É a propaganda mais cara da história. É também um desfile de estrelas, do cinema e das pistas, e de marcas mundiais: carros, obviamente, como também pneus, relógios de luxo, roupas, cerveja. Diante de tamanha opulência, o que realmente importa é que “F1 – O filme”, que chega hoje (26/6) aos cinemas, é imperdível.

Produção extravagante para não ser levada a sério, traz Brad Pitt sendo mais Brad Pitt do que nunca. Seu olhar (agora enfatizado pelas rugas) de meninão travesso é emprestado a um personagem imperfeito, portanto, adorável. Sonny Hayes é aquele que poderia ter sido, mas foi literalmente jogado fora de cena.

Um melodrama como pano de fundo move a história que tem ação do início ao fim. Assim como “Barbie” dois anos atrás, “F1” é um filme da Warner licenciado pela marca. Sua função primeira é aumentar o público, principalmente, nos Estados Unidos, da principal corrida de automobilismo no mundo.

Para tal, foram convocados só grandes. Jerry Bruckheimer assina a produção com Pitt e Lewis Hamilton, o maior vencedor da história da Fórmula 1 em número de primeiros lugares (105), que divide com Michael Schumacher o posto de títulos mundiais (sete).

Na direção, Joseph Kosinski, que dirigiu o maior triunfo recente de Tom Cruise, “Top Gun: Maverick” (2022). A brincadeira, que conta também com a Apple no time de produtores, está estimada entre US$ 250 milhões a US$ 300 milhões.

Ainda que seja direcionado para amealhar novos fãs, ninguém precisa entender muito de ar sujo/ar limpo, undercut e overcut, alguns termos usados correntemente, para embarcar na trama. É uma história requentada do velho mentor que tem que ajudar um novato que se acha mais do que é. Há ainda, fortíssimo em Hayes, o lado redenção de Rocky Balboa.

Ao som do Led Zeppelin

O riff insuperável de “Whole lotta love”, do Led Zeppelin, nos leva para a ação. Hayes acabou de acordar de um pesadelo que o persegue há três décadas. Com fone de ouvido em altíssima rotação, começa a se arrumar na van exígua. Só cinco minutos para entrar em cena – ou salvar o dia. No caso, as 24 horas de Daytona, tradicional corrida de resistência na Flórida. Hayes vai cobrir as oito horas noturnas e levar a equipe ao pódio – para ele, é só uma prova a mais, que cumpriu, brilhantemente, pelo dinheiro.

O encontraremos depois ainda de fone de ouvido esperando a roupa terminar de rodar numa lavanderia automática. É um caubói do asfalto, sempre de jeans, correntes à mostra no peito aberto, que mora dentro de uma van, um contraponto e tanto para o janota que o aborda no local. Uma passagem de primeira classe para Londres o espera. Sua missão? Salvar a APX GP, equipe (fictícia) de Fórmula 1 que não fez, até o momento, nenhum ponto no campeonato.

Quem faz a proposta é Ruben Cervantes (Javier Bardem), seu antigo companheiro de pistas. Foram colegas de Fórmula 1 30 anos atrás, e eram as promessas da época. Ruben é o chefe da escuderia com um rombo de US$ 350 milhões. Se ele não conseguir que a APX pontue durante o campeonato, será colocado para fora pelo conselho e amargará os milhões perdidos.

Hayes é uma aposta arriscadíssima (logo o piloto descobre que foi a nona opção da equipe), pois despreza qualquer tipo de autoridade, tem um passado nada honroso (perdeu tudo com álcool, mulheres e jogos), não gosta de trabalhar em equipe, enfim, um horror para a imagem politicamente correta que as equipes (e seus patrocinadores) querem. Mas somente ele poderá enquadrar a estrela da equipe, Joshua Pearce (Damson Idris), que o chama de velho a toda oportunidade, apesar de ele próprio ter resultados pífios (a culpa, para o jovem, é sempre do carro). “Você é bom, mas poderá ser ótimo”, diz Hayes a certo momento.

Carisma

O cenário é esse, e a história se desenvolve com alguns lances previsíveis. O carisma e os métodos nada convencionais de Hayes logo conquistam a equipe, em especial Kate McKenna (Kerry Condon), primeira mulher a assumir a diretoria técnica de uma equipe de Fórmula 1. Há também um arremedo de vilão em cena (papel de Tobias Menzies, aqui encarnando um canastrão hilário).

Paralelamente à trama ficcional, “F1” nos envolve com as sequências que parecem reais (incluindo os dados computadorizados com todos os lances de cada disputa), como nos mostram a TV aos domingos. Há também muito bastidor, como a coreografia da troca de pneus nos pit stops.

Realidade e ficção: o piloto holandês Max Verstappen cumprimenta Brad Pitt, que interpreta Sonny Hayes, veterano da Fórmula 1. Atrás deles está o ator Damson Idris, no papel do jovem piloto Joshua Pearce

Warner Bros/reprodução

O filme foi rodado durante as temporadas de 2023 e 2024 em 10 etapas do campeonato, como as de Silverstone, no Reino Unido, Budapeste e Abu Dhabi.

Senna 

O Brasil é devidamente representado. Na história, Hayes é da mesma geração de Ayrton Senna. Em um flashback, o piloto interpretado por Pitt disputa posição com o brasileiro até sofrer o acidente que minou sua carreira. Na sequência, Senna interrompe a corrida para socorrê-lo.

Tom Cruise com Brad Pitt na estreia de 'F1: O filme' em Londres, na última segunda-feira (23/6)

Henry Nichols/AFP

Os fãs mais xiitas da Fórmula 1 poderão apontar alguns exageros na trama. Pilotos acima dos 50 são exceção e somente um, Luigi Fagioli, venceu (em 1951 e um dos dois casos de empate na história da categoria). Além do mais, a malandragem de Hayes nas pistas é algo improvável diante das regras atuais.

Mesmo se aproximando o máximo possível do mundo dos grids (Hamilton e Charles Leclerc são alguns dos campeões que dão as caras no filme), “F1” nunca nos deixa esquecer que é tudo ficção. Isso pouco importa, pois os 155 minutos passam voando, com o perdão do trocadilho.

“F1 – O FILME”

(EUA, 2025, 155min., de Joseph Kosinski, com Brad Pitt, Javier Bardem, Damson Idris e Kerry Condon) – O filme estreia nos cines BH, Big, Boulevard (Imax), Cidade, Contagem, Del Rey, Diamond Mall, Estação, Itaupower, Minas Shopping, Monte Carmo, Norte, Pátio, Ponteio e Via Shopping.

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