Relatório divulgado pelo governo federal, com base em dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública, aponta 11.650 casos de feminicídio e 29.659 de homicídio doloso e lesão corporal seguida de morte de mulheres ocorridos entre 2015 e 2024 no Brasil. No mesmo período, 591.495 casos de estupro de mulheres foram registrados.

Incomodada com esta realidade, a artista plástica Eugênia França se dedicou à arte e à pesquisa para denunciar casos de violência contra mulher e homenagear as vítimas.

Neste sábado (12/7), Eugênia inaugura a exposição “Sob vozes silenciadas habitam corpos que gritam”, na Casa de Cultura Nair Mendes Moreira, em Contagem. A abertura da mostra será às 15h, com performance coletiva na escadaria da Igreja São Gonçalo, que guiará o público até a galeria.

“No fim de 2017, fiquei sabendo que minha amiga de adolescência tinha sido agredida violentamente pelo marido. Fiquei tão incomodada com aquilo que não conseguia dormir. A partir disso, comecei a fazer uma série de pinturas de mulheres que tiveram alguma vivência de violência doméstica”, conta a artista.

Eugênia pintou 200 retratos que originaram a série “Em nome das Rosas”. “A primeira pintura foi desta minha amiga. A partir disso, comecei a pesquisar e conversar com mulheres, fui a instituições que dão apoio a mulheres vítimas de violência e algumas me relataram o que passaram.”

Para a artista, os relatos ouvidos durante o processo de construção das telas foram marcantes e dolorosos. “Já ouvi de tudo, no ato da violência sempre há algo muito perverso. A pessoa que é violenta se relacionando com uma mulher, geralmente, busca meios de punir e machucá-la sob todos os aspectos, seja verbal, sexual, econômico ou material”, revela.

Caminhada de 365 dias

O projeto “Entre a pele e a palavra”, composto por performances, videoartes e pinturas, foi desenvolvido por Eugênia após a série “Em nome das Rosas”. Ela estruturou roupas com um tecido branco contendo diversos QR Codes e se propôs a caminhar por 365 dias vestindo os trajes, passando por diferentes cidades e países.

“Cada QR Code leva para uma história. Alguns são cartas escritas pelas mulheres, outros pinturas, serviço de atendimento à mulher vítima de violência, Lei Maria da Penha, áudios e vídeos. Um número grande de possibilidades que as pessoas podem acessar ao ler esses códigos”, explica.

A artista convidou mulheres para performarem a seu lado na apresentação deste sábado (12/7). Com as roupas estruturadas por ela, o grupo se reunirá na escadaria da igreja. Juntas, as mulheres caminharão em direção à Casa de Cultura cantando músicas, em uma espécie de procissão.

“Na galeria, vamos tirar a vestimenta e colocá-la em um cabide que vai ficar por 30 dias aberto ao público. É o ato de despir essa pele mesmo, marcada, violada e machucada. Achei muito importante convidar as mulheres para que elas possam estar juntas, para que a gente se fortaleça, para que estejamos unidas nesse enfrentamento nos despindo de nossas dores.”

Cabideiro 

Cerca de 40 peças de roupa compõem a exposição ao lado de fotografias dos percursos vividos por Eugênia durante os 365 dias e videoartes feitos por ela.

“Será uma instalação, vai ter um cabideiro em que o público pode vestir as roupas, fotografar, experimentar na pele essas vestimentas”, ela explica.

A escolha de Contagem como local de encerramento do percurso e sede da exposição tem diferentes significados para a artista.

Além de o projeto ser financiado por recursos do Fundo Municipal de Cultura, a cidade traz simbolismos importantes para Eugenia, moradora de Contagem há 15 anos.

“A escadaria da igreja é muito simbólica para mim. A Casa de Cultura é um espaço muito bonito, muito antigo. Eu sempre faço esse contraponto de a violência doméstica ser uma coisa tão antiga que persiste no tempo. O espaço nos receberá bem”, conclui.

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“SOB VOZES SILENCIADAS HABITAM CORPOS QUE GRITAM”

Performance com Eugênia França, neste sábado (12/7), às 15h, na escadaria da Igreja São Gonçalo (Rua Bueno Brandão, 40, Centro de Contagem). Exposição a partir das 17h, na Casa de Cultura Nair Mendes Moreira (Praça Vereador Josias Belém, 1, Sede). Entrada franca.

* Estagiária sob supervisão do editor Enio Greco

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