
''N�o fico colocando uma emissora em um patamar e a concorrente em outro.... Busco uma maneira de poder brilhar no lugar em que me colocarem''
Entrevista/Barbara Reis
Int�rprete de Shirley em �ramos seis se sente privilegiada por viver uma mulher madura
'Nasci para ser atriz'
Todas as atrizes vivem momentos de transi��o na carreira, dependendo da faixa et�ria em que est�o. Para Barbara Reis, no entanto, a fase de interpretar mulheres mais maduras e experientes veio cedo. Em �ramos seis, novela das 18h da Globo, aos 29 anos, ela vive Shirley, m�e de In�s, que, na segunda parte da trama, ser� defendida por Carol Macedo. O inusitado � que Carol � apenas tr�s anos mais nova. "Os atores entram com a t�cnica e a caracteriza��o complementa o trabalho. A Carol j� aparenta ser mais nova no v�deo e eu sou alta, tenho 1,75m. Tudo isso nos favorece. Nessa novela, estou saindo dessa zona de pap�is mais jovens, que � uma coisa normal tamb�m, que acontece na vida de qualquer atriz. Vou fazer 30 anos, acho que posso me aventurar tanto em personagens mais novas quanto um pouco mais velhas", analisa a artista. Na entrevista a seguir, Barbara comenta sobre a forte carga de frustra��o que carrega nas cenas de Shirley, em fun��o do passado da baiana. E revela que ainda gravava o folhetim b�blico Jesus, na Record, quando recebeu o convite para atuar no folhetim global. Al�m disso, defende a postura r�gida de Shirley na cria��o de sua �nica filha, In�s, que na primeira fase � interpretada por Gabriella Saraivah.
Voc� vive Shirley em diferentes fases. O fato de come�ar em uma idade mais pr�xima da sua ajudou?
A Shirley � uma mulher jovem, que deve ter uns 27 anos quando a hist�ria come�a. Mas, devido a tudo que passou, acabou amadurecendo cedo demais. Ela � de origem humilde e se apaixonou, mas esse sentimento n�o teve futuro porque a m�e do cara que ela amava, o Jo�o Aranha (Caco Ciocler), separou o casal com uma mentira. A filha dos dois nasceu sem que o pai soubesse. Ou seja, era uma mulher de 1908, mais ou menos, m�e solteira. No fundo, ela teve muita sorte ao se juntar com o Afonso (C�ssio Gabus Mendes), que a salvou de um triste fim.
Mas ela n�o parece feliz...
A Shirley � muito agradecida ao Afonso, s� que n�o sabe expressar. At� em fun��o de uma preocupa��o exagerada que tem com a filha. Ficou um fantasma, porque ela n�o se conforma com o abandono que sofreu e isso a marcou. Da�, vem esse lado mais duro e amargo, que se reflete na rela��o com a In�s. � por tentar proteger a filha de tudo que ela sofreu na adolesc�ncia que existe esse cuidado todo, de uma maneira mais chata.
O que o aparecimento de Jo�o Aranha na trama provoca em Shirley?
Essa personagem at� vem da adapta��o de 1994, produzida pelo SBT, mas foi totalmente mexida. Ent�o, essa trama vai ser uma novidade para o p�blico. O Jo�o aparece e quer que Shirley saiba que a separa��o deles ocorreu por causa de uma mentira. E existe algo que n�o foi resolvido ainda ali. Tanto que a Shirley quase n�o sorri. Isso s� muda um pouco quando o Jo�o reaparece.
O fato de Shirley ser negra foi uma quest�o no romance?
Acho que isso pesou para a arma��o feita pela m�e do Jo�o, mas a rela��o inter-racial n�o chega a ser uma quest�o t�o explorada na novela. Ela � citada, mas � algo muito mais psicol�gico do que externo. Assim como a posi��o da mulher naquela �poca, por exemplo. Ao mesmo tempo em que ela est� ali, inserida no s�culo 20, servindo o jantar e cuidando da casa, a Shirley tamb�m trabalha no armaz�m
Por se tratar de uma hist�ria de �poca demandou uma prepara��o espec�fica?
Meus trabalhos na TV foram de �poca. O que muda � estudar as caracter�sticas de cada per�odo. Tem o figurino para auxiliar. Precisei cortar o cabelo tamb�m, mas isso eu amei. Acho at� que nunca mais vou deixar crescer, pois descobri outra faceta minha e me deu um ar mais solar, que adorei de cara. Esse in�cio foi muito bom. Como a Shirley est� ligada ao armaz�m e esse � um cen�rio importante, por onde passam diversos personagens, fui uma das pessoas que mais teve material para gravar. Acho que essa rotina mais intensa, mesmo nos primeiros dias, me fez encontrar melhor esse papel. At� porque a Shirley � muito distante de mim, � triste.
Voc� teve um papel de destaque em Os dias eram assim (Globo, 2017), que retratou uma fase de forte repress�o e ditadura. �ramos seis vai ser uma oportunidade para os mais jovens aprenderem sobre a hist�ria do Brasil?
A d�cada em que o texto se passa � sempre um pano de fundo, mas acho que alguns personagens contar�o melhor isso do que o meu n�cleo. E tem uma coisa: n�o estamos aqui com essa fun��o, necessariamente. A ideia � abordar mesmo as rela��es familiares e, principalmente, dentro de casa, entre quatro paredes. A m�e com os filhos, a esposa com o marido, nesse sentido.
Antes de �ramos seis, voc� estava na Record, fazendo Jesus. Como se deu essa transi��o?
Fui convidada para atuar na Record e, agora, me chamaram para voltar. Considero essa movimenta��o muito normal e n�o fico colocando uma emissora em um patamar e a concorrente em outro. Nasci para ser atriz, trabalho com isso e busco uma maneira de poder brilhar no lugar em que me colocarem. Quando ainda estava l�, j� sabia daqui. Foi gra�as ao Carlos (Ara�jo, diretor): n�s trabalhamos em Velho Chico, depois em Os dias eram assim e, agora, em �ramos seis.
Ser uma adapta��o t�o bem-sucedida em outras emissoras e �pocas mexeu com voc�?
Olha, � claro que qualquer personagem deixa a gente com expectativas. Mas �ramos seis � diferente. Pela for�a dessa hist�ria, por ser baseada em um livro importante da nossa literatura, pelo apego emocional que as pessoas t�m com os personagens, enfim, eu amei esse convite. (Estad�o Conte�do)