Regina Teixeira da Costa
Regina Teixeira Da Costa
EM DIA COM A PSICANÁLISE

Análises surpreendentes

Mesmo em tempos de terapias cognitivas, as pessoas procuram o analista, cuja abordagem propõe outra forma de lidar com o que não se sabe

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Por que as pessoas procuram o analista em tempos de terapias cognitivas? Essas são mais pontuais e rápidas, atendendo aos anseios de bem-estar do paciente, com uma interação maior entre terapeuta e paciente.

Visam a adaptação comportamental aos ideais da cultura, são educativas e afins do contemporâneo mercadológico, pulverizando as grandes estruturas clínicas tradicionais em múltiplos transtornos.

 


Acredito que buscar uma análise representa um desejo de saber mais sobre o que não se sabe que sabe. Uma vez que somos dotados de um inconsciente que nunca será totalmente elucidado ou interpretado, lidar com esse funcionamento desconhecido e vivo é algo que requer mais do que adaptação, ao contrário, requer subversão.

 


Devemos entender o inconsciente não como um baú de conteúdos guardados a serem recuperados. O inconsciente é atemporal, não discerne antigo e atual. Através do simbólico, da linguagem, o imaginário aí se infiltra. A linguagem é prenhe do imaginário que cria sentido àquilo que, sendo da ordem do real, não se traduz, nem se reduz ou se evita.


Mas a gente tenta, com o pensamento, racionalizar coisas insuportáveis e traumáticas porque estão acima do que podemos suportar. E, para tranquilizar nossos corações, preferimos suposições e antecipações que nos tragam um ajustamento aos fatos. E não raro nos enganamos. Mas encontrar explicações acalma, por isso as religiões triunfam.

 


Entretanto, o real é o que retorna sempre ao mesmo lugar. Repetimos experiências que detestamos e só depois nos damos conta. Outra vez errei, dizemos silenciosamente a nós mesmos. Porque somos errantes, quando falamos nos equivocamos e esse equívoco é prenhe de pulsão e outros dizeres...


Lacan escreve: “Nada funciona, portanto, senão pelo equívoco”. Se o paciente traz sua repetição, na escuta dos equívocos que ele produz quando fala, surge um dizer ao qual o analista se atém. Ele diz mais do que fala. Quando escutamos isso que poderia passar batido, ali esse dizer oculto na fala se revela, e eis o fator surpresa. O corte da linha do pensamento que redireciona o sentido, e o efeito é que o real não retorne ao mesmo lugar. À repetição que o trouxe.

 


Quando essa escuta se abre para algo novo, algo do real, que cessa de não se escrever, e assim a repetição pode deixar de insistir, na tentativa de fazer essa escrita que identifica a pessoa ao seu nome próprio. Ao sintoma e à verdade dela.

E, especialmente, por entender que o real nunca pode ser dominado ou excluído e o paciente terá de inventar um novo modo de lidar com seu sintoma, porque seu sintoma é parte dele e não é curado, como no tratamento médico, por se tratar de um sofrimento psíquico. E, mais, sempre haverá restos intraduzíveis. Saber disso acalma a alma.

 


Vemos aqui a grande diferença que nos traz a psicanálise em direção do desejo do sujeito, do qual ele não tem ciência, e, para além do que supõe que esperam dele. Ele supõe que deve sempre atender à expectativa dos grandes ideais que sustenta com seu imaginário. Motivo de sofrimento constante é ser escravo do imaginário.

 

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Surpresa e alívio são resultantes dessa escuta do mais íntimo do ser, pois cessa o se escrever e repetir aquilo que seria infinito. Porque o pensamento é infinitizante e, segundo Lacan, cretinizante. Circular e angustiante e não resolve questões de natureza psíquica, girando no mais do mesmo. É como um raio, que, ao bater na água de um lago, faz uma refração, alterando sua direção, causada pelo corte feito na superfície.

 

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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