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Estado de Minas CRUZEIRO X ATL�TICO

O cl�ssico das aus�ncias: homenagem a torcedores calados pela COVID-19

Cruzeiro x Atl�tico ter� vazio muito maior que o das arquibancadas: o deixado nos cora��es de parentes e amigos de v�timas da pandemia


11/04/2021 04:00 - atualizado 11/04/2021 09:15

(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.a press)
(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.a press)

Passados 13 meses desde que a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) classificou como pandemia a dissemina��o do novo coronav�rus, a COVID-19 j� matou cerca de 350 mil brasileiros. Muitos deles, vozes que se calaram nas torcidas de Cruzeiro e Atl�tico, que disputram hoje o primeiro cl�ssico desde o in�cio da crise sanit�ria.

S�o pais, irm�os, filhos, av�s que vivem agora nas mem�rias de familiares e amigos. Exemplos de amor aos clubes de cora��o, faziam loucuras para ver suas equipes em campo. Viveram gl�rias e tamb�m choraram maus resultados, inclusive contra o maior rival. Angariaram adeptos, influenciaram companheiros, riram e foram v�timas de piadas, sentiram toda a emo��o que o futebol � capaz de proporcionar.

Hoje, a partir das 16h, quando a bola rolar no Mineir�o pela nona rodada do Campeonato Mineiro, esses torcedores ser�o lembrados mais uma vez, na certeza de que onde estiverem torceriam para o azul e branco ou para o alvinegro. Representando essa torcida agora silenciosa, o EM lembra as hist�rias de uma sele��o de apaixonados pelo futebol. Pois o v�rus � perigoso, tira vidas, mas n�o mata as mem�rias. Nem a paix�o.

Pablito
(foto: Instagram-23/3/21)
(foto: Instagram-23/3/21)

Pablo Roberto Quirino Soares Peruhype era filho de pais cruzeirenses, mas adotou o time celeste como religi�o por influ�ncia do narrador Alberto Rodrigues. Fez parte da Torcida Fanati-Cruz e se tornou um dos maiores influenciadores da China Azul na internet. Segundo o amigo Marcelo Aguiar, nos �ltimos meses perdia noites de sono pensando em como ajudar o clube a se reerguer. N�o perdia um jogo do Cruzeiro, principalmente os cl�ssicos, aos quais gostava de chegar cedo. Morreu em 23 de mar�o, aos 39 anos, deixando a m�e, Maria Jos�, e o filho Gabriel, al�m de legi�o de amigos, sendo dos poucos com tr�nsito livre entre organizadas celestes que n�o se entendiam bem.

Biagio Peluso
(foto: Auremar de Castro/EM - 28/6/07)
(foto: Auremar de Castro/EM - 28/6/07)

Integrante de uma das mais tradicionais fam�lias italianas no Cruzeiro, Biagio Teodoro Francesco Peluso se associou ao clube ainda nos anos 1960. Sempre teve participa��o ativa, tendo sido vice-presidente entre 2006 e 2011 e de junho do ano passado at� a morte, em 13 de dezembro de 2020, aos 71 anos, tendo acumulado, nesse �ltimo per�odo, a Diretoria Executiva. “Homem de bem, que topou o desafio de voltar (� dire��o) no momento mais dif�cil da hist�ria do nosso clube”, escreveu o presidente S�rgio Santos Rodrigues. Outro vice, Edson Potsch, prestou homenagem: “Biagio Peluso, voc� que honrou o nome do Cruzeiro, estar� eternamente na nossa hist�ria e cora��es”.

�talo M�rcio Batista Astoni
(foto: Arquivo pessoal )
(foto: Arquivo pessoal )

Nasceu em Joaquim Fel�cio, Norte de Minas, e cultivou a paix�o pelo Cruzeiro desde 1960, ano em que se mudou para BH. Viu de perto os feitos do time formado por Raul, Proc�pio, Piazza, Z� Carlos, Dirceu Lopes, Tost�o, Evaldo, Natal e companhia. Na d�cada seguinte, vibrou com a conquista da Libertadores e o gol do �dolo Jo�ozinho. Ass�duo no Mineir�o, sempre fez quest�o de levar os filhos �talo J�nior, T�lio e S�lvia aos jogos. No local, uma grande caixa d’�gua, estampada com o escudo celeste, atra�a os olhares de quem passava. �talo morreu por complica��es da COVID-19 em 30 de janeiro passado, aos 73 anos. Deixou a esposa, Cida, os tr�s filhos e quatro netos.

Dudu
(foto: Arquivo pessoal )
(foto: Arquivo pessoal )

Apenas 27 dias depois de completar 45 anos, Eduardo Alves Lopes entrou para as estat�sticas das v�timas da COVID-19 na ter�a-feira. A paix�o do belo-horizontino pelo Cruzeiro veio de fam�lia e aos 10 anos ele j� integrava o Movimento Azul Cruzeirense. Dois anos depois, j� estava na estrada para incentivar o time fora de BH, como conta Jacqueline Santos, vi�va do torcedor. Ele deixou tamb�m a filha Paola, de 5 anos, a m�e e dois irm�os. No Mineir�o, ficava sempre no �ltimo degrau do setor amarelo. Em casa, o ritual durante as partidas inclu�a sentar sempre no mesmo lugar e colocar outras camisas, al�m da que estava usando, sobre o sof�, como se tivesse companhia de outros torcedores.

Marcolino
(foto: Arquivo pessoal )
(foto: Arquivo pessoal )

Marcos Aur�lio dos Santos Tom� era funcion�rio da Prefeitura de Raposos, onde comandou a Liga de Desportos. Mas liga��o mais forte com o mundo esportivo era mesmo o Cruzeiro. Uma das maiores alegrias foi a conquista da Libertadores de 1997, batendo o Sporting Cristal-PER, � qual acompanhou da arquibancada do Mineir�o. “Foi uma festa linda”, dizia. Nos cl�ssicos, gostava de vaticinar vit�rias celestes e n�o desgrudava do radinho, mesmo vendo o jogo pela TV. Morreu em 12 de julho de 2020, no dia em que completava 55 anos. Deixou a esposa Judith, os filhos Talita, Michael, Talisson e Tain�, al�m das netas Mariana, Maria J�lia, Alice, Maria Laura e Cec�lia.

Dudi
(foto: Arquivo pessoal )
(foto: Arquivo pessoal )

At� 3 de abril, quando morreu aos 39 anos, Marcelo Passos tinha duas grandes paix�es: primeiro o Atl�tico, depois, o jiu-j�tsu. Segundo os companheiros, n�o perdia um jogo em Belo Horizonte, e ainda acompanhava a equipe Brasil afora sempre que podia. Assim, esteve em S�o Paulo, Rio, Curitiba, Goi�nia, al�m de cidades do interior de Minas. Certa feita, na capital paranaense, perdeu o �nibus de volta para BH depois de um jogo, mas n�o se apertou e aproveitou para conhecer melhor a cidade. Pelas amizades que fez, ingressou na Galoucura, na qual, a despeito da fama das torcidas organizadas, sempre pregou a paz. “Era exemplo”, dizem os amigos. Partiu deixando a m�e, Eunice.

Seu Bahia ou seu Cita
(foto: Arquivo pessoal )
(foto: Arquivo pessoal )

Francisco de Assis Bahia de Carvalho nasceu em C�rrego Danta, Centro-Oeste mineiro. Na d�cada de 1950, ao se mudar para BH, conheceu a esposa, Rosa, e ficou mais pr�ximo do clube do cora��o. Em 1971, foi em caravana para o Rio, onde testemunhou a conquista do Brasileiro. Na inf�ncia dos filhos Anderson, Eloara e Alisson, quando ia ao Mineir�o gostava de passar pela Charanga do Galo, para sentir a emo��o e transmitir a paix�o pelo alvinegro aos pequenos. J� com idade avan�ada, deixou de frequentar o est�dio e via as partidas pela TV. Morreu em 25 de mar�o, aos 88 anos. Deixou esposa, tr�s filhos e seis netos: Giorgio Lucca, Giulia Gabriella, Rafael, Luiza, Thor e L�via.

Rafa “Pinguim”
(foto: Arquivo pessoal )
(foto: Arquivo pessoal )

Entre torcedores, Rafael Bruno Bitencourt ganhou o apelido de Pinguim. N�o perdia cl�ssicos, a ponto de, em 7 de mar�o do ano passado, avisar � fam�lia que s� ficaria at� 15h no almo�o de comemora��o dos seus 29 anos. “Tem jogo do Galo”, justificou. Segundo a irm� Bruna, s� vestia camisas relacionadas ao clube. “Era realmente a segunda pele”, diz ela, recordando o anivers�rio de um sobrinho cruzeirense, ao qual todos deveriam ir de azul ou branco: “Ele foi com a camisa do Atl�tico”. Morreu em 2 de abril, aos 30, e foi sepultado com a camisa de que mais gostava, ao som do hino atleticano. Deixou pais, irm�os e a noiva, com quem se casaria em 12 de junho.

Os Ata�de

A fam�lia Ata�de perdeu dois de seus pilares em setembro, quando se foram Jos� Paulo Silveira Ataide (foto), ent�o com 74 anos, no dia 8, e Juscelino Eust�quio Ata�de, o Tino, de 73, no dia anterior. O Atl�tico perdeu dois dos mais fervorosos torcedores. Eram os mais velhos de 15 irm�os. Z� Paulo foi vereador, secret�rio de Sa�de e candidato a prefeito de Brumadinho. Deixou vi�va, quatro filhos e seis netos. Tino n�o deixou descendentes. A paix�o pelo alvinegro era tamanha que os levou de t�xi ao Maracan�, em 1971, para assistir � conquista do Brasileiro diante do Botafogo. Eram frequentadores ass�duos dos jogos, at� a pandemia mudar tudo. Definitivamente.

Doutor Marc�o
(foto: Mineirão/Divulgação)
(foto: Mineir�o/Divulga��o)

O amor do pediatra Marcos Evangelista de Abreu vinha de ber�o e foi passado para o ber�o dos filhos, como bem explica Guilherme, de 17 anos. “Lembro-me de a gente cantando juntos o rap do Galo, quando eu era muito pequeno”, conta. Para vestir, quando n�o estava trabalhando, unia o branco da profiss�o ao preto, tendo “mais de 10 camisas do Galo”. Esteve presente no �ltimo cl�ssico com torcida, em 7 de mar�o de 2020, e vibrou muito com o gol de Otero, que deu a vit�ria ao alvinegro. Ultimamente, al�m do bom momento do time, estava entusiasmado com a constru��o do est�dio pr�prio. Morreu aos 54 anos, em 22 de janeiro, deixando, al�m de Guilherme, a filha Nat�lia e a mulher, D�bora. 

O “anfitri�o”
GILBERTO
(foto: Mineirão/Divulgação)
(foto: Mineir�o/Divulga��o)

Gilberto Fernandes de Almeida era um dos funcion�rios mais conhecidos do “novo” Mineir�o. Afinal, a fun��o de respons�vel pela �rea de competi��o do est�dio o obrigava, desde que foi admitido, em 2013, a ser um dos primeiros a chegar e dos �ltimos a sair. Recebia as delega��es, era respons�vel pelos vesti�rios, pelo apoio � arbitragem e a tudo que se relacionava ao campo de jogo. E, geralmente, “apagava” as luzes, pois conferia se todos os acessos � �rea de competi��o estavam fechados e acompanhava a sa�da do �ltimo profissional de imprensa e dos respons�veis pelo exame antidoping. Nasceu no Rio, em 16 de mar�o 1962, e se tornou uma das v�timas de morte da COVID-19 em 31 de mar�o de 2020. Deixou a m�e, que mora em Anchieta (ES), as filhas Stephanie e Let�cia, e dois netos, Bernard e Giovanna.  

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