, e o Mycobacterium tuberculosis, que causa tuberculose. "Precisamos urgentemente de novos antibi�ticos para combater os micro-organismos que se tornam cada vez mais resistentes � maioria dos medicamentos usados clinicamente", afirma, em nota. "O clovibactin parece ser uma perspectiva promissora para o desenvolvimento de antibi�ticos com uma longa vida cl�nica."
Jos� David Urbaez, presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, sublinha que a resist�ncia bacteriana � um processo natural, mas de dif�cil enfrentamento. "Bact�rias t�m enorme efici�ncia para desenvolver mecanismos que as protegem. Portanto, a cria��o de antibi�ticos � um desafio enorme, porque temos que correr atr�s de descobrir mecanismos novos de resist�ncia e sermos capazes de criar mol�culas que consigam atacar esses micro-organismos. Isso � grav�ssimo. E nessa corrida, estamos muito atrasados em rela��o �s bact�rias", avalia.
'Mat�ria escura'
A descoberta do rem�dio foi feita por pesquisadores da Universidade Northeastern, nos EUA, e da Universidade de Bonn, na Alemanha, em parceria com a NovoBiotic Pharmaceuticals, uma empresa estadunidense em est�gio inicial. Antes disso, a mesma equipe havia desenvolvido um dispositivo capaz de cultivar bact�rias que, anteriormente, n�o podiam ser criadas em laborat�rio, um fen�meno chamado de "mat�ria escura bacteriana".
De acordo com o artigo, essas bact�rias representam cerca de 99% de todas as existentes. Como n�o era poss�vel o cultivo em laborat�rio, n�o se podia explorar novos antibi�ticos a partir delas. Atrav�s do uso de um dispositivo, chamado iCHip, os pesquisadores americanos encontraram o clovibactin em uma bact�ria isolada de um solo arenoso na Carolina do Norte, chamada E. terrae ssp. Carolina. Em testes, a subst�ncia foi utilizada, com sucesso, no tratamento de camundongos infectados pela superbact�ria Staphylococcus aureus.
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O ensaio tamb�m mostra que o medicamento tem um mecanismo incomum no combate aos micro-organismos. Ele n�o ataca apenas uma, mas tr�s mol�culas essenciais para a constru��o da parede celular da bact�ria, estrutura que a protege da a��o de antibi�ticos. "O mecanismo de ataque de m�ltiplos alvos bloqueia, simultaneamente, a s�ntese da parede celular bacteriana em diferentes posi��es. Isso melhora a atividade do medicamento e aumenta substancialmente sua efici�ncia contra o desenvolvimento de resist�ncia", explica, em nota, Tanja Schneider, pesquisadora da Universidade Bonn e coautora da pesquisa.
"Isso � importante porque, quanto mais mecanismos de elimina��o um antibi�tico utiliza, menos prov�vel � o surgimento de resist�ncia antimicrobiana", completa Weingarth. Segundo o pesquisador, n�o foram encontradas resist�ncias at� o momento. Urbaez tamb�m destaca esse diferencial do clovibactin. "A busca por novos mecanismos de a��o � incans�vel, e as bact�rias t�m uma capacidade quase infinita de desenvolver resist�ncia. Esse novo antimicrobiano ainda � experimental, mas, diferentemente de outros, tem um mecanismo de a��o em v�rios pontos. � importante esse tipo de proposta."
Mais estudos
Nos testes, o antibi�tico mostrou outra caracter�stica importante. Ao se ligar �s mol�culas que s�o seu alvo, ele se organiza em grandes fibrilas — estruturas alongadas, finas e geralmente fibrosas — na superf�cie das membranas bacterianas. Esses arranjos s�o est�veis por um longo tempo, garantindo que as estruturas-alvo permane�am sequestradas pelo tempo necess�rio para matar as bact�rias.
De acordo com Weingarth, a equipe trabalha, agora, para descobrir contra quais pat�genos o clovibactin ter� mais efeito. "As micobact�rias, como a conhecida Mycobacterium tuberculosis, causam problemas de sa�de porque t�m uma camada externa muito grossa e especial que as protege dos antibi�ticos. Estamos tentando entender como podemos atingir essa camada usando antibi�ticos", explica.
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Palavra de especialista: Uso deve ser racional
Andr� Bon, infectologista do Hospital Bras�lia
"� importante as pessoas entenderem que os antibi�ticos s� devem ser utilizados quando realmente h� indica��o. N�s temos bact�rias no nosso organismo, no intestino, na pele e em v�rios outros locais. Quando utilizamos o rem�dio, ele mata aquelas bact�rias que queremos que morra e v�rias outras tamb�m. Isso gera uma sele��o, que pode fazer com que as bact�rias com mecanismo de resist�ncia espec�ficos se tornem dominantes. Conforme surgem novas classes de antimicrobianos e quanto mais eles s�o utilizados, a resist�ncia vai aumentando se n�o forem administrados de forma racional."
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