Na história da arte, brasileira ou internacional, diversas personalidades negras têm destaque, relevância e respeito pelo talento e trajetória trilhada na cultura. No Brasil, as atrizes Ruth de Souza e Léa Garcia foram pioneiras no teatro e audiovisual, inspirando e abrindo portas para atrizes negras.
Honrando a memória das artistas, o diretor Luiz Antônio Pilar idealizou o espetáculo “Ruth & Léa”, que conta a história daquelas que, por anos, dedicaram a vida à atuação. A montagem estreia hoje (15/8) no Teatro I do CCBB BH, com sessões de sexta-feira a segunda-feira, às 21h, até 1º de setembro.
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Na peça, as atrizes Zezé (Barbara Reis) e Elisa (Ivy Souza) se encontram em um estúdio cinematográfico e ensaiam para um filme musical sobre a história de Ruth e Léa. Elas mergulham na história das mulheres e na importância dessas atrizes para o teatro brasileiro.
Teatro Experimental do Negro
“A gente se torna elas, voltamos a ser nossas personagens, contamos histórias de outros personagens que fizeram parte da trajetória delas e também falamos um pouco do Teatro Experimental do Negro”, explica a atriz e produtora Barbara Reis. A atriz e diretora Ivy Souza completa: “O pensamento era navegarmos entre os personagens e o tempo dos vários períodos que contamos.”
O interesse de Barbara pelo teatro surgiu aos 6 anos. Aos 12, foi matriculada na CAL – Casa das Artes de Laranjeiras, onde se formou profissionalmente aos 22 anos.
Ruth de Souza e Lea Garcia no filme 'Filhas do vento', do mineiro Joel Zito Araújo, rodado em Lavras Novas, perto de Ouro Preto
A atriz participou de diversas peças, filmes e novelas – como “Éramos seis” (2019) e “Todas as flores” (2022) – até protagonizar “Terra e paixão”, em 2023.
“Mudou muito a minha trajetória, a forma como as pessoas passaram a me enxergar, como uma Barbara artista e sabendo de fato o meu nome, Barbara Reis. O protagonismo de uma novela das nove coloca a gente num lugar assim, este trabalho foi muito especial, assim como toda a minha trajetória.”
Catequese
Ivy Souza começou a atuar por acaso, com cerca de 14 anos, quando ensinava catequese para crianças em uma igreja católica. Ao lado dos amigos, Ivy começou a planejar peças para entreter as crianças e facilitar o ensino.
“Com o tempo, fomos dando mais importância para como elaborar essas peças, até que a gente começou a pensar em peças que não tinham teor religioso nenhum. Então, começamos a procurar formação.”
A atriz reforça a importância das políticas públicas do estado de São Paulo para seu crescimento profissional. Ela se formou na Escola de Arte Dramática da USP e começou a ter o teatro e a arte como ofício.
Ruth de Souza fez parte de diversas montagens pelo Teatro Experimental do Negro, como “O imperador Jones”, primeira peça interpretada por atores negros nos palcos do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
A atriz foi a primeira negra a protagonizar novela, participou e protagonizou diversos filmes.
Festival de Veneza
O papel de Ruth em “Sinhá Moça", filme baseado no romance homônimo de Maria Dezonne Pacheco Fernandes, lhe rendeu a indicação ao Leão de Ouro no Festival de Veneza, em 1953.
Ruth morreu em 2019, aos 98 anos, deixando sua marca na dramaturgia e na luta por direitos igualitários no Brasil.
“Para mim, tem sido uma honra interpretar a Ruth. Falar dela é falar de mim também. Porque em algum momento, eu também me coloquei em lugares onde eu ‘não poderia estar’. Mas viver a Ruth me mostra que eu estava totalmente errada, porque ela em um momento mais difícil, com menos informação, com menos espaço, foi uma mulher muito aguerrida nesse lugar, sempre se colocando em espaços onde ela não poderia chegar”, reflete Barbara.
Léa Garcia também integrou o Teatro Experimental do Negro e participou de peças como “O imperador Jones” e “Todos os filhos de Deus têm asas”.
Palma de Ouro
Ela trabalhou no cinema e na televisão e concorreu à Palma de Ouro em 1957, por seu papel como Serafina no filme “Orfeu negro”.
A atriz levou a luta antirracista para seus trabalhos nos palcos e no audiovisual. Ela morreu em 2023, aos 90 anos.
“É uma honra, uma baita responsabilidade interpretá-la. Eu já era e sou muito fã do trabalho da Léa e da Ruth. Então, foi muito bom ter a oportunidade de, a partir desse processo, me aprofundar ainda mais não só nas obras, mas no recorte da intimidade delas. Foi um presente”, conta Ivy.
A luta antirracista prossegue no Brasil. Artistas negros precisam batalhar por espaços que são de todos por direito.
“Ruth & Léa” é homenagem a quem, mesmo nos tempos mais difíceis, lutou por esta causa de pertencimento e sobrevivência.
“Temos de continuar batalhando para que esse espaço não se feche, não volte a ser o que era antes. Acredito que muitas coisas ainda precisam melhorar para dar continuidade. Acredito que o audiovisual tem muito poder de tornar real aquilo que as pessoas não estão enxergando”, conclui Barbara.
“RUTH & LÉA”
Peça com Barbara Reis e Ivy Souza. De sexta-feira (15/8) a 1º de setembro, no Teatro I do CCBB BH (Praça da Liberdade, 450, Funcionários). Sessões de sexta a segunda, às 21h. Ingressos a R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), à venda no site ccbb.com.br/bh
OUTROS ESPETÁCULOS
>>> “ELZA SOARES PARA CRIANÇAS”
Neste domingo (17/8), o palco do Grande Teatro do Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro) recebe o musical “A menina do meio do mundo – Elza Soares para crianças”, em sessão única, às 17h. O espetáculo faz parte do projeto Grandes Músicos para Pequenos e conta a trajetória da cantora para as novas gerações. Os ingressos estão disponíveis por meio da doação de R$ 5 para o Programa Sesc Mesa Brasil na plataforma Sympla ou na bilheteria do local.
>>> “PEQUEÑAS INFIDELIDADES”
A peça “Pequeñas infidelidades” retorna após breve estreia em fevereiro, durante a 50ª Campanha de Popularização do Teatro e Dança. As apresentações serão neste sábado (16/8), às 20h, e domingo (17/8), às 19h, no Teatro Marília (Avenida Prof. Alfredo Balena, 586, Santa Efigênia). O espetáculo mescla drama e humor para contar o reencontro de um casal 20 anos após se divorciar. Ingressos à venda por R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia), na plataforma Sympla e na bilheteria do Marília.
>>> “O VENDEDOR DE SONHOS”
O Cine Theatro Brasil (Praça Sete, Centro) recebe neste sábado (16/8), às 20h, a montagem de “O vendedor de sonhos”, da obra de Augusto Cury. A trama acompanha Júlio César que, ao tentar suicidio, é impedido por um mendigo. Ingressos à venda pela plataforma Eventim. Plateia 1: R$ 140 (inteira) e R$ 70 (meia). Plateia 2: R$ 120 e R$ 60.
>>> “BAMBO”
A Ananda Cia. de Dança Contemporânea apresenta o espetáculo “Bambo”, neste sábado (16/8), às 10h, na Praça Cristo Rei (Avenida Afonso Vaz de Melo, Barreiro), e às 16h, na Praça Duque de Caxias, em Santa Tereza. No domingo (17/8), o grupo se apresenta no Parque Lagoa do Nado (Portaria 2, Rua Min. Hermenegildo de Barros, 904, Itapoã). A montagem aborda questões de gênero e identidade de forma lúdica e poética. Entrada franca.
* Estagiária sob supervisão do editor Enio Greco