Criança brinca com tablet

Crian�a brinca com tablet

Pixabay
H� dois extremos, igualmente ruins, quando se pensa na rela��o entre crian�as e adolescentes com a internet.

Em um deles, o rom�ntico, imagina-se que os mais novos, que j� nasceram em um mundo dominado pela tecnologia, sabem tudo sobre esse universo, mais do que qualquer adulto. No outro, o alarmista, eles s�o subestimados, considerados vulner�veis por completo, facilmente manipul�veis.

Quem quiser educar essa gera��o para um uso saud�vel das m�dias n�o pode se deixar levar por um ou outro, mas seguir o caminho do meio, defende o pesquisador ingl�s David Buckingham, 68, refer�ncia mundial na educa��o midi�tica.

Com toda a sua carreira dedicada a pesquisar esse tema, Buckingham acaba de lan�ar, no Brasil, o livro "Manifesto pela Educa��o Midi�tica". Trata-se de uma vers�o traduzida da obra original em ingl�s, de 2019, e acrescida de dois textos de jornalistas e pesquisadores brasileiros, Eug�nio Bucci e Janu�ria Cristina Alves.

A escolha do termo "manifesto" para dar t�tulo ao livro d� conta de um aspecto central: a defesa de que a educa��o para as m�dias � urgente, um "pr�-requisito b�sico da cidadania contempor�nea", como o autor coloca. Deve ser mat�ria obrigat�ria nas escolas, objeto de programas consistentes de governos, prioridade da sociedade.

Mas o livro vai al�m de levantar uma bandeira —funciona como um guia para pais e educadores, com dicas simples de como tornar crian�as e jovens capazes de se relacionar de forma cr�tica com as m�dias.

E o caminho para isso, vamos lembrar, � o do meio. "Como educador e como pai, percebi que, quando come�amos a falar com crian�as sobre esse tema, muitas vezes elas demonstram uma capacidade sofisticada de entender algumas quest�es do uso que fazem das m�dias", diz o autor durante o lan�amento da edi��o brasileira. "Dito isso, temos que evitar o outro extremo, o risco de considerar que os mais novos, por serem nativos digitais, sabem naturalmente tudo sobre as m�dias".

E o que pais e pesquisadores precisam entender al�m dessa simplifica��o" � o que as crian�as e os jovens sabem e o que eles n�o sabem". "H� elementos de um contexto maior em torno da tecnologia que os menores n�o necessariamente entendem muito bem", afirma.

"Eles podem dominar as etiquetas da comunica��o online, das m�dias sociais ou como fazer v�deos do TikTok. Mas o que sabem sobre as empresas que s�o propriet�rias dessas m�dias? Que no��o eles t�m, por exemplo, a respeito de como os dados das pessoas est�o sendo coletados e como est�o sendo usados?"

Essa perspectiva ajuda a construir um di�logo entre os adultos e os mais novos, ele acredita. "Sim, h� coisas que as crian�as e os adolescentes sabem, e precisamos dar a eles cr�dito por isso", afirma. "Mas h� coisas que n�o sabem, e n�s, adultos, precisamos identificar quais s�o para estabelecer di�logos e engaj�-los em discuss�es."

Na avalia��o do pesquisador, n�o � efetivo que pais e educadores "atuem como pol�cia" em rela��o ao uso que crian�as e jovens fazem das m�dias, apontando o que � o certo e o errado, assim como � simplista considerar que a educa��o midi�tica s� serve para proteger dos perigos da internet.

Educar para as m�dias � desenvolver habilidades cr�ticas para se compreender o universo digital, e, para isso, Buckingham defende que o tema deve estar no curr�culo das escolas e os professores precisam ser treinados.

� algo maior, como ressalta em entrevista, do que "apenas ensinar a reconhecer fake news". "E esse termo, fake news, ali�s, nem considero muito �til", afirma, "porque pressup�e que podemos fazer diferencia��es simples entre verdadeiro e falso, quando a quest�o � bem mais complicada".

Para ele, "a educa��o midi�tica abrange toda a gama de m�dias que crian�as e jovens experimentam, e n�o s� as not�cias, que, muitas vezes, s�o o principal interesse dos adultos".

Outro equ�voco, ele aponta, � relacionar educa��o e tecnologia de uma forma instrumental, ou seja, considerar os dispositivos digitais apenas como ferramentas para o aprendizado. Em palavras simples, educa��o midi�tica n�o � colocar impressora 3D no laborat�rio da escola ou usar aplicativos para corrigir reda��es. "N�o tem a ver com educar por meio da m�dia, utilizando tecnologia, mas educar sobre a m�dia".

Claro que os estudantes podem utilizar as m�dias de forma criativa, mas de modo a compreender criticamente o seu funcionamento. "Meu ponto �: se vamos usar as m�dias como ferramentas de educa��o, precisamos educar sobre como representam o mundo, como s�o centrais na pol�tica, na cidadania, na economia, na cultura."

O pesquisador defende uma regula��o das plataformas digitais, como prop�e o PL das Fake News, de forma a controlar o poder de grandes empresas de tecnologia. Mas ressaltou que "essa tarefa tem sido complicada em diversos pa�ses, porque a tecnologia avan�a rapidamente, e � dif�cil saber quando e onde interferir". A educa��o midi�tica se coloca, portanto, como t�o essencial quanto a regula��o.

Ele avalia que as redes sociais n�o s�o a resposta para a viol�ncia nas escolas. "A m�dia n�o � a causa principal. H� muitas causas complicadas, n�o � uma quest�o simples, e a educa��o midi�tica n�o resolver� esse problema." Entre achar que as redes sociais s�o o inferno ou que s�o totalmente ben�ficas para os mais novos, Buckingham, de novo, opta pela via do meio.

"Precisamos ter uma vis�o mais equilibrada e sutil, e, acima de tudo, ouvir as crian�as e os jovens e respeitar as suas opini�es sobre tudo isso."

 

MANIFESTO PELA EDUCA��O MIDI�TICA

Pre�o: R$ 58 (136 p�gs.); R$ 29 (ebook)

Autoria: David Buckingham

Editora: Edi��es Sesc

Tradu��o: Jos� Ignacio Mendes