
Como todo surfista profissional, o australiano Owen Wright sempre est� em busca da onda perfeita, mas isso n�o o impede de esquecer os riscos do esporte pelo qual � apaixonado.
Ele vai direto ao ponto. "Tive de aprender a andar de novo e a voltar a surfar."
A temporada de 2015 ia muito bem para Wright, que ficou em quinto lugar no WSL Championship Tour (Circuito Mundial de Surfe). Na ocasi�o, ele estava no auge de sua forma f�sica e buscando o t�tulo mundial.
Mas enquanto treinava para o torneio no Hava�, um wipeout (quando o surfista cai da prancha ao surfar uma onda) mudou tudo.Uma onda de mais de 4 metros o acertou em cheio, deixando-o com hemorragia e incha�o no c�rebro, al�m do diagn�stico de uma les�o cerebral traum�tica.
"Alguns dos detalhes ainda est�o um pouco confusos para mim", diz Wright � BBC Sport.
"Uma onda quebrou na minha cabe�a e me sacudiu tanto que eu meio que perdi os meus sentidos. Foi um longo caminho de volta a partir da�. Me disseram que tudo ainda est� l� (no meu c�rebro), � s� reconectar esses padr�es cerebrais."
O surfe corre nas veias da fam�lia de Wright. Ele e seus quatro irm�os surfam; a irm� Tyler � bicampe� mundial feminina, enquanto o irm�o Mikey tamb�m participa do WSL Championship Tour.
"Meu pai compartilhava da teoria de que se voc� consegue fazer um filho surfar, � f�cil ser pai", brinca ele.
Quando Wright sumiu dos campeonatos e dos olhos do p�blico, foi sua fam�lia quem o ajudou a se recuperar da les�o.
Ele relutava em aceitar a gravidade do problema e agia "como se n�o houvesse nada de errado" porque o dano n�o era vis�vel — sem cortes ou arranh�es, sem gesso ou muletas.
No final, a fam�lia teve que intervir.
"Acho que nunca entendi totalmente a seriedade disso por causa da natureza da les�o. Fiquei um pouco doid�o", diz o atleta de 31 anos.
"Se voc� perguntar aos meus amigos e fam�lia, eu estava tentando surfar o tempo todo. Eles tiveram que esconder minhas pranchas de surfe. Mal conseguia andar toda a extens�o da casa, mas ainda assim continuava a tentar surfar."
Quando finalmente conseguiu reaver suas pranchas, alguns meses depois, o retorno � �gua n�o foi t�o f�cil como esperava.
"N�o conseguia ficar de p�. Simplesmente n�o sabia como me levantar."
Isso foi em mar�o de 2016.
Um ano depois, em mar�o de 2017, ele venceu o Quiksilver Pro Gold Coast — sua primeira competi��o de volta ao circuito, 15 meses ap�s seu acidente.
Foi uma vit�ria especial tamb�m por outro motivo. Ele derrotou na final seu melhor amigo, Matt Wilkinson, que esteve ao seu lado durante sua recupera��o, e foi recebido na praia por sua agora esposa Kita e seu filho beb�.
"Ainda estava muito afetado e havia muita briga sobre se deveria estar surfando ou n�o", lembra Wright.
"Para mim, ganhar aquela primeira competi��o do ano foi algo extremamente especial, e me mostrou o poder de sonhar, de ter um objetivo em mente e nunca perd�-lo de vista."

Wright permaneceu com efeitos duradouros da les�o, embora "nada do que realmente possa reclamar". Ele toma precau��es extras agora e muitas vezes pode ser visto vestindo um capacete durante os treinos e competi��es.
Esse item de prote��o � raro no surfe, mas Wright quer v�-lo se tornar mais comum. Tornou-se assim um de seus mais not�rios defensores.
"Uso sempre que sinto que h� risco para mim. Se o fator de risco aumenta, coloco um capacete", diz ele.
"Se tem muita gente e o mar est� lotado, coloco o capacete, porque existe o risco de a prancha atingir minha cabe�a. Se as ondas s�o grandes, coloco. Se tem pedra, tamb�m."
"H� muitos surfistas por a�, desde iniciantes a excelentes surfistas, que n�o est�o entendendo o risco para sua cabe�a e seu c�rebro. Existe uma solu��o simples para isso. Existe um capacete e quero que ele se torne parte do surfe."
Owen Wright estava usando capacete quando venceu o Tahiti Pro Teahupo'o em 2019 — com uma das maiores ondas do mundo. Tamb�m pode vir a usar um nas pr�ximas semanas quando ele, e o surf, fizerem sua estreia ol�mpica em T�quio.
Ao contr�rio do Taiti, onde ser�o realizadas as provas de surfe das Olimp�adas de Paris 2024, o Jap�o n�o � conhecido pela pr�tica do esporte e a praia de Tsurigasaki n�o oferecer� as maiores ondas aos competidores.
Mas os Jogos foram a luz no fim do t�nel para Wright, uma chance de vestir as cores de seu pa�s no maior evento esportivo do mundo e levar o surfe a um novo p�blico.
"As Olimp�adas eram um grande objetivo meu", diz ele. "Eu meio que perdi o ritmo do t�tulo mundial devido a uma les�o na cabe�a e minha capacidade de fazer manobras estava bastante prejudicada, mas ainda consigo surfar muito bem, e via a classifica��o para as Olimp�adas como uma possibilidade muito real."
"Ent�o, coloquei todo o meu esfor�o nisso e acabei me classificando em primeiro lugar na Austr�lia. Foi um momento em que senti que estou de volta."
"Adoro conquistar coisas no esporte e senti que n�o fui capaz de alcan�ar o que gostaria (depois da les�o). Ser selecionado para as Olimp�adas foi, assim, uma vit�ria pessoal."
E ser� que uma vit�ria ainda maior est� por vir?
"Acho que vai ser interessante", diz Wright. "Acho que tenho uma chance muito boa."
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