Sereno, Rodrigo Caetano, 50 anos, � como um experiente enxadrista que conhece perfeitamente as estrat�gias advers�rias - ainda que o tabuleiro seja uma entrevista e o “oponente”, um trio de jornalistas. N�o adianta question�-lo sobre poss�veis contrata��es do Atl�tico ou esperar respostas incisivas sobre epis�dios controversos. Os mais de 15 anos na gest�o de grandes pot�ncias do futebol brasileiro o fizeram entender que cautela e precau��o s�o palavras-chave no trabalho de um executivo para blindar um clube, especialmente em meio � disputa de um t�tulo.

Nos primeiros 28 dias no cargo de diretor de futebol - ocupado anteriormente pelo amigo Alexandre Mattos -, o ga�cho de Santo Ant�nio da Patrulha opta pelo trabalho silencioso. J� tem conhecimento de boa parte dos processos, mas, internamente, d� prosseguimento � an�lise do departamento que comanda. “Ao fazer diagn�stico, n�o necessariamente precisa fazer mudan�a. A ideia � impactar o m�nimo poss�vel no que diz respeito ao dia a dia do clube”, disse, em entrevista exclusiva ao Superesportes (assista no v�deo acima ou leia abaixo).
Caetano, por�m, j� deixou sua assinatura em algumas �reas e fez modifica��es. A primeira delas foi refor�ar e dar mais protagonismo � an�lise de mercado. O pr�ximo passo � otimizar a transi��o de jovens promessas para o profissional. Tudo baseado em experi�ncias, segundo ele, bem-sucedidas em Internacional e Flamengo, �ltimas equipes pelas quais passou.
No entanto, num clube que se prop�e a ser protagonista no continente, o trabalho do diretor n�o se restringe a processos internos. Ativo no mercado e com aporte financeiro de patrocinadores, Rodrigo Caetano j� efetivou a primeira contrata��o para a pr�xima temporada: o atacante Hulk, ex-jogador da Sele��o Brasileira. E, embora n�o confirme - e nem negue -, o dirigente segue � procura de refor�os de peso. Nacho Fern�ndez poder� ser um deles?
A seguir, leia a �ntegra da entrevista de Rodrigo Caetano, que falou sobre finan�as, diagn�stico, categorias de base, refor�os, a continuidade ou n�o dos �dolos Victor e Diego Tardelli e o planejamento para a pr�xima temporada.
Superesportes: Ao mesmo tempo em que tem aporte de investidores para efetuar contrata��es, o Atl�tico tem dificuldades para pagar sal�rios em dia. Como encontrar um equil�brio entre as duas coisas?
Rodrigo Caetano: “Realmente, � um desafio. Posso falar que, dentre as experi�ncias que tive, estou aqui h� pouco tempo, s�o apenas 25 dias aqui, mas se assemelha muito a um modelo que eu tinha no Fluminense, que tinha um parceiro/investidor voltado justamente para fortalecer a equipe, e n�o em tese para a gest�o do clube. Aqui � um pouco diferente.
Os parceiros, investidores… eles preferem at� a palavra colaborador, porque o investidor coloca o recurso e depois tem o retorno financeiro disso. N�o � o caso do Galo, � diferente, eles realmente colaboram sem qualquer ganho financeiro na opera��o. Mas eles exigem muito que o clube caminhe com suas pr�prias pernas na opera��o do neg�cio, na opera��o do clube. Hoje a gente tem um CEO, que � o Pl�nio Signorini, que vem realmente estabelecendo as metas, as diretrizes desse �rg�o colegiado, juntamente com o presidente S�rgio Coelho, para que, justamente, num futuro breve, e tem que ser breve isso, o Galo alcance esse equil�brio, ou seja, tenha por parte dos colaboradores a capacidade do investimento, mas que consiga se auto sustentar com a folha de pagamentos de atletas e funcion�rios.
Para que isso seja poss�vel, obviamente, a gente tem que ter a gera��o de receitas extraordin�rias, que nada mais � ter receitas com vendas de atletas. Espero que a gente consiga isso, retomar isso aqui no Galo, porque n�o � s� aqui, todo grande clube necessita disso. E reduzir custos, n�o tem outra forma. � dif�cil para o torcedor comum entender que n�o � o mesmo dinheiro (para contratar e pagar sal�rios), a verdade � essa. Cabe a n�s, gestores do clube, tentar equilibrar isso. � o que vamos tentar fazer no per�odo que eu aqui estiver”.
SE: Voc� disse que faria um diagn�stico do clube nos primeiros dias como diretor. O que j� identificou e qual o planejamento de curto prazo?
RC: “Primeiro, quero deixar muito claro que, ao fazer diagn�stico, n�o necessariamente precisa fazer mudan�a. Penso que, neste per�odo, � muito mais dar continuidade a tudo que foi feito de bom, ali�s, de muito bom, n�o por acaso o Galo est� disputando o t�tulo e vai disputar at� a �ltima rodada, podem ter certeza disso, e com chance de vencer. A ideia � impactar o m�nimo poss�vel no que diz respeito ao dia a dia do clube.
N�o significa, tamb�m, que n�o estou envolvido com os processos. Tem algumas coisas que precisavam de interven��o imediata. Uma delas: quando a gente fala em an�lise de mercado, todo mundo tem uma vis�o que � a chegada de refor�os. Mas saibam que o desafio, trabalho e energia s�o muito grandes, na recoloca��o de atletas que ou j� se encerraram ou que v�o encerrar seus empr�stimos por outros clubes e que t�m v�nculo com o Galo. � um n�mero consider�vel de atletas. A gente vem trabalhando diuturnamente juntamente com esse departamento de mercado que a gente optou por separar. Uma coisa � an�lise de desempenho, voltado muito mais para atendimento � comiss�o t�cnica, onde o foco � observa��o de advers�rios, de nossos jogos, corre��o de treino, tudo que diz respeito ao jogo em si. E o nosso departamento de mercado, que j� tem a sigla do SIGA aqui no Galo, (� outra). � justamente com foco no mercado, em busca de boas oportunidades, extremamente atento a possibilidades que sejam interessantes para o Galo, recoloca��o de atletas que n�o est�o sendo utilizados no mercado, para tentar rentabilizar os nossos ativos.
E, ao mesmo tempo, ser um bra�o do clube. N�o do diretor executivo, nem do presidente, nem da comiss�o t�cnica. � um n�cleo. Aplicamos isso nos dois �ltimos trabalhos,em Flamengo e Internacional, um n�cleo meio que independente, mas que seja um backup muito importante daquilo que vem acontecendo no mercado e das boas possibilidades, para que, quando n�s tivermos a necessidade, a gente sabe que teremos todas as informa��es poss�veis. Obviamente que esse n�cleo tamb�m tem que nos alertar quando o mercado se apresentar como uma boa oportunidade. Eles t�m que ser muito proativos neste sentido.
Essa � a ideia. Paralelamente a isso, entendo que n�s vamos tentar, de todas as formas, cada vez integrar mais as divis�es de base com o futebol profissional. J� estamos conversando muito a respeito do grupo de transi��o, para que melhoremos cada vez mais o modelo para a pr�xima temporada. Por isso que falo que, agora, estamos a cinco jogos do final da temporada. Modificar as coisas agora, a probabilidade de voc� colaborar � muito pequena. Estamos planejando muito, de forma silenciosa no que diz respeito � montagem de elenco. Todas as quest�es relacionadas aos processos a gente vem trabalhando tamb�m”.
SE: Aqui no Brasil, clubes como Santos e Fluminense s�o refer�ncias na transi��o para o profissional. O Atl�tico foi campe�o brasileiro sub-20 nesta temporada, mas tem poucos jovens no elenco principal. Como melhorar o aproveitamento da base?
RC: “O �ltimo est�gio da base para o profissional � um desafio que todo clube tem que perseguir e solucionar. N�o existe um modelo pronto. Basta voc� entender as caracter�sticas e o perfil do atleta desejado de cada clube. Voc� citou dois clubes que realmente revelam, utilizam muitos jogadores, mas em muitos desses casos, � mais por necessidade do que por filosofia. Temos que inverter essa ordem, inverter essa m�o, fazer por filosofia.
Vou pegar o exemplo do Flamengo, que, mesmo com uma capacidade de gera��o de receitas, que talvez seja a maior de todo o pa�s, n�o deixa de integrar, n�o deixa de colocar os seus jovens e n�o deixa, principalmente, de vender bem. Se voc� for lembrar, desde a venda do Vin�cius J�nior, o Flamengo realmente capitalizou demais com receita oriunda de atletas formados na base. O Santos tamb�m por si s�, por uma quest�o hist�rica e hoje de necessidade. O que a gente deseja aqui � que seja filosofia do clube. E a gente vem debatendo muito para que n�o dependa das pessoas que aqui est�o, e sim uma diretriz do clube.
Eu posso falar que isso ocorreu no Internacional, equipe que estive por �ltimo. Se voc� olhar a equipe que vem jogando hoje, tem quase metade da equipe titular com jovens formados no clube ou buscados ainda com idade de juniores, como foi no ano passado no caso do Yuri Alberto. � isso que a gente vai perseguir, que tenhamos uma equipe altamente competitiva, mas que os refor�os n�o acabem impedindo o surgimento e o aproveitamento de jovens talentos. Vamos desenvolver a nossa f�rmula aqui, pr�pria, encontrar a melhor solu��o, para que essa transi��o seja um facilitador e n�o uma barreira intranspon�vel para esses jovens formados. Tenho certeza absoluta que o Galo tem jogadores de muito bom n�vel nas categorias inferiores”.
SE: A ideia � dar oportunidade a esses jovens no in�cio do Campeonato Mineiro?
RC: “A gente vem conversando muito com a comiss�o t�cnica, com Sampaoli e todo seu estafe justamente nesse sentido. A ideia � essa mesmo, dar um descanso prolongado para aqueles jogadores que tiverem uma maior minutagem no ano. Se n�s n�o dermos essa parada, eles correm um risco muito grande. Para que tenhamos uma temporada sem maiores riscos, a gente tem que destreinar esses atletas para depois colocar carga neles novamente. Esse neg�cio de emendar direto, a fisiologia comprova que n�o � a f�rmula ideal. Ent�o, vai depender muito do n�vel de aproveitamento de atletas ao longo da temporada 2020/21.
O pessoal, seja do sub-20, que estourou idade, ou transi��o, � dali que a gente vai come�ar no campeonato estadual, mas tamb�m com jogadores do elenco profissional que n�o tiveram minutagem elevada. Talvez seja no Estadual que eles v�o ter a condi��o de ter uma regularidade maior. A ideia � essa, partindo sempre de dar um descanso para quem teve uma sequ�ncia forte, com a inten��o de preserv�-los e depois reinici�-los com uma carga maior que permitam eles suportarem o ano inteiro”.
SE: J� h� uma defini��o sobre quais atletas do profissional v�o integrar esse grupo inicial do Mineiro?
RC: “Temos nossas informa��es, mas n�o � o momento de definirmos isso. Estamos em uma reta final e em uma disputa pelo t�tulo. Isso faz parte do nosso planejamento silencioso, ele � interno. No momento certo voc�s v�o saber quem vai ser liberado para um descanso maior e quem vai ter um descanso menor e jogar o Estadual. Tudo tem o seu momento. O momento atual � de pensar nos cinco jogos que faltam”.
SE: Pelo organograma do clube, voc� est� numa posi��o hierarquicamente superior ao Sampaoli. Por�m, sabemos que ele tem uma forte personalidade e grande autonomia, inclusive para indicar contrata��es. Esse status de estrela do treinador, por�m, tamb�m gera algumas cr�ticas. Quando houve o incidente em que Sampaoli e outros integrantes da comiss�o t�cnica foram a uma festa organizada pelo Gabriel Andreata (gerente de futebol) em meio � pandemia, por exemplo, a diretoria optou por n�o punir ningu�m, o que causou grande estranhamento. Publicamente, deu a impress�o de que Sampaoli estava acima do bem e do mal. Como lidar com uma figura como ele no dia a dia, se eventualmente for necess�rio aplicar uma puni��o, fazer uma cobran�a?
RC: “Quero te dizer que, desde o meu primeiro dia aqui, a minha rela��o com o Sampaoli tem sido excelente. N�o tive nenhum tipo de problema. Eu sei que o futebol � feito, constru�do em cima de personagens, constroem imagens de t�cnicos, dirigentes e atletas, quando na verdade, o atleta � o grande protagonista. J� trabalhei com outros vencedores e nunca precisei, de forma nenhuma, impor qualquer tipo de hierarquia. N�o me preocupo absolutamente com isso. Zero.
Me preocupo, sim, que o resultado final ocorra, seja ele no campo ou fora do campo, que todas as pessoas compreendam que realmente o clube est� acima de todos n�s, que as pessoas passam e n�s temos que olhar para tr�s e deixar algum legado no clube. Esse � o meu desafio. At� o presente momento, minha ideia � colaborar, ser um facilitador da comiss�o t�cnica e dos atletas. � nesse sentido. N�o vim aqui para impor autoridade ou autoritarismo. Pelo contr�rio. Minha ideia � ser um facilitador.
Por tudo isso dito do Sampaoli, que � um cara importante, de grande trajet�ria, vencedor, ele sabe muito bem o seu papel, assim como sei o meu. N�o acredito nesse modelo de imposi��o, acredito num modelo de constru��o. Foi assim em todos os clubes que passei. Trabalhei com v�rios treinadores, dos mais diversos perfis, e todos eles se tornaram grandes amigos. Inclusive, no Internacional, tentaram construir um ru�do entre o ex-treinador do Internacional, (Eduardo) Coudet, comigo. E, como eu disse, o futebol � feito de alguns fact�ides, alguns mitos que se constroem e que n�o traduzem a realidade. At� hoje temos �tima rela��o. Quase semanalmente eu falo com o Coudet, que est� no Celta.
Muito do que dizem n�o � verdade. Eu volto a dizer, tenho que me preocupar com o que controlo, o que tento controlar, que � o bom ambiente, a boa rela��o entre as pessoas, os processos. N�o tenho pretens�o de controlar determinado tipo de informa��o, de boato. Isso a� foge do meu controle e n�o pode impactar no meu trabalho. At� o presente momento, tenho a melhor impress�o do Sampaoli e sua comiss�o t�cnica. Realmente, ele � um treinador extremamente capacitado, competitivo, intenso, assim como eu sou tamb�m. Gosto de ganhar, vivo intensamente o jogo, pr�-jogo, p�s-jogo… Durante o per�odo todo, tenho como miss�o ser um facilitador de todos esses agentes que transitam no CT, desde o mais humilde funcion�rio at� a maior estrela da equipe”.
SE: Qual sua percep��o sobre os protestos de torcedores organizados, que antes do jogo contra o Santos foram ao CT? Houve ainda o epis�dio em que a esposa do goleiro Everson recebeu mensagens cr�ticas ao esposo...
RC: “Passei por outros clubes, sempre existiu esse tipo de cobran�a. Eu penso que, se ela for realizada com respeito e sem qualquer ato de viol�ncia, � o direito do torcedor. Eu falo por mim. Eu sempre tive na torcida do Galo um enorme advers�rio, sem d�vida nenhuma o 12° jogador do Galo. Era muito dif�cil, sempre foi muito duro jogar com as equipes que trabalhei contra o Galo aqui em BH. Muito duro.
Eu sei que estamos num momento de pandemia, isso impede que o torcedor esteja ao nosso lado, mas ainda quero viver esse momento do torcedor ao nosso lado, apoiando. N�s estamos numa reta final, faltando cinco jogos, somos o terceiro colocado, a cinco pontos do l�der. Trabalhamos para tentar fazer o nosso torcedor feliz e contente. Gostar�amos, sem d�vida nenhuma, que ele estivesse, no momento, apoiando e incentivando os atletas, porque s�o esses os atletas que v�o lutar pelo t�tulo at� o final. S�o esses profissionais que v�o levar o Galo a essa possibilidade de conquista.
Mesmo n�o tendo torcida, o Atl�tico entra em campo, mais ou menos, com a sua condi��o emocional tranquila. Espero que, com o apoio e n�o com cobran�a demasiada, que a gente tenha tranquilidade para entrar em campo e vencer os jogos que faltam. N�o tenho nada para recriminar. Foi uma manifesta��o. Independente do objetivo, a quem atingiu ou n�o, foi uma manifesta��o ordeira, sem viol�ncia, ent�o o torcedor est� no seu direito.
Gostaria muito que eles estivessem, no momento, fazendo uma manifesta��o de apoio. Ainda tenho certeza que v�o fazer. Temos cinco jogos e eles v�o ver que o Atl�tico tem chance de buscar esse t�tulo, est� lutando para isso. Esses atletas est�o honrando a camisa do Galo e v�o honrar at� o final. Tenho certeza que vou v�-los apoiando em busca desse t�tulo e, no decorrer de todo o ano de 2021, tomara Deus depois da vacina, dentro do est�dio”.
SE: Seus tr�s clubes mais recentes est�o nas tr�s primeiras coloca��es do Campeonato Brasileiro...
RC: “Esse tipo de constata��o que voc� teve realmente � um neg�cio contradit�rio. Quero muito que o Galo chegue em primeiro, mas muito. Mas realmente, � olhar para tr�s e ver que os dois clubes em que trabalhei nos �ltimos sete anos e foram trabalhos ininterruptos - foram quase quatro no Flamengo e tr�s agora no Internacional praticamente. Acho que para um executivo, que n�o � um mero contratador, ele tem que ser muito mais que isso, � quando voc� sai do clube e v� que a continuidade faz com que voc� tenha a possibilidade de conquistas. Nos clubes pelos quais eu passei, acho que consegui aproximar esses clubes de conquistas importantes. Em alguns, consegui. Agora, no Internacional, eu espero que realmente n�s tenhamos for�a suficiente para pass�-los nessa reta final. Mas, por outro lado, � uma constata��o importante e comprovada, de que um executivo n�o pode ser um mero contratador. Ele tem que ter muita responsabilidade nessa hora para n�o onerar demais o clube, para n�o deixar passivo, para melhorar os processos, melhorar a estrutura e tentar fazer com que esses clubes possam conquistar coisas importantes de forma sustent�vel. Obrigado de cora��o a voc�s pelo apoio e vou estar sempre � disposi��o”.
SE: Falando um pouco de mercado, sabemos que o papel do diretor n�o se restringe a isso, mas � o que ‘fica’ na percep��o do torcedor…
RC: “Infelizmente (o que marca s�o as contrata��es), n�? Infelizmente. Dever�amos ser avaliados por um pacote muito maior do que apenas montar um elenco. Vale o registro, desculpa te interromper, mas realmente vale o registro para que mudemos isso. Voc�s s�o importantes nesse processo, voc�s s�o transformadores desse conceito. Porque sen�o o executivo de futebol vai estar cada vez mais atrelado ao resultado de campo, e a descontinuidade vai ser a verdade absoluta. Seremos trocados assim como troca-se, muitas vezes, o treinador, que lutamos tanto para que tenha tempo suficiente de trabalho. Ent�o, vai muito al�m da montagem de elenco”.
SE: Como foram as negocia��es para contratar Hulk? E como pagar um sal�rio alto, bem superior � m�dia do futebol nacional?
RC: “� outra situa��o que a gente tem que tentar desconstruir. O Hulk � um jogador internacional, um jogador que volta ao pa�s depois de muito tempo, vencedor l� fora, (com passagem pela) Sele��o Brasileira. Conseguimos convenc�-lo de que este projeto, o retorno dele ao Brasil, tinha que ser aqui no Galo. Realmente, tivemos praticamente quase tr�s semanas... Desde o dia da minha chegada, praticamente. Foi uma conversa inicial do ano passado, pelo Alexandre Mattos, e que me parece que n�o teve andamento, realmente n�o sei o motivo.
Mas a�, depois da retomada, j� em janeiro, e particularmente ele, Hulk, foi decisivo na tomada de decis�o, principalmente a sua advogada, que � a doutora Marisa (Alija). Ela foi decisiva, veio a Belo Horizonte mais de uma vez, justamente para n�s estabelecermos esse projeto. Porque um jogador com essa marca tem que ter seguran�a daquilo que o clube oferece a ele. E n�o � uma seguran�a financeira, n�o. Porque ele abriu m�o de propostas muito melhores fora do Brasil para atender a esse convite do Galo. Ent�o, foi um encontro de interesses: n�s, em contarmos com ele, um jogador importante; e ele, que viu no Galo realmente a melhor casa para retornar ao pa�s.
Como eu j� disse, com participa��o importante da doutora Marisa e acho que muito provavelmente tamb�m da fam�lia do Hulk, que queria ficar no Brasil. Agora, o Atl�tico faz aquilo que pode fazer. O Hulk era um jogador livre (no mercado) e que por isso se viabilizou, diferentemente de voc� fazer uma contrata��o de peso em que muitas vezes voc� tem que fazer um aporte financeiro inicial de investimento. E a� sim voc� obrigatoriamente tem que contar com esse �rg�o colegiado, com os parceiros que tanto j� investiram no clube. � um modelo diferente, um projeto de dois anos, com todos os vencimentos alongados durante o per�odo. Obviamente, todos partem do princ�pio de que � algo fora da realidade, mas � algo que, pode ter certeza, o Atl�tico vai poder cumprir, justamente por conta disso: o jogador � livre. Sendo livre, voc� tem que computar o todo da opera��o, sem ter que botar um investimento inicial, porque a� realmente a coisa ia ficar invi�vel”.
SE: Como evitar que a contrata��o de grandes estrelas tirem espa�o da base?
RC: “Eu penso que elas n�o s�o excludentes. Fosse assim... Uma das escolas mais exaltadas no mundo � justamente a do Barcelona. O pr�prio Messi foi forjado dentro de La Masia (base do Bar�a). Ou seja, comprovadamente eles forjaram um dos maiores �dolos da hist�ria - se n�o for o maior �dolo - dentro de casa. Quantos outros passaram por l� de investimento? O pr�prio Ronaldinho - os dois Ronaldos -, que foram antecessores ao Messi. Ent�o, quem sabe esses que passaram viabilizaram o surgimento do Messi. Por isso, vejo que n�o � excludente. Na minha vis�o, se voc� tiver bons valores, jogadores consagrados, voc� ao inv�s de prejudicar, facilita o surgimento de jovens valores no clube”.
SE: O Atl�tico tem se notabilizado por realizar grandes e midi�ticas contrata��es nos �ltimos anos. Ronaldinho, Robinho, Fred…
RC: “E se voc� puder rentabilizar isso num marketing bom... Realmente, � um papel do departamento de marketing e de m�dia do clube. Acho que at� o presente momento, eles est�o de parab�ns. Nesse curto per�odo em que o Hulk est� conosco - na verdade nem chegou ainda, chega esta semana -, que est� oficialmente contratado pelo Galo, acho que eles est�o trabalhando muito bem para justamente rentabilizar a chegada dele, por ser realmente um jogador de renome internacional. � dessa forma. Um clube n�o � feito s� do departamento de futebol. Ele � feito de v�rios departamentos que convergem para que o futebol seja forte.
Fiquei muito satisfeito e feliz com aquilo que vi do clube, principalmente nessa contrata��o espec�fica do Hulk, da mobiliza��o de todos os departamentos em dar a devida import�ncia para a chegada dele. Ainda n�o terminou. Ele ainda chega esta semana para exames m�dicos e treinamentos. Tenho certeza que aquilo que for poss�vel a gente vai fazer para dar notoriedade e import�ncia. No mais, � como eu disse: utilizar a imagem dele, assim como de outros que aqui j� est�o, para dar a sustenta��o necess�ria para a afirma��o e surgimento de jovens valores no clube”.
SE: Nacho Fern�ndez pode ser a pr�xima contrata��o impactante e midi�tica do Atl�tico?
RC: “Eu sei que � o teu papel perguntar, assim como o meu papel e a minha responsabilidade � s� falar de negocia��o quando ela realmente estiver concretizada. Falou-se por muito tempo sobre essa situa��o do Hulk, e isso andou por tr�s semanas. No dia em que finalizamos, nesse mesmo dia, foi que a gente comunicou oficialmente a todos voc�s e, principalmente e obviamente, ao nosso torcedor. Ent�o, n�o vai ser diferente nas demais. Ficar falando em tese... J� vi muita coisa no futebol, sobre negocia��es estarem praticamente sacramentadas (e n�o darem certo). Nunca tive essa experi�ncia, porque creio que tenho excesso de zelo nesse sentido. E n�o vai ser diferente. Independentemente do nome, n�o vai ser diferente.
Prefiro e s� vou falar a respeito de algum atleta quando ele j� estiver com contrato assinado, no m�nimo. Espero que voc� me compreenda. E tamb�m n�o vou falar em posi��es, como muito se divulga a�, porque, primeiro, n�s estamos numa reta final e temos chances reais de conquista. E seria pouco inteligente da minha parte ficar falando daqueles que est�o por chegar ao inv�s de falar daqueles que est�o aqui lutando por esse t�tulo. N�o � o momento para isso. A gente, quando contratar algu�m - e se contratar -, vai comunicar. Tenho certeza que voc� vai entender o porqu� desse zelo todo. Tem muita coisa em jogo ainda nesses cinco jogos”.
SE: Falando, ent�o, de atletas que est�o no elenco... Diego Tardelli tem contrato s� at� o fim de fevereiro e j� demonstrou insatisfa��o por n�o ser aproveitado por Sampaoli. Como voc� lidou com isso internamente? � de interesse do Atl�tico renovar o v�nculo com o atacante?
RC: “Primeiro que eu conversei, sim, com o Diego, at� porque eu o conhecia l� do Sul, como advers�rio que foi. Ele estava no Gr�mio, eu estava no Inter. Ele � um dos maiores �dolos do Atl�tico, pelas conquistas e pelo que representa. Tem contrato at� o final de fevereiro, at� o final do Campeonato Brasileiro. O contrato foi estendido justamente por conta dessa temporada totalmente at�pica. No momento certo, vai ser debatido.
Agora, as conversas que todos n�s tivemos, tanto o Sampaoli, como comigo aqui, foi no sentido de ter o foco s� nessa reta final. Qualquer tipo de decis�o em rela��o a isso vai ter o seu momento e vai ter a devida import�ncia que merece. Mas hoje, como eu disse, � muito dif�cil fazer qualquer progn�stico, porque o nosso foco aqui est� no campeonato � parte, que � o jogo a jogo: fazer a nossa parte, vencer os nossos jogos e esperar que os nossos concorrentes que est�o acima da gente possam ter algum tipo de trope�o.
Mas ele certamente est� tranquilo, ansioso, porque teve muito tempo parado, lesionado, e querendo realmente colaborar. � isso que a gente tem que valorizar neste momento. Ele quer ser participativo e colaborativo nessa reta final. Isso � leg�timo e s� engrandece a imagem que todos n�s temos dele. A situa��o dele vai ser tratada no momento certo, com a devida import�ncia que merece. At� o momento, o foco � nessa reta final”.
SE: O caso do Victor, que tamb�m tem contrato at� o fim do m�s, � semelhante? Sabemos que ele cogita tamb�m a possibilidade de se aposentar...
RC: “A situa��o do Victor difere um pouquinho pela pr�pria idade. O Victor, posso falar com propriedade, porque eu estava no Gr�mio e fui eu que pessoalmente o contratei quando ele ainda jogava no Paulista de Jundia�. Ele chegou ao Gr�mio em 2008 e, de l� para c�, se transformou em ‘S�o Victor’ aqui do Galo. � extremamente identificado com o clube, jogou s� aqui. Est� numa idade em que ele, Victor, tem que tomar uma decis�o pessoal antes de qualquer coisa. O que posso garantir para voc�s � que o Galo vai, de todas as formas, reconhecer e preservar �dolos como Tardelli e Victor.
� claro que eles est�o em momentos distintos das carreiras, o Tardelli � um pouco mais jovem. Mas o Victor � uma decis�o pessoal. Ele realmente est� pensando sobre o que pretende para o futuro dele, com toda a liberdade que tem n�o s� comigo, mas com toda a diretoria do Galo, para que a gente possa desenhar qual vai ser o futuro dele, principalmente na profiss�o. No Galo, tenho certeza que ele ser� eterno. S� temos que ver de que forma... Se ele vai seguir jogando ou n�o vai seguir jogando, sobre o que ele pretende em n�vel de continuidade na carreira dele. Mas isso � uma decis�o pessoal dele e tamb�m conversas que temos de forma privada. No momento em que tivermos uma defini��o, comunicaremos a todos voc�s, com certeza”.
SE: H� defini��o sobre o futuro de Calebe, Matheus Castilho e Matheus Mendes? S�o tr�s jovens que se destacaram durante per�odo de empr�stimo nesta temporada.
RC: “Eu posso adiantar que tanto o caso do Calebe, quanto do Castilho, a inten��o � de que permane�am, sim. O clube, hoje, pretende fazer a aquisi��o deles e dar a continuidade aqui. Caso algum deles n�o tenha espa�o nesse primeiro momento, a gente vai tratar como grandes ativos. Ou seja, se de repente tiverem que sair para um empr�stimo para ter um pouco mais de experi�ncia, seja antes ou ap�s o Estadual, assim o faremos. Mas em rela��o � perman�ncia deles no quadro de atletas do Galo, essa � a ideia. O Matheus, estamos conversando um pouquinho mais profundamente com a comiss�o t�cnica para realmente tomar uma decis�o que seja favor�vel ao Atl�tico e ao atleta tamb�m. N�o impedir que ele progrida na carreira sem ter uma perspectiva aqui no Galo. No momento em que a gente tiver uma decis�o oficial, a gente tamb�m comunica a voc�s”.