Essenciais para a integridade f�sica dos profissionais de sa�de, m�scaras, jalecos e outros equipamentos de prote��o individual (EPI) s�o fabricados de forma a evitar a passagem de fluidos e a absor��o de micro-organismos. Contudo, est�o longe de serem 100% intranspon�veis, uma preocupa��o que aumenta quando m�dicos, enfermeiros e auxiliares lidam com desafios como o Sars-CoV-2, causador da pandemia da COVID-19.
Na China, pa�s que registrou os primeiros casos da doen�a, ao menos 3,3 mil profissionais de sa�de foram contaminados at� o fim de abril. No Brasil, 31,7 mil deles contra�ram Sars-CoV-2 — desses, mais de 500 no Distrito Federal. Pensando em casos como esses, pesquisadores do Laborat�rio da Escola de Engenharia da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, desenvolveram um revestimento para fibras t�xteis que repele bact�rias e v�rus. Por enquanto, os testes foram feitos com esp�cies de adenov�rus que causam resfriado e conjuntivite. Por�m, os cientistas pretendem investigar, em breve, se o Sars-CoV-2 tamb�m pode ser impedido de entrar no tecido idealizado para a confec��o de m�scaras e outros EPIs.
No estudo, publicado na revista Applied Materials and Interfaces, da Sociedade Norte-Americana de Qu�mica (ACS, sigla em ingl�s), os pesquisadores demonstraram que l�quidos, como suco e �gua, e at� prote�nas animais n�o conseguem aderir ao tecido tratado com o revestimento. Anthony Galante, estudante de doutorado em engenharia industrial da institui��o, conta que a inspira��o do trabalho veio de novos produtos usados para repelir sangue, como os usados no tratamento de absorventes femininos que impedem o contato do fluido com a pele. “Especialmente devido � pandemia atual, quer�amos observar o limite de efic�cia desses repelentes. Por isso, pensamos em testar um revestimento contra v�rus”, explica.
Al�m da capacidade de manter v�rus e bact�rias — fluidos corporais — longe da zona de contato com o organismo, Paul Leu, professor do laborat�rio e coautor do estudo, explica que, para atender �s expectativas da pesquisa, o revestimento tamb�m teria de resistir aos processos mais rigorosos de higieniza��o: lavagem e raspagem ultrass�nicas. Com a escassez de EPIs, especialmente em tempos de epidemias, muitos cientistas t�m apostado no m�todo de limpeza ultrass�nica para reaproveitar equipamentos como a m�scara N95, que impede at� 85% da passagem de v�rus e bact�rias pelos poros da pe�a.
“A durabilidade � muito importante porque existem outros tratamentos de superf�cie por a�, mas eles s�o limitados a tecidos descart�veis. Voc� s� pode usar um jaleco ou uma m�scara uma vez antes de descart�-lo”, diz Leu. “Dada a escassez de EPIs, � necess�rio desenvolver revestimentos que possam ser aplicados em tecidos m�dicos reutiliz�veis, pass�veis de serem adequadamente lavados e higienizados.”
Galante e Leu testaram o novo revestimento em tecidos que passaram por dezenas de lavagens ultrass�nicas. Tamb�m submeteram as pe�as a milhares de rota��es com uma esponja (n�o muito diferente do processo de esfrega��o de panelas e frigideiras) e at� as rasparam com uma l�mina afiada. Ap�s cada teste, o revestimento permaneceu t�o eficaz quanto no primeiro uso.
Teste promissor
Depois dos testes com l�quidos e prote�nas (presentes em s�rum bovino), os pesquisadores passaram � fase dos experimentos com v�rus. Para isso, recorreram a uma �rea que h� tempos utiliza adenov�rus em pesquisas: a oftalmologia. Esses micro-organismos t�m se mostrado promissores em classes de medicamentos gen�ticos, trabalhando como vetores dos rem�dios. Uma das drogas que utiliza o m�todo � para cegueira.
Os pesquisadores trabalharam com o diretor de pesquisa do Laborat�rio de Microbiologia Charles T. Campbell, Eric Romanowski, e com o diretor de pesquisa b�sica, Robert Shanks, no Departamento de Oftalmologia de Pitt, para testar o efeito do revestimento contra uma cepa de adenov�rus. “Como esse tecido j� demonstrou repelir sangue, prote�nas e bact�rias, o pr�ximo passo l�gico foi determinar se ele repele v�rus. Escolhemos os adenov�rus humanos tipos 4 e 7, pois essas s�o causas de doen�as respirat�rias agudas e de conjuntivites”, conta Romanowski. “Esper�vamos que o tecido repelisse esses v�rus de maneira semelhante ao que faz com prote�nas. Afinal, v�rus s�o basicamente prote�nas com �cido nucleico interno. E foi isso que aconteceu.”
Multiuso
Segundo os autores do estudo, o revestimento pode ter amplas aplica��es na �rea da sa�de, podendo ser aplicado em roupas hospitalares e cadeiras de sala de espera, que s�o meios pelos quais os v�rus se espalham com facilidade. “O adenov�rus pode ser apanhado inadvertidamente em salas de espera de hospitais e em superf�cies contaminadas em geral. Ele � rapidamente disseminado em escolas e nas casas e tem um enorme impacto na qualidade de vida”, diz Shanks.
O pr�ximo passo para os pesquisadores ser� testar a efic�cia contra os coronav�rus, como o que causa a covid-19. “Se o tecido tratado repelir os coronav�rus e, em particular, o Sars-CoV-2, isso poderia ter um enorme impacto para os profissionais de sa�de e at� para o p�blico em geral”, acredita Romanowski.
Por enquanto, o revestimento � aplicado por meio de inje��o de gotas, um m�todo que satura o material com uma solu��o na seringa e, em seguida, se aplica um tratamento t�rmico para aumentar a estabilidade da subst�ncia. Mas os pesquisadores acreditam que poder�o usar a pulveriza��o ou a imers�o, facilitando a aplica��o do revestimento em tecidos de tamanhos maiores.