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Estado de Minas REDES SOCIAIS

'WhatsApp � invasivo e Facebook, abutre de dados', diz professora de Oxford

Carissa V�liz explica que dados nas redes sociais podem terminar na "dark web". Ela explica como funciona a controversa pr�tica de comercializa��o de informa��es pessoais e relata a necessidade de maior fiscaliza��o sobre o tema.


31/01/2021 14:42 - atualizado 31/01/2021 15:27

Véliz acredita que a comercialização de dados pessoais deve desaparecer futuramente
V�liz acredita que a comercializa��o de dados pessoais deve desaparecer futuramente (foto: Getty Images)

As informa��es pessoais que concordamos em fornecer a um aplicativo podem ser vendidas a centenas ou milhares de empresas — e at� mesmo acabar na "dark web".


Embora a magnitude dessa "economia de dados" n�o seja algo amplamente conhecido, a verdade � que h� cada vez mais alertas e reclama��es sobre os abusos das plataformas virtuais em rela��o � nossa privacidade.

Um exemplo disso foi a onda de cr�ticas ao WhatsApp ao anunciar que compartilharia as informa��es de seus usu�rios com o Facebook. Esse fato fez com que seus concorrentes Signal e Telegram, que dizem ser mais seguros, fossem baixados massivamente.

Diante da rea��o negativa, o WhatsApp anunciou que o in�cio do compartilhamento de dados seria adiado de 8 de fevereiro, conforme divulgado no come�o de janeiro deste ano, para 15 de maio de 2021.

Professora de Oxford e especialista em privacidade e prote��o de dados, Carissa V�liz argumenta que a mudan�a no WhatsApp � bastante invasiva. Por�m, ela afirma que o verdadeiro "abutre dos dados " � o dono do aplicativo de mensagens: o Facebook.

Autora do livro "Privacy is Power" ("A privacidade � um poder"), V�liz conversou com a BBC Mundo (servi�o em espanhol da BBC) sobre a prote��o de dados na atualidade.

Abaixo, leia a entrevista com a estudiosa:

BBC Mundo - Qual a import�ncia das mudan�as anunciadas pelo WhatsApp?

Carissa V�liz - � primeira vista, n�o parecem mudan�as t�o radicais. Por�m, o que o WhatsApp planeja fazer � um ato bastante invasivo.

Para entender o contexto, � importante lembrar que o Facebook comprou o WhatsApp em 2014 e, na �poca, prometeu que as duas empresas n�o compartilhariam dados.

Em 2016, por�m, houve uma mudan�a na postura e o Facebook decidiu que os usu�rios poderiam decidir se compartilhariam as informa��es entre as plataformas ou n�o. Agora, decidiram que n�o haver� mais oportunidade para rejeitar o compartilhamento de dados: se n�o aceitar a condi��o, n�o poder� mais usar o WhatsApp. Por isso acredito que o p�blico reagiu.

Em primeiro lugar, porque s�o medidas bastante intrusivas. Alguns dos metadados podem ser usados para identificar as pessoas. Nisso, quero dizer que ter�o acesso a seu n�mero de telefone, os n�meros dos seus contatos, as fotos do seu perfil e quando voc� esteve online pela �ltima vez. Al�m de dados relacionados � situa��o da bateria do seu celular e sobre o uso do aparelho.

Em segundo lugar, � um lembrete de qu�o autorit�rias essas empresas s�o. Elas te apresentam condi��es de uso que est�o mudando o tempo todo. E depois que usar o aplicativo por anos, te dizem "tudo ou nada"; entrega os seus dados ou n�o pode mais usar a plataforma, perdendo suas mensagens e seus contatos que cultivou com a gente durante muito tempo.

Depois de tantas promessas quebradas e tantas mentiras e esc�ndalos, os usu�rios est�o fartos de serem explorados dessa forma, de n�o serem tratados com respeito e n�o poderem negociar. Por isso, acredito que a resposta �s mudan�as do WhatsApp foi t�o negativa.

BBC Mundo -Quanto o WhatsApp e o Facebook podem saber sobre um usu�rio? At� que ponto eles podem tra�ar o perfil de uma pessoa com os dados que possuem dela?

V�liz - Tudo depende do quanto a pessoa usa o aplicativo e quantas informa��es fornece sobre si. Por�m, � poss�vel inferir respostas a todos os tipos de quest�es. Por exemplo, quem s�o os seus amigos, quem s�o os seus familiares ou quem � o seu parceiro.

A partir dos dados � poss�vel inferir aspectos como a orienta��o sexual, tend�ncias pol�ticas, o qu�o bem a pessoa dorme, se � algu�m que levanta no meio da noite para ver as suas mensagens, a sua sa�de e os seus interesses. At� mesmo seus v�cios ou se voc� tem alguma doen�a.


WhatsApp adiou para Maio 'ultimato' para usuário compartilhar dados com Facebook
WhatsApp adiou para Maio "ultimato" para usu�rio compartilhar dados com Facebook (foto: Reuters)

BBC Mundo - Em seu livro mais recente, voc� fala que existem os "abutres de dados". Como eles funcionam?

V�liz - S�o essas empresas que se dedicam a vender os registros das pessoas pelo pre�o mais alto. Em particular, os corretores de dados ("data brokers", em ingl�s) que buscam conseguir elementos como o que a pessoa compra, o que pesquisa online, as suas contas em redes sociais, as doen�as que possui, os seus rendimentos, as suas d�vidas ou o carro que utiliza. Ou seja, todos os tipos de informa��es.

Depois de conseguir esses dados, os corretores os comercializa a quem queira comprar. Podem ser seguradoras, bancos, poss�veis empregadores, ou, em algumas situa��es, at� mesmo governos, como o dos Estados Unidos.

Esses "abutres de dados" tamb�m s�o empresas de marketing. Ningu�m quer ver an�ncios de coisas nas quais n�o tem interesse, por isso buscam mostrar an�ncios personalizados.

Parece inocente, mas essa pr�tica � muito mais perversa do que isso. Imagine que voc� entra em qualquer p�gina da internet que tenha an�ncios e, enquanto a p�gina est� carregando, s�o fornecidas em tempo real informa��es com seus dados para centenas de empresas que podem querer te mostrar um an�ncio sem que voc� tenha consentido. Essas suas informa��es que s�o vendidas podem incluir aspectos muito sens�veis como o poder aquisitivo, a localiza��o, a orienta��o sexual ou pol�tica e suas d�vidas.

Todo esse pacote que chega a centenas de empresas com as suas informa��es fica guardado e cada um dos donos dessas informa��es pode vend�-las a outras empresas. E se houver uma viola��o ou invas�o virtual, esses dados podem terminar na "dark web" (�rea da internet de pouco controle) para serem vendidos a qualquer pessoa.

Eu considero o Facebook como um "abutre de dados" porque � uma empresa que, basicamente, ganha dinheiro a partir da explora��o das informa��es pessoais dos usu�rios.

BBC Mundo - Quanto isso afeta os usu�rios da internet?

V�liz - Nos afeta de forma invis�vel e isso � parte do problema. N�o � algo tang�vel, mas pode ter efeitos catastr�ficos.

Por exemplo, � poss�vel que amanh� pe�amos um empr�stimo e que o banco n�o aceite por algum detalhe que est� nesses registros que est�o � venda. E � poss�vel que esses dados estejam incorretos ou desatualizados. E nunca vamos saber, porque nunca � explicado a voc� com base em quais informa��es essa decis�o foi tomada. E n�o saberemos o que pode ser feito para revert�-la.

� bem poss�vel que te impe�am de pegar um empr�stimo, conseguir um empr�stimo, comprar um apartamento… e voc� nunca vai descobrir o porqu�.

Outro dos efeitos mais perniciosos da personaliza��o de conte�dos e an�ncios � a polariza��o. As pessoas gostam de ver aquilo que confirma suas piores suspeitas e, muitas vezes, � uma informa��o incorreta. Em vez de haver uma esfera p�blica na qual todos podem debater, cada um v� uma realidade a partir de seu perfil psicol�gico.

Na campanha de Trump, por exemplo, em vez de haver cinco ou seis an�ncios para que todas as pessoas vissem, havia seis milh�es de an�ncios diferentes para os distintos perfis identificados. Isso significa que n�o existe um di�logo saud�vel entre perspectivas diferentes.


O WhatsApp fez em agosto de 2016 uma atualização global de sua política de privacidade que permitia ao usuário escolher se aceitava ou não compartilhar seus dados com o Facebook
O WhatsApp fez em agosto de 2016 uma atualiza��o global de sua pol�tica de privacidade que permitia ao usu�rio escolher se aceitava ou n�o compartilhar seus dados com o Facebook (foto: Reuters)

BBC Mundo - O que os pa�ses podem fazer para proteger os dados de seus cidad�os?

V�liz - Primeiro voc� tem que encerrar a economia de dados. As informa��es pessoais n�o deveriam ser algo que pode ser vendido ou comprado. Mesmo as sociedades mais capitalistas est�o de acordo que h� coisas que deveriam estar fora do mercado, como os votos ou as pr�prias pessoas, por exemplo.

Precisamos elevar muito os padr�es de seguran�a cibern�tica e isso pode passar atrav�s de uma regulamenta��o. No momento, a internet � constru�da de forma muito insegura, em partes para promover a coleta de dados e tamb�m porque n�o h� incentivos para melhor�-la.

Tamb�m falta um esfor�o diplom�tico. Precisamos de uma alian�a comum que possa fazer frente a pa�ses como a China ou a R�ssia, que t�m muito pouco respeito � privacidade.

BBC Mundo - Ser� poss�vel recuperar a internet ou � uma batalha perdida?

V�liz - Eu sou bastante otimista. Anos atr�s, quando comecei a trabalhar com privacidade, todo o mundo pensava que era um tema morto, mas hoje � mais relevante do que nunca.

Anos atr�s ningu�m pensava que o GDPR (Regulamento Geral de Prote��o de Dados da Uni�o Europeia, em portugu�s) seria poss�vel e, embora seja seja muito imperfeito, � um marco hist�rico.

No passado, prejudicamos muitas coisas importantes, como a camada de oz�nio. Nos demos conta de que est�vamos a destruindo e agora, com regulamenta��o e esfor�o, ela est� se recuperando. Outros exemplos que antes eram inimagin�veis s�o o sufr�gio universal, os direitos trabalhistas, a jornada de oito horas e as f�rias.

Neste momento, a internet � como o velho oeste e estamos passando por um processo civilizat�rio no qual temos que torn�-la mais habit�vel.


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