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Estado de Minas

Einstein era um g�nio demasiado humano

N�o bastasse ser o maior f�sico da hist�ria, Albert Einstein impressionava todos pelo bom humor, pelo engajamento pol�tico e pela incondicional defesa da paz


postado em 14/01/2015 00:12 / atualizado em 14/01/2015 12:49

Paloma Oliveto

(foto: Arte D.A Press )
(foto: Arte D.A Press )

Durante quatro d�cadas, o patologista Thomas Harvey manteve, em um pote de vidro, um estranho objeto roubado. Isso lhe custou o emprego, o casamento e a estabilidade. Como um n�made, o ex-m�dico passou todo esse tempo cruzando os Estados Unidos sem se desfazer do “tesouro”. Apenas em 1997 abriu m�o do conte�do do recipiente. Naquele ano, decidiu que era hora de devolver � fam�lia de Albert Einstein algo que havia sido subtra�do do g�nio: o c�rebro dele. Nesta �ltima reportagem da s�rie sobre Albert Einstein, o Estado de Minas relembra como foi sua morte e  alguns trechos importantes de sua trajet�ria.

Em 17 de abril de 1955, Einstein deu entrada no Hospital de Princeton, em Nova J�rsei, nos EUA, reclamando de dor no peito. Aos 76 anos, o cora��o do ent�o professor do Instituto de Estudos Avan�ados da universidade local estava prestes a parar. O cientista trabalhava em um artigo sobre o anivers�rio do Estado de Israel, fundado sete anos antes, e levou para o hospital o rascunho do texto. N�o houve tempo de conclu�-lo. Na manh� seguinte, a veia aorta de Einstein rompeu-se, e ele morreu sem interven��es cir�rgicas desnecess�rias, do jeito que planejou: “Quando for a hora de partir, farei isso com eleg�ncia”.

Harvey era o patologista de plant�o e coube a ele autopsiar o corpo do cientista. Sem que ningu�m ordenasse ou soubesse, retirou os olhos e o c�rebro de Einstein. Os globos oculares foram enviados a um oftalmologista amigo do m�dico. Mas o �rg�o s�mbolo da genialidade ele guardou a sete chaves. Seu objetivo era estud�-lo para tentar descobrir de onde vinha tanta intelig�ncia. Jamais teve a resposta. Einstein, certamente, n�o se resumia a um punhado de neur�nios.

PENSADOR E BRINCALH�O

A f�sica tornou esse alem�o, filho de um casal judeu, uma celebridade. Por�m, os talentos de Einstein ultrapassavam o campo das ci�ncias exatas. Ele era pacifista e pensador. Jamais se absteve dos problemas da humanidade para se fechar no mundo dos c�lculos. Embora tenha se al�ado a celebridade, como verdadeiro s�bio que era, n�o tinha o menor apego por isso. Tanto que, para evitar idolatrias, queria ser cremado e, suas cinzas, espalhadas discretamente. A �ltima coisa que gostaria � que seu c�rebro virasse objeto de estudo. Nem tudo, por�m, saiu como o f�sico desejava. Einstein � um �cone. Sua imagem aparece em camisetas, cadernos e outros bens de consumo, transformada na pr�pria idealiza��o de um cientista – um cientista maluco, no melhor sentido que a express�o possa ter. Uma das poses mais famosas da hist�ria da fotografia, inclusive, � estampada por Einstein, mas n�o lecionando ou fazendo c�lculos. � a dele fazendo uma careta.

Einstein celebrava o 72º anivers�rio com amigos de Princeton e, ao voltar para casa, assim que entrou no carro de um amigo, foi abordado pelo fot�grafo Arthur Sasse da c�lebre ag�ncia de not�cias UPI. Exausto de ter sorrido para tantas c�meras naquele dia, ao ser solicitado por Sasse, fez uma “pirra�a” de brincadeira, colocando a l�ngua para fora. No fim, gostou tanto do resultado que encomendou nove c�pias do retrato para uso pessoal.

O trabalho, a hist�ria e a personalidade de Einstein o transformaram em mito. Como tal, ficou sujeito a idealiza��es e lendas que, de t�o repetidas, viraram verdades absolutas. Uma delas refere-se ao desempenho escolar do f�sico. Muita gente jura de p� junto que ele era fraco na escola. Nada mais falso. O boletim de conclus�o do ensino m�dio mostra que Eisntein fechou o ano de 1896 com nota m�xima (6) em grego, �lgebra, geometria e f�sica. S� n�o se saiu t�o bem em franc�s. Ainda assim obteve a m�dia. Os bancos escolares, contudo, n�o eram o local predileto do f�sico, que passou a vida criticando a escola formal, que, na opini�o dele, era uma limitadora da criatividade.

Einstein tamb�m n�o criou a bomba at�mica. Pelo contr�rio. Em 1939, ao saber pelo f�sico h�ngaro Leo Szilard que a Alemanha poderia estar fabricando a arma em segredo, o f�sico alertou o ent�o presidente dos EUA Franklin Roosevelt. Naquela �poca, Einstein, um inimigo do sistema nazista, j� morava na Am�rica. “A possiblidade de uma rea��o em cadeia no ur�nio n�o havia ocorrido a ele, mas logo que comecei a falar sobre isso ele viu a consequ�ncia que poderia ter”, revelou Szilard mais tarde. Einstein imediatamente escreveu a Roosevelt.

“Alguns trabalhos recentes me levaram a acreditar que o elemento ur�nio possa ser transformado em uma nova e importante fonte de energia no futuro imediato”, alertou, na mensagem. “Certos aspectos da situa��o parecem rogar por aten��o e, se necess�rio, a��o r�pida. Esse fen�meno poderia levar � produ��o de bombas, e � poss�vel que um novo tipo de bombas extremamente poderosas possa estar em constru��o… Alguns trabalhos americanos sobre ur�nio est�o sendo repetidos pelo Instituto Kaiser Wilhelm, em Berlim.” Roosevelt respondeu: “Achei essa informa��o t�o importante que convoquei uma junta para investigar”.

ADMIRADOR DE GANDHI

Em abril de 1945, Szilard voltou a procurar Einstein, mas, desta vez, mostrava-se temeroso de que os EUA estivessem fabricando a bomba. O f�sico escreveu novamente a Roosevelt –, mas  n�o foi ouvido como queria. Mais tarde, horrorizado com o bombardeio de Hiroshima e Nagasaki, escreveu um pequeno texto.

“Minha participa��o na produ��o da bomba at�mica consistiu em um �nico ato: assinei uma carta ao presidente Roosevelt. Essa carta destacava a necessidade de experimentos em larga escala para ter certeza da possibilidade de produ��o de uma bomba at�mica”, diz o texto. “Estava consciente do perigo tenebroso para toda a humanidade caso os experimentos fossem bem-sucedidos. Mas a probabilidade de os alem�es estarem trabalhando com chances de sucesso me levou a dar aquele passo. N�o vi outro caminho, embora sempre tenha sido um pacifista convicto. Matar em tempos de guerra, me parece, n�o � melhor que o assassinato comum.” Einstein encerra citando Gandhi, a quem chamou de “o maior g�nio pol�tico de nosso tempo”, destacando que o indiano travou uma batalha sem nunca pegar em armas.

Exatamente 10 anos depois – em abril de 1955 –, Albert Einstein estampava as manchetes dos principais jornais do mundo. “Dr. Einstein morre aos 76 anos”, anunciava o The New York Times. Naquela manh�, antes do rompimento da veia aorta, ele disse algumas palavras em alem�o. Como a enfermeira que estava com ele n�o falava o idioma, ningu�m jamais saber� o �ltimo aforismo do g�nio. Seu c�rebro voltou a Princeton. Diversos cientistas estudaram o �rg�o, sem nenhuma conclus�o importante.


TRAJET�RIA
» 1879
Nasce em 14 de mar�o, em Ulm, Alemanha. Filho de judeus de classe m�dia, s� come�a a falar aos 3 anos. Aos 12, se encanta com um livro de geometria

»1895
Descontente com a educa��o formal, tenta abandonar o ensino m�dio fazendo um teste para uma  universidade, mas foi reprovado em artes. Vai terminar os estudos em Aarau, na Su��a

» 1896
Entra para a Escola Polit�cnica Federal, em Zurique. Dois anos depois, apaixona-se pela s�rvia Mileva Maric, colega de classe

» 1900
Gradua-se na Polit�cnica Federal

» 1901
Torna-se cidad�o su��o. Encontra-se com Maric no Norte da It�lia e ela engravida. No inverno, ele consegue um posto de tutor na Su��a. Maric vai para a casa dos pais esperar o fim da gravidez. Einstein muda-se para Bern

» 1902
Maric d� � luz Lieserl, que � colocada para ado��o. Einstein consegue emprego no Escrit�rio de Patentes da Su��a. O pai do cientista morre

» 1903
Casa-se com Maric em janeiro

» 1904
Nasce o filho Hans Albert

» 1905
Publica quatro dos cinco artigos que o far�o famoso no meio acad�mico. � o annus mirabilis, ou ano miraculoso de Einstein

» 1907
Come�a a aplicar as leis da gravidade � sua teoria da relatividade

» 1910
Nasce o filho Eduard

» 1911
Muda-se para Praga, onde leciona na Universidade Germ�nica. � o mais jovem cientista a participar da primeira confer�ncia de f�sica mundial, em Bruxelas

» 1912
Vai para Zurique, onde se torna professor na Polit�cnica Federal

» 1914
Torna-se diretor do Instituto Kaiser Wilhelm de Berlim e professor da Universidade de Berlim. Come�a o processo de div�rcio. Em agosto, estoura a Primeira Guerra Mundial

» 1915
Completa a teoria geral da relatividade

» 1917
Adoece com uma crise de exaust�o. Publica o primeiro artigo sobre cosmologia

» 1919
Casa-se com Marries L�wenthal. Em 29 de maio, um eclipse solar comprova sua teoria geral

» 1922
Recebe o Nobel de F�sica

» 1927
Trabalha na funda��o da mec�nica qu�ntica com Niels Bohr

» 1928
Desenvolve a ideia de uma teoria de campo unificada

» 1933
Muda-se para os Estados Unidos com L�wenthal

» 1936
L�wenthal morre

» 1939
Escreve carta ao presidente Franklin Roosevelt alertando sobre a possibilidade de a Alemanha construir uma bomba at�mica

» 1940
Torna-se cidad�o americano, sem abrir m�o da cidadania su��a

» 1955
Seu c�rebro � retirado e fotografado logo ap�s a sua morte, em 18 de abril


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