
vacina
Raquel Portugal/FiocruzAp�s mais de 540 milh�es de doses aplicadas em quase tr�s anos, o Brasil vive em 2023 um per�odo de transi��o na vacina��o contra a covid-19, das campanhas emergenciais para a imuniza��o
Para 2024, a proposta ainda em elabora��o � a ado��o de um calend�rio de vacina��o contra a covid-19 na rotina de crian�as menores de 5 anos, e doses de refor�o peri�dicas ao menos uma vez por ano para grupos de risco, como idosos, imunocomprometidos (pacientes com sistema imunol�gico debilitado)
"Vacinar toda a popula��o, como a gente vem fazendo, precisa ser revisado nesse momento de transi��o em que nos encontramos. Fizemos reuni�es t�cnicas e tiramos diretrizes b�sicas que o Minist�rio da Sa�de vai seguir em discuss�es internas. Agora, o an�ncio disso ainda depende de uma discuss�o com a gest�o tripartite [governo federal, estados e munic�pios]", conta Gatti.
“Hoje, avan�amos tanto na avalia��o da recomenda��o internacional, da OMS, quanto na discuss�o com os especialistas, mas precisamos avan�ar nessa pactua��o”, complementa.
O diretor do PNI pretende iniciar uma estrat�gia de vacina��o de rotina contra a covid-19 no in�cio de 2024, para substituir o "car�ter de excepcionalidade", com constantes altera��es, que ainda dita o ritmo da imuniza��o contra a doen�a.
"A covid-19 precisa deixar de ser uma estrat�gia de campanha e passe a ser uma recomenda��o permanente. Esperamos fazer an�ncios oficiais com a estrat�gia mais completa antes do fim do ano".
Gatti ressalta que a vigil�ncia das variantes deve ser constante, porque s�o elas que determinaram as ondas de infec��o desde o in�cio da pandemia. Esse comportamento difere de outras doen�as de transmiss�o respirat�ria, cujas incid�ncias s�o mais influenciadas pelas esta��es do ano. Ainda que seja importante ter vacinas atualizadas contra essas variantes, ele argumenta que mais importante � garantir que a vacina��o aconte�a.
Para garantir vacinas nacionais da plataforma RNA mensageiro, mais vers�til na luta contra o coronav�rus, o Minist�rio da Sa�de tem apoiado desenvolvimentos pr�prios do Instituto de Tecnologia em Imunobiol�gicos (Bio-Manguinhos) e do Instituto Butantan. Gatti considera que o ideal � que uma tecnologia nacional de RNA mensageiro possa estar � disposi��o do PNI, uma vez que as vacinas contra covid-19 oferecidas por esses laborat�rios at� o momento s�o de outras plataformas.
“A gente espera come�ar os ensaios cl�nicos dessa plataforma de vacina brasileira de RNA logo. Essa � uma tecnologia que � importante a gente dominar, porque ela permite desenvolver vacinas de uma forma mais r�pida e para outros agentes infecciosos tamb�m. A gente precisa buscar isso e est� nesse caminho”.
Corrida contra o v�rus
O secret�rio do Departamento de Imuniza��es da Sociedade Brasileira de Pediatria e representante da SBIm em Pernambuco, Eduardo Jorge da Fonseca, descreve que a transi��o para uma vacina��o de rotina contra a covid-19 est� em discuss�o em todo o mundo. O Reino Unido, por exemplo, decidiu adotar a recomenda��o da vacina aos grupos priorit�rios sugeridos pela OMS. J� outra parte da Europa e os Estados Unidos estenderam a vacina��o a toda a popula��o.
"No momento atual, temos evid�ncias da import�ncia de manter os refor�os com as vacinas bivalentes dispon�veis no Brasil. N�o h� consenso se devemos revacinar todas as pessoas. Provavelmente, tamb�m aqui, adotaremos vacinar os grupos de maior risco com a vacina atualizada. Mas precisamos garantir o aumento da cobertura das vacinas j� dispon�veis, principalmente da pedi�trica".
A corrida constante para manter as vacinas atualizadas contra as cepas circulantes tem sido vencida pelo coronav�rus SARS-CoV-2, que continua a sofrer novas muta��es para adquirir escape imunol�gico. As vacinas continuam comprovadamente efetivas para redu��o
"Com a covid, o tempo passou a correr muito mais r�pido", alerta Fonseca. "Precisamos, sim, de uma vacina com uma prote��o mais prolongada, que seja � prova de variantes". Apesar dessa necessidade, ele refor�a que as vacinas atuais conseguem reduzir de forma importante as chances de interna��o.
Salto evolutivo
O desenvolvimento de uma vacina gen�rica que proteja n�o apenas contra todas a variantes do SARS-CoV-2, mas tamb�m contra todos os coronav�rus � um objetivo das pesquisas que trabalham para manter o controle da pandemia, conta o bi�logo Jos� Eduardo Levi, pesquisador do Instituto Medicina Tropical da USP. O SARS-CoV-2, por�m, tem se comportado de forma totalmente imprevis�vel.
"O v�rus continua evoluindo, e a gente continua sob o risco de sair de controle. N�o compartilho dessa percep��o de que a pandemia acabou", diz ele, que acredita que a imunidade das vacinas somada � imunidade natural gerada pela infec��o tem protegido grande parte da popula��o de casos graves, por�m
"H� uma troca de variantes dominantes a cada quatro, cinco meses. Isso � totalmente imprevisto e se d� por essa press�o seletiva".
Ele alerta que a nova variante em ascens�o nos Estados Unidos e Reino Unido, a BA.2.86, deu um salto evolutivo compar�vel ao que a variante �micron representou em rela��o a suas antecessoras. O pesquisador conta que h� quem considere a �micron um "SARS-CoV-3", porque alterou totalmente o comportamento da pandemia, produzindo uma onda de casos muito mais acelerada.
"Antes da �micron, as variantes de preocupa��o n�o descendiam umas das outras, todas vinham da variante ancestral. Depois da �micron, todas as variantes que se tornaram predominantes foram variantes derivadas da �micron. A hist�ria evolutiva se modifica”.
Levi destaca que � importante vacinar principalmente pessoas imunocomprometidas. Al�m de terem maior risco de morrer com a covid-19, essas pessoas, ao serem infectadas, podem oferecer mais chances de muta��es ao SARS-CoV-2, que permanece por mais tempo no organismo sem ser neutralizado pelas
“A teoria hoje comprovada � que essas variantes surgem principalmente no corpo de pessoas com imunodefici�ncias. Um trabalho cl�ssico acompanhou por 180 dias um paciente imunodeficiente e, gradualmente, h� um ac�mulo de muta��es e dele��es. Tanto que, no dia 180, o paciente continua doente e falece com um v�rus totalmente diferente do v�rus que entrou”.
*O rep�rter viajou para Florian�polis a convite da Sociedade Brasileira de Imuniza��es (SBIm)
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