Na imunoterapia, o sistema imunológico aprende a reconhecer e a atacar substâncias que impedem a destruição das células doentes 

Na imunoterapia, o sistema imunol�gico aprende a reconhecer e a atacar�subst�ncias que impedem a destrui��o das c�lulas doentes�

(Victor Segura Ibarra and Rita Serda/Divulga��o)

Em mais um avan�o no tratamento contra o c�ncer, um estudo publicado ontem na revista Annals of Oncology descreve uma vacina que reduziu em 44% o risco de morte de pacientes com tumor de pulm�o de c�lulas n�o pequenas em est�gio avan�ado, ao longo de um ano. A pesquisa Atalante-1, da OSE Immunotherapeutics SA, � uma das �ltimas etapas para determinar a efic�cia do imunizante antes de ser submetido �s ag�ncias regulat�rias.

 A subst�ncia, Tedopi, se concentra em cinco alvos associados a tumores nas c�lulas T, com fun��es de defesa. A droga � projetada para ajudar o sistema imunol�gico a combater o c�ncer, especificamente em pacientes com um marcador gen�tico chamado HLA-A2. Realizada com 219 pacientes, a pesquisa mostrou que a vacina ï¿½ mais eficaz e segura que a quimioterapia em pessoas com c�ncer de pulm�o de c�lulas n�o pequenas (CPCNP) avan�ado ou metast�tico, que n�o responderam bem a tratamentos anteriores. 

Segundo os autores, os resultados indicam que a vacina melhora a sobreviv�ncia e a qualidade de vida dos pacientes. Dos volunt�rios, 139 receberam o imunizante, enquanto 80 foram submetidos � quimioterapia convencional. Em um ano, a sobrevida m�dia do primeiro grupo foi 3,6 meses superior ao segundo. Al�m disso, pessoas tratadas com o Tedopi passaram mais tempo em remiss�o que os demais (7,7 meses contra 4,6 meses). 

Pioneirismo

Benjamin Besse, diretor de pesquisa cl�nica do Instituto Gustave Roussy e autor principal do ensaio, afirma que essa � a primeira vacina a aumentar a sobrevida em pessoas com c�ncer de pulm�o que n�o tiveram sucesso em outras abordagens terap�uticas. "Este estudo, realizado em pacientes com resist�ncia secund�ria � imunoterapia, comparou a monoterapia com Tedopi com a quimioterapias padr�o. � claramente necess�ria uma avalia��o mais aprofundada numa segunda linha de tratamento do CPNPC avan�ado e metast�tico, para potencialmente disponibilizar esta vacina contra a pacientes dif�ceis de tratar", destacou, em comunicado. 

 

De acordo com Nicolas Poirier, diretor-executivo da OSE Immunotherapeutics, nos �ltimos anos, houve um avan�o significativo no tratamento do c�ncer, especialmente com o desenvolvimento dos chamados anticorpos inibidores de checkpoints, a base da imunoterapia. Para ele, a abordagem j� demonstrou amplamente sua efic�cia, sendo que vacinas do tipo s�o prescritos para muitos tipos avan�ados de tumores metast�ticos.

Ele ainda explica que os checkpoints imunol�gicos, expressos nas c�lulas T, bloqueiam a capacidade destrutiva das c�lulas do sistema de defesa. Com a vacina, os anticorpos freiam o mecanismo, e permitem que as estruturas voltem a funcionar. "Eles revolucionaram o tratamento do c�ncer por mais de 10 anos. No entanto, apesar desses avan�os terap�uticos espetaculares, a maioria dos pacientes n�o responde aos inibidores de checkpoints imunol�gicos, o que demonstra uma resist�ncia prim�ria. Muitos daqueles que inicialmente respondem a esses tratamentos tamb�m sofrem reca�das ap�s v�rias semanas de benef�cios cl�nicos. Isso � chamado de resist�ncia adquirida ou secund�ria", narra o autor principal do estudo.

As vacinas terap�uticas possuem a capacidade de ensinar o sistema imunol�gico a reconhecer especificamente os ant�genos presentes nas c�lulas tumorais e a atac�-los. Elas tamb�m t�m o potencial de tratar pacientes, mesmo se eles n�o tiverem respondido a outras terapias. 

Fortalecimento

Janice Farias, oncologista da Oncocl�nicas Bras�lia, refor�a que a vacina age como uma imunoterapia. "O uso dela n�o � para prevenir o c�ncer em indiv�duos saud�veis. � um medicamento espec�fico para pacientes com uma doen�a espec�fica. O mecanismo de a��o inclui induzir que o pr�prio sistema de defesa do paciente produza um tipo exato de c�lula contra o tumor, de uma forma geral fortalecer� o sistema imunol�gico do paciente para que o pr�prio possa combater o tumor", esclarece.

A especialista considera a descoberta uma grande evolu��o para a medicina, caso seu uso seja aprovado no futuro. "Acredito que seja um resultado promissor, porque hoje n�s n�o temos uma evid�ncia clara do que fazer ap�s a falha da primeira linha de tratamento. Ent�o, � uma droga que vem para uma indica��o espec�fica de segunda ou terceira linha. � algo que precisamos para melhorar os resultados dos pacientes", finaliza.

Conforme os cientistas, a pr�xima fase de estudo a ser realizada � a confirmat�ria, considerada crucial, que recrutar� mais de 300 pacientes ao longo de dois anos de pesquisa, com o objetivo principal sendo a sobreviv�ncia em um ano. Os resultados da nova etapa s�o esperados para o fim de 2026, com possibilidade de registro em 2027.

Risco de diabetes

Uma pesquisa do Hospital Brigham and Women's, nos Estados Unidos, revela que pessoas not�vagas, que costumam ficar acordadas � noite e dormir durante o dia, t�m um risco 19% maior de desenvolver diabetes. Aqueles que dormem e acordam tarde tamb�m desenvolvem chances elevadas da doen�a, mostra o estudo, publicada ontem na revista Annals of Internal Medicine .

Para o trabalho, a equipe avaliou informa��es de 63.676 enfermeiras de um estudo anterior, o Nurses' Health Study II, coletadas entre 2009 e 2017, que inclu�ram a medida em que as participantes se percebiam como uma pessoa noturna ou matinal, al�m de informarem sobre seus h�bitos. A equipe determinou a situa��o da doen�a a partir dos relatos e registros m�dicos.

Ao observar os dados, a equipe de cientistas descobriu que aproximadamente 11% das enfermeiras tinham um cron�tipo — hor�rio preferido de sono e vig�lia — "definitivamente noturno" e 35% relataram ser "definitivamente matutinas". As restantes foram classificadas como "intermedi�rias". O primeiro grupo foi associado a um risco aumentado de diabetes em 19%, considerando os fatores de estilo de vida. Entre aquelas com h�bitos mais saud�veis, apenas 6% eram noturnas, contra 25% das com estilos menos ben�ficos � sa�de.

Jo�o Lindolfo Borges, endocrinologista e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, explica que essa rela��o pode se dar por uma s�rie de fatores. "Disrup��o do ritmo circadiano, um rel�gio biol�gico interno que regula v�rios processos fisiol�gicos, incluindo o metabolismo da glicose, altera��es no apetite e na alimenta��o, estresse e falta de sono e a falta de exerc�cios f�sicos. A qualidade do sono e o padr�o de vig�lia afetam a sa�de de v�rias maneiras."

"O problema reside no fato dos noturnos estarem sujeitos a maiores desafios temporais no cotidiano, quando comparados aos matutinos e intermedi�rios", diz Mario Leocadio-Miguel, do Conselho de Cronobiologia da Associa��o Brasileira do Sono. "� por isso que acabam adotando estilos de vida pouco saud�veis, o que favorece o desenvolvimento de diabetes." ( IA )