Twitter: @gustavonolascoB
Quando eu era meninote em Mariana e meu velho pai deixava a nossa casa para a labuta �s 7h, me sentia confiante, pois no momento em que ele chegasse de volta, �s 19h, j� teria se esquecido de me castigar por eu ter jogado bola escondido no hor�rio dos estudos. Batata! Quase sempre funcionava, pois era s� ele colocar o p� em casa, assoviar seu amor por minha irm�, ganhar um abra�o apertado dela e o meu malfeito ca�a no esquecimento.
Ao contr�rio da minha molecagem inofensiva, do esquecimento por cansa�o do meu pai e da inocente troca do caderno pela peladinha no gramado da Igreja de S�o Francisco, o caos vivido pelo Cruzeiro n�o � nada l�dico e nem pode ser transformado em pe�a de nostalgia.
Basta mudar os atores desse enredo para perceber a gravidade. No lugar do meu velho pai entram em cena os 573 conselheiros do clube. J� no meu papel de meninote arteiro ingressam os cartolas que criaram esse colapso institucional vivido no clube. Por fim, troca-se a pequena molecagem pela cancer�gena d�vida de R$ 500 milh�es, constru�da por diversos presidentes do clube e pela omiss�o de centenas de conselheiros e ex-conselheiros. Dramaticidade acrescida ainda de investiga��es das pol�cias Federal e Civil e a��es judiciais que, juntas, est�o jogando o nome do Cruzeiro na lama por hoje ser escudo de terceiros.
Dito isso, comecemos a analisar o �ltimo cap�tulo dessa novela, que aqui vou nominar de “Jogo do Esquecimento”. Seu roteiro pode ser resumido num trecho da �ltima nota do presidente do Conselho Deliberativo, Zez� Perrella: “considerando-se as importantes disputas que nosso time ter� no m�s de julho”, ele empurrou para o m�s de agosto mais uma decis�o que deveria ser tomada de imediato.
Nessa l�gica, o presidente e demais conselheiros em sil�ncio parecem apostar na dem�ncia de n�s, torcedores, e dos s�cios cotistas do clube. Pergunta: em agosto n�o teremos tamb�m “importantes disputas”? Pelo visto, com essa nota est�o certos da nossa desclassifica��o para o Atl�tico de Lourdes na Copa Cruzeiro do Brasil e frente ao River Fregu�s Plate na Libertadores. Al�m disso, t�m uma f� incr�vel de que Mano Menezes se transformar� em Jesus Cristo e milagrosamente multiplicar�, antes de agosto, os 37 pontos restantes para evitar a “atleticaniza��o” de uma S�rie B.
Portanto, fica agora um pedido aos conselheiros do Cruzeiro: n�o nos tratem como idiotas. Todos voc�s est�o nesse posto n�o por obriga��o, mas, sim, porque um dia se candidataram voluntariamente para fiscalizar, prezar pelos valores de luta e honestidade que marcaram os quase 100 anos dessa institui��o nascida na Rua Caet�s. E, principalmente, para tutelarem o destino do maior clube de Minas Gerais, amado e financiado n�o por 573, mas, sim, por 9 milh�es de torcedores/s�cios/consumidores.
Se nada de errado estiver acontecendo, n�o h� o que temer ou protelar. A torcida cruzeirense sempre estar� ao lado de quem faz realmente pelo clube, traz t�tulos e mant�m o Cruzeiro como o �nico gigante de Minas Gerais. Diminuir as cr�ticas dos torcedores a um “efeito manada” ou misturar resultado em campo com obriga��o de organizar internamente a administra��o e moralidade do clube � algo muito pequeno, mesquinho e perigoso.
A Academia Celeste � multicampe� gra�as a dirigentes que montaram elencos; escretes que se uniram e se doaram; t�cnicos que souberam moldar esses perfis, mas a hist�ria precisa ser escrita n�o a partir dos cap�tulos II, III ou IV. Justo � cont�-la a partir do “Cap�tulo I”, e esse se chama “Torcida do Cruzeiro”.
Ali se deve come�ar a hist�ria com: “Era uma vez uma torcida azul celeste. De t�o bela e forte, ela se fez em milh�es e esses milh�es, durante cem anos, mostraram ao mundo o quanto � bonito torcer para um clube praticante do futebol arte e da honestidade”.
Portanto, n�o apostem no nosso esquecimento e, tampouco, sejam desonestos em nos transformar em culpados.
