
A menos que voc� tenha ficado offline nas �ltimas semanas, provavelmente est� ciente da onda de choque que atinge o mundo das grandes empresas de tecnologia.
No m�s passado, veio � tona que alguns dos maiores players do setor — Apple, Netflix, Amazon, Microsoft, Meta (dona do Facebook) e Alphabet (dona do Google) — sofreram uma perda de mais de US$ 3 trilh�es em valor de mercado nos �ltimos 12 meses na bolsa americana.
Alguns dos cortes mais substanciais vieram da Meta, controladora do Facebook, que demitiu 11 mil funcion�rios; e do Twitter, que demitiu 3,7 mil profissionais at� agora (cerca de metade de sua for�a de trabalho).
- Organiza��es parceiras do Twitter temem por mudan�as 'perigosas' trazidas por Musk
- Empres�ria que chegou a ser considerada 'nova Steve Jobs' � condenada a 11 anos de pris�o
Isso tudo suscitou d�vidas sobre o futuro de duas das plataformas de rede social mais populares do mundo.
Qual o tamanho do problema do Facebook e do Twitter?
Como mostram os n�meros acima, essas plataformas est�o expostas � desacelera��o econ�mica global da mesma forma que outros setores.

Isso significa menos dinheiro sendo investido nas empresas — principalmente receitas de publicidade, no caso de plataformas de rede social.
"Qualquer um tentando ganhar dinheiro na �rea de tecnologia agora ter� dificuldade", diz o professor Jonathan Knee, especialista em m�dia e tecnologia da Columbia Business School, em Nova York.
Knee afirma que as plataformas de rede social "basicamente se tornaram empresas de publicidade".
"Quando voc� depende desse tipo de receita, uma recess�o torna o ambiente muito dif�cil", ele observa.
O �ltimo relat�rio financeiro da Meta, divulgado no fim de outubro, mencionou a queda nas receitas de publicidade como parte dos problemas da empresa, mas tamb�m citou o aumento da concorr�ncia de plataformas rivais como o TikTok.
O Twitter, que saiu do mercado de a��es ap�s ser comprado pelo bilion�rio Elon Musk, tamb�m foi duramente atingido e pode enfrentar desafios adicionais ligados ao estilo de lideran�a mordaz e �s tomadas de decis�o controversas de Musk.
Mas os sinais de alerta j� existiam antes da chegada de Musk: documentos internos obtidos pela ag�ncia de not�cias Reuters em outubro mostraram que os usu�rios mais ativos da plataforma — algu�m que se conecta seis ou sete dias por semana e tu�ta cerca de tr�s a quatro vezes por semana — estavam em decl�nio acentuado desde o in�cio da pandemia de covid-19.
A Reuters citou um pesquisador do Twitter que disse que os usu�rios mais ativos representam menos de 10% do total, mas geram 90% de todos os tu�tes e metade da receita global da plataforma.
A chegada de Musk, no entanto, parece ter criado outro �xodo. Em um estudo publicado em 3 de novembro, apenas uma semana ap�s ele concluir a compra da plataforma, pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em ingl�s), nos EUA, estimaram que o Twitter perdeu um milh�o de usu�rios.
Ciclos de vida
Mas ser� que o problema atual � simplesmente o que alguns especialistas veem como o fim do ciclo de vida natural de uma empresa de rede social?

"Cada plataforma tem sua pr�pria trajet�ria de crescimento e maturidade/decl�nio. Elas declinam em grande parte devido a novas plataformas que as substituem", explica Natalie Pang, especialista em comunica��o e novas m�dias da Universidade Nacional de Cingapura.
Pang acredita que o Facebook e o Twitter "cresceram muito pouco para seus mercados" durante as fases mais agudas da pandemia de covid-19, em que milh�es de pessoas em todo o mundo foram submetidas a lockdowns e outras restri��es de movimento.
"Durante a pandemia, as plataformas tecnol�gicas cresceram rapidamente porque a digitaliza��o era um mecanismo para lidar (com a pandemia)."
Agora, segundo ela, � um momento de reajuste.
Outra especialista que v� sinais de decl�nio no Facebook e no Twitter � Lianrui Jia, especialista em m�dia digital da Universidade de Sheffield, no Reino Unido.
"Talvez tenhamos dado como certa a longevidade dessas plataformas", diz Jia.
"Os usu�rios agora podem estar come�ando a reconhecer alguns problemas com essas plataformas e partindo."

As duas empresas podem contar com uma base de usu�rios enorme, mas o Facebook contava com quase tr�s bilh�es de usu�rios ativos por m�s no terceiro trimestre de 2022, de acordo com a Meta, o que faz dele a plataforma de rede social mais popular do mundo.
Em fevereiro, no entanto, a Meta anunciou que a plataforma havia perdido usu�rios pela primeira vez em 18 anos de hist�ria, o que derrubou suas a��es.
Desde 2019, o Twitter adota uma m�trica que considera apenas os usu�rios di�rios que podem ver an�ncios, em vez do total de usu�rios. O n�mero mais recente, divulgado em outubro, � de 238 milh�es, e vem crescendo, de acordo com a plataforma.
Mas h� preocupa��es de que o motivo pelo qual as pessoas est�o usando a plataforma esteja mudando, se afastando das not�cias e assuntos atuais em dire��o a mais conte�do adulto e sobre criptomoedas.

Isso pode torn�-lo menos atraente para os anunciantes, que tendem a evitar conte�do controverso.
Renaud Foucard, professor de economia da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, destaca que o aumento da regulamenta��o por parte dos governos tamb�m se tornou um obst�culo para as empresas de tecnologia porque tornou a concorr�ncia pelos usu�rios mais acirrada.
"Nos �ltimos anos, tanto os EUA quanto a Uni�o Europeia tornaram mais dif�cil para as empresas de tecnologia simplesmente comprar seus rivais, como o Facebook fez com o Instagram e o WhatsApp no passado", explica Foucard.
"Mais empresas est�o competindo agora por usu�rios e receitas."
Cair no esquecimento
As plataformas, �s vezes, desaparecem ou se tornam irrelevantes.
Um dos casos mais famosos � o do MySpace. A primeira rede social a atingir uma audi�ncia global nos anos 2000, tinha 300 milh�es de usu�rios em 2007.
Mas perdeu para o Facebook — e hoje sobrevive como uma mistura de comunidade online e servi�o de streaming de m�sica, com apenas seis milh�es de usu�rios em todo o mundo.

Na mesma d�cada, o Orkut, comprado pelo Google, tamb�m se tornou brevemente a plataforma de rede social mais popular do mundo antes de ser deixado para tr�s pela plataforma de Mark Zuckerberg — e foi desativado em 2014.
Ser� que esses casos servem de alerta para as plataformas de hoje? Nem todo especialista � pessimista em rela��o ao futuro delas.
An�lise de Joe Tidy, rep�rter de cibern�tica
A ideia de que estamos testemunhando o fim do ciclo de vida natural das redes sociais � sedutora.
Basta olhar para o cemit�rio das redes sociais para ver v�rias evid�ncias de que esse � um fen�meno real.
Bebo, MySpace, Vine, todos vieram e se foram.

Mas o mundo da tecnologia, ao longo dos anos, se transformou em algo al�m das plataformas que operam.
O Facebook � um grande exemplo disso.
A empresa se preparou para o futuro com sucesso ao comprar o Instagram e o WhatsApp anos atr�s para se manter relevante.
Embora o crescimento e a popularidade do Facebook possam ter atingido seu pico, n�o h� sinais de diminui��o do interesse nos outros produtos da empresa.
O Twitter tamb�m parece estar � beira de ficar offline ou for�ar seus usu�rios a migrar.
Mas ser� que as pessoas v�o mesmo deixar o Twitter? Eu duvido.
Essas plataformas sempre s�o t�o boas quanto seus usu�rios, e nos �ltimos cinco anos houve uma consolida��o de poder e influ�ncia nesses sites que ser� dif�cil de replicar ou passar adiante para plataformas alternativas.
Sim, �s vezes pode surgir uma revela��o como o TikTok para desafiar os grandes nomes, mas mesmo no ano passado vimos outros concorrentes ir e vir, como o Club House e o BeReal.
Concorr�ncia
Quer seja apenas uma pedra no meio do caminho do Facebook e do Twitter ou o fim da linha, alguns acreditam que o fato de plataformas populares enfrentarem problemas � um bom sinal.
"� bom que uma das raz�es pelas quais essas plataformas est�o com problemas seja o aumento da concorr�ncia", avalia Renaud Foucard.
"Em um mercado mais justo, novas empresas podem oferecer mais op��es para os usu�rios, h� mais oportunidades de proporcionar melhores experi�ncias para eles".
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63720841
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