Bras�lia – Para tomar as dores do outro, basta conhec�-lo. Ou, ao menos, conhecer algu�m igual a ele. � o que sugere uma pesquisa norte-americana publicada recentemente no site especializado eLife. Com a ajuda de ratos de laborat�rio, a neurobi�loga Inbal Bartal, da Universidade de Chicago (EUA), conseguiu mostrar que os bichos se mostram mais suscet�veis a ajudar outros de linhagens diferentes depois de terem vivido com animais daquele mesmo tipo. O resultado indica que o desenvolvimento da empatia no mundo animal pode ocorre independentemente da gen�tica: a conviv�ncia estimula o comportamento pr�-social em rela��o a quem � diferente.
Desta vez, a pesquisadora quis descobrir se o ato de solidariedade estava relacionado com a similaridade gen�tica. Depois de repetir o experimento do rato branco libertando um desconhecido parecido com ele, Inbal Bartal refez o processo com um animal de mancha preta preso no tubo. A maioria dos bichos submetidos � experi�ncia, que nunca tinha visto um roedor que n�o fosse albino como eles, deixou a outra cobaia encarcerada na pris�o transparente. Isso poderia corroborar a teoria da origem gen�tica da empatia, n�o fosse pela segunda rodada de experimentos da pesquisa.
Na parte seguinte do trabalho, os ratos brancos passaram uma temporada com um companheiro manchado. Depois de duas semanas, ao ver outro bicho com o pelo preto e branco (padr�o que j� lhe parecia familiar), a cobaia logo abriu o tubo que torturava o animal. “Eles circulavam muito o tubo, o que mostra um padr�o de comportamento t�pico da preocupa��o emp�tica. Eles mordiam o recipiente, cavavam sob ele, se comunicavam com o rato preso tentando libert�-lo”, conta Inbal Bartal.
No fim, a pesquisadora decidiu usar ratos albinos que haviam crescido cercados somente de roedores de mancha preta. Quando ele finalmente encontrou o primeiro roedor branco de sua vida, ele estava dentro da pris�o cil�ndrica. Nesse caso, o tubo permaneceu intocado pela maioria das cobaias albinas: o bicho preso, apesar de geneticamente semelhante, parecia um estranho. Isso sugere, de acordo com Bartal, que os animais n�o precisam conhecer um indiv�duo para demonstrar empatia – � necess�rio somente que a linhagem do bicho em quest�o seja familiar.
Experi�ncia emocional Os resultados adicionam mais uma pe�a ao debate sobre a origem da empatia. O comportamento pr�-social � visto por alguns especialistas como um fen�meno biologicamente determinado e compartilhado entre todos os mam�feros como um resultado do instinto de sobreviv�ncia. “Isso, de fato, � desencadeado pelas press�es evolutivas. Porque, se voc� n�o auxilia membros da sua esp�cie, ela se extingue”, diz Eliane Falcone, professora do Instituto de Psicologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). A complexidade desse sentimento, no entanto, varia de acordo com a intelig�ncia emocional do animal. Um cachorro � capaz de sentir a tristeza do dono, mas nunca poder� se colocar no lugar dele. Para esse tipo de comportamento mais sofisticado, o ser humano recorre � aprendizagem. “A empatia tem predisposi��o da sobreviv�ncia, mas � claro que nossas experi�ncias e v�nculos afetivos t�m influ�ncia muito grande”, completa Falcone.
Inbal Bartal acredita que o experimento � um bom modelo para estudar a influ�ncia do conv�vio social nesse tipo de comportamento. Assim como os roedores familiarizados com uma variedade maior de animais ajudavam mais cobaias, pessoas podem ser motivadas a agir em favor do outro se expostas a diferentes tipos de indiv�duos.
No ser humano, a atitude pr�-social come�a nos primeiros meses de vida. � no desenvolvimento de intimidade com a m�e que a crian�a cultiva a habilidade de compartilhar o sentimento de outros. O comportamento positivo tamb�m � influenciado pelos exemplos dados por adultos, que podem expressar solidariedade na frente da crian�a. O terceiro principal fator que molda a simpatia de uma pessoa em rela��o a outros � justamente a socializa��o desde a inf�ncia: ao conhecer o outro, humanos s�o capazes n�o somente de se relacionar com aquele indiv�duo, mas tamb�m de adquirir maturidade emocional para lidar com novas pessoas no futuro.
“A socializa��o da crian�a vai ajudar muito. � medida que ela � colocada diante de pessoas diferentes dela e que ela tenha boas experi�ncias, isso vai colaborar para que ela tenha uma vis�o aberta, flex�vel e liberal dos relacionamentos”, diz Gisele da Silveira, professora de psicologia da Pontif�cia Universidade Cat�lica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Uma experi�ncia social diversificada, defende a psic�loga, � fundamental para que um indiv�duo cres�a livre de preconceitos e de intoler�ncia. “Com isso, ela tamb�m tem mais facilidade para aceitar os outros e compreender diferen�as, al�m de perceber o sentimento alheio.”
O AMBIENTE
Nas diferentes vers�es realizadas do experimento, os pesquisadores criaram a seguinte situa��o: um rato albino era colocado em uma gaiola, dentro da qual havia um segundo animal preso a um tubo transparente e muito apertado. Esse tubo s� podia ser aberto por meio de um mecanismo exterior, ao qual s� o primeiro rato tinha acesso.
