Imagem de taças e garrafas de vinho

As bebidas e os pratos a serem pedidos s�o feitos pelo celular, momento em que "sommelier virtual" entra em a��o

Reprodu��o/Pexels


� pouco prov�vel que algu�m que nunca bebeu um vinho sugira r�tulos da bebida para harmoniza��o de pratos em um restaurante. Mas quem est� oferecendo essa consultoria no tradicional restaurante portugu�s Tasca da Esquina, em S�o Paulo, n�o � bem um sommelier — ali�s, n�o � nem mesmo uma pessoa, mas o ChatGPT.


A tradicional casa de comida portuguesa adotou um sistema que usa a intelig�ncia artificial mais falada dos �ltimos tempos para sugerir op��es de vinhos que combinam com a comida pedida. Como o ChatGPT utiliza todo o conhecimento dispon�vel na internet para tentar responder a qualquer tipo de pergunta feita a ele, a ferramenta se baseia nessas informa��es para sugerir as harmoniza��es.


O sistema, chamado de "sommelier virtual", foi idealizado pela empresa Atena, que fornece softwares para opera��o e gest�o de restaurantes. O Tasca da Esquina se diz pioneiro ao implantar essa ferramenta. O CEO da Atena, Francisco Gioielli, explica que a intelig�ncia artificial usa APIs para possibilitar a comunica��o entre a plataforma na qual o cliente escolhe os pratos e o Chat GPT, que ir� sugerir os vinhos. A API, segundo ele, � "o idioma e ambiente que permite dois sistemas conversarem".


Na pr�tica, o cliente chega ao Tasca da Esquina, aponta o celular para um QR code e escolhe os pratos de sua prefer�ncia. Mas, ao contr�rio do que acontece em geral com restaurantes com card�pios virtuais, o pedido j� pode ser feito pelo pr�prio aparelho do consumidor, e � quando o sommelier virtual entra em a��o.


Cada prato j� � previamente associado a algumas op��es da bebida, como tinto, branco, ros� ou verde, e o cliente pode escolher uma ou mais delas. Em seguida, existem quatro op��es de faixas de pre�o, at� R$ 300, at� R$ 600, at� R$ 900 ou sem limite. Depois de selecionado o valor, o ChatGPT apresenta tr�s r�tulos finais.


Um dos fundadores da Eno Cultura, escola que forma sommeliers desde 2013, Paulo Brammer, acompanhou a reportagem em uma visita ao Tasca da Esquina para conferir as recomenda��es de vinho da intelig�ncia artificial. Ao contr�rio do que se poderia imaginar a respeito de um sommelier avaliando uma ferramenta que poderia at� substituir essa fun��o, a opini�o de Brammer sobre a novidade �, em partes, positiva. O primeiro ponto elogiado foi a facilidade de uso da intelig�ncia artificial.


De modo geral, o sommelier considerou que as sugest�es do ChatGPT foram corretas, mas algumas combina��es deixaram a desejar, segundo ele. Durante a visita ao restaurante, foi servida uma paleta de cordeiro harmonizada com vinho tinto, o que est� dentro do esperado pelos especialistas. A quest�o � que o prato leva hortel� no tempero, algo que n�o parece ter sido considerado na sugest�o do sommelier virtual.


Para Brammer, o r�tulo mais indicado no caso seria um cabernet ou algum vinho que tivesse notas de eucalipto ou mentol. O sommelier considera que o problema aconteceu pela falta de personaliza��o dos pratos, que s�o descritos sem todos os detalhes para que a ferramenta encontre as sugest�es mais adequadas.


� quando o cliente escolhe op��es muito diferentes umas das outras que a ferramenta apresenta mais problemas. Essa dificuldade n�o � exclusiva da ferramenta. Brammer conta que mesmo os bons sommeliers tamb�m precisam de muita experi�ncia para saber equilibrar sabores opostos.


Quando s�o pedidos, por exemplo, fil�-mignon, que harmoniza com tintos, e camar�o gratinado, que � mais bem acompanhado pelos brancos, o sommelier virtual sugeriu somente op��es de vinho tinto. Para o profissional de carne e osso, a solu��o seria um ros� "mais encorpado, talvez at� com um pouco de madeira".


A falta de personaliza��o tamb�m vale para os textos que acompanham os tr�s r�tulos sugeridos pelo sommelier virtual. Brammer considera que eles falham quando sugerem, por exemplo, que o �lcool do vinho modera o sabor do prato, o que n�o tem base t�cnica. Os par�grafos das descri��es gerados pela intelig�ncia artificial s�o gen�ricos, afirma o sommelier do mundo real, e � percept�vel que n�o foram escritos por algu�m que entende do assunto.

 

Brammer explica que a justificativa dada por um sommelier de verdade n�o serve apenas para ligar um prato a um vinho, mas sobretudo para conectar o produtor ao consumidor. Essa experi�ncia tamb�m aprofunda os usos do r�tulo ao contexto em que est� sendo consumido, como jantar entre amigos, reuni�o de neg�cios ou mesmo a temperatura do dia. Apesar de ajudar clientes e restaurantes em um primeiro momento, Brammer acredita que a rela��o que acontece entre o sommelier e o cliente � algo que a ferramenta n�o vai conseguir substituir.