Homem com acne

A acne � um dos principais efeitos indesejados da terapia hormonal na popula��o transg�nero

Pixabay
FLORIAN�POLIS, SC (FOLHAPRESS) - A acne � um dos principais efeitos indesejados da terapia hormonal na popula��o transg�nero e pode prejudicar a sa�de mental, com agravamento de quadros de ansiedade, depress�o e idea��o suicida.

"A literatura mostra uma incid�ncia de acne de 40% a 89% nos homens trans que fazem uso de hormonoterapia", diz Felipe Aguinaga, coordenador do Ambulat�rio de Dermatologia e Diversidade de G�nero da Santa Casa de Miseric�rdia do Rio de Janeiro.

A quest�o foi tema de uma das palestras do 76o Congresso da Sociedade Brasileira de Dermatologia, realizado de 7 a 9 de setembro em Florian�polis.

Na ocasi�o, os especialistas tamb�m discutiram outras dermatoses na popula��o LGBTQIA+, como calv�cie. "A testosterona provoca v�rios efeitos relevantes no corpo dos homens trans. Muitos efeitos desej�veis, como ganho de massa muscular, aumento de pelos corporais e faciais, e alguns indesej�veis, como alopecia androgen�tica e acne", afirma Aguinaga.

A acne � um efeito precoce, com in�cio j� nos primeiros tr�s meses de hormonioterapia. Sua incid�ncia vai aumentando ao longo do tempo, com pico de 6 a 12 meses ap�s o in�cio do tratamento hormonal. Com dois anos de uso da testosterona, ela atinge entre 40% e 80% dos homens trans.

"Os homens trans t�m n�veis de ansiedade, depress�o e idea��o suicida maiores do que os homens cis, e os homens trans com acne t�m n�veis ainda maiores", alerta o especialista.

Entre os principais fatores de risco para o desenvolvimento da doen�a est�o IMC (�ndice de massa corporal) elevado, tabagismo e n�veis de testosterona acima de 630. Hist�ria pr�via de acne, uso concomitante de progest�genos e idade mais avan�ada tamb�m podem contribuir para o surgimento da acne.

Outro tra�o nessa popula��o � a maior preval�ncia de acne no tronco, possivelmente devido ao binder. "Os homens trans que n�o fizeram a mastectomia muitas vezes usam esse top para deixar o t�rax com uma apar�ncia mais plana. Como ele � bem apertado, pode provocar acne e predispor o surgimento de micose."

J� entre as mulheres trans, a hormonioterapia tem um efeito oposto: ela resseca a pele. Por isso, algumas desenvolvem quadros de coceira e alergia. Fragilidade das unhas e do cabelo tamb�m � um aspecto observado com frequ�ncia.

Al�m disso, as calcinhas com compress�o podem causar irrita��es e alergia em mulheres trans que n�o fizeram a cirurgia de redesigna��o sexual.

O processo de transi��o, no caso de quem opta por cirurgias, deixa cicatrizes que podem incomodar e levar aos consult�rios. "Alguns homens trans tamb�m procuram tratamentos para aumentar a quantidade de pelos do corpo, a quantidade de pelos da barba, e a dermatologia tem recursos para oferecer a essa popula��o", diz Aguinaga.

J� para aqueles que passam pelo arriscado processo de aplica��o de silicone industrial n�o h� muito a fazer, alerta o especialista.

"Como o processo de transi��o seguro, acompanhado por m�dicos, tem um acesso muito dif�cil —embora esteja previsto no SUS, s�o poucos os centros que oferecem— e muitas mulheres trans e travestis vivem uma situa��o de vulnerabilidade social, elas acabam recorrendo a procedimentos que n�o s�o seguros", afirma.

Acne: usar col�rio para suavizar espinhas pode dar alergia e irritar a pele

"O silicone industrial gera tanto complica��es no momento da aplica��o quanto anos depois, e temos muito pouco a fazer por essas pacientes, num n�vel individual. Conseguimos amenizar determinados sintomas, mas � um problema coletivo, de sa�de p�blica, e para resolver dever�amos aumentar o acesso a processos seguros de transi��o."

Problemas capilares tamb�m atingem essa popula��o. No homem trans, a calv�cie ocorre devido � pr�pria hormoniza��o. Se o paciente tem uma tend�ncia familiar � alopecia, ele pode desenvolv�-la com o uso da testosterona.

"J� a alopecia androgen�tica em mulheres transg�nero ocorre quando o menino que transiciona para menina j� tinha um quadro de calv�cie. O cabelo cresce, mas mant�m as entradas que existiam", afirma o dermatologista Canuto Leite.

TRATAMENTOS

"Em geral, quando a paciente procura feminizar a face, podemos oferecer recursos como preenchimento, toxina botul�nica e depila��o a laser, mas � muito importante ouvir as demandas e evitar padr�es preestabelecidos do que � feminino e o que � masculino", afirma Aguinaga.

Para a acne tamb�m � necess�rio tomar cuidados espec�ficos. Produtos que bloqueiam a a��o da testosterona podem atrapalhar os efeitos da hormoniza��o, assim como o uso de contraceptivos combinados com estrog�nio.

Al�m disso, � importante lembrar que a testosterona, isoladamente, n�o impede a gravidez e homens trans podem engravidar. Assim, � preciso discutir as op��es dispon�veis com o m�dico e verificar se s�o teratog�nicas, ou seja, se alteram o desenvolvimento do feto.

Quanto aos quadros de calv�cie, os produtos de aplica��o diretamente no couro cabeludo s�o os mais indicados. J� medica��es orais devem ser analisadas com cuidado, pois podem favorecer o surgimento de pelos no rosto, indesejados pelas mulheres trans.

O transplante capilar � outra op��o, lembra Leite. Ele pode ser realizado no couro cabeludo, respeitando as linhas de implanta��o de cada g�nero —mais anguladas nos homens e mais arredondadas nas mulheres—, e na barba.

*

A rep�rter viajou a convite da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia)