A Companhia Armazém de Teatro apresenta a peça “Dias felizes”, do dramaturgo irlandês Samuel Beckett, neste sábado (23/8), no Centro Cultural Unimed-BH Minas. Paulo de Moraes assina a direção da montagem, que estreou este ano e chega pela primeira vez a Belo Horizonte. O elenco reúne Patrícia Selonk, Felipe Bustamante, Isabel Pacheco e Jopa Moraes.

“O Beckett escreveu muito influenciado pelo final da Segunda Guerra. Então, é uma peça que fala sobre o mundo que está sendo destruído, em reconstrução e tentando achar um sentido. Ela se encaixa muito nos dias de hoje. Fala com o espectador de uma forma muito poderosa, porque esses temas nos quais ela toca são extremamente universais e contemporâneos ao mesmo tempo”, afirma Moraes.

A trama acompanha a jornada de Winnie (Patrícia Selonk). Soterrada por areia até o peito e, depois, o pescoço, ela perdeu a noção de tempo e enfrenta a linha tênue entre desespero e otimismo.

Em meio a humor, ironia e drama, a personagem se apega a pequenos rituais para não se render ao absurdo que experimenta.

“Winnie só tem uma bolsa ao lado, com alguns elementos, e começa a falar sobre a vida dela. Tenta fazer o tempo passar, relacionando-se com os poucos elementos naquela bolsa, como um batom, um revólver, escova de cabelo, escova de dentes, coisas assim”, conta Paulo de Moraes.

Perto de Winnie está seu companheiro, o calado Willie. Os atores Felipe Bustamante, Isabel Pacheco e Jopa Moraes se alternam nesse papel. Ele se porta como cúmplice silencioso naquela sátira a respeito da solidão. Na apresentação deste fim de semana em BH, a atuação ficará a cargo de Jopa Moraes.

“Winnie tenta interagir com o outro personagem, que insiste em ficar calado. Em alguns momentos, Willie se comunica com ela. Em outros momentos, ele se comunica mesmo em silêncio”, conta Moraes.

O diretor observa que humor e drama se equilibram na trama. No segundo ato, só a cabeça de Winnie está fora dos escombros, no momento mais dramático da peça.

“Mesmo assim, ela continua tentando fazer com que o dia seja feliz”, diz ele.

Felicidade

O título “Dias felizes” remete à frase recorrente de Winnie. “Ela fala: ‘Mais um dia feliz’. Embora se encontre absolutamente restrita, continua dizendo que o dia pode ser feliz, que a felicidade pode chegar. É uma personagem muito potente. É uma das peças mais bonitas que já li na minha vida”, revela o diretor.

A Armazém Companhia de Teatro surgiu em 1987, em Londrina, no Paraná. Um dos grupos teatrais mais respeitados do país, ela também se apresenta no exterior.

“A Armazém recebeu inúmeros prêmios do teatro brasileiro, também faz muitas turnês fora do país”, diz o diretor. Em 2024, Moraes ganhou os prêmios APTR e Fita pela montagem de “Brás Cubas”.

Rússia e China

“Acabamos de voltar de um festival na Rússia, a gente apresentou 'Brás Cubas' em Moscou. Ano passado, fizemos uma turnê grande pela China. Também temos uma história longa com Belo Horizonte, a maioria dos espetáculos da companhia foi apresentada na capital mineira”, diz Paulo Moraes.

A peça da Armazém faz parte do Festa – Festival de Teatro e Artes do Minas Tênis Clube, em comemoração aos 90 anos do MTC.


“DIAS FELIZES”

Com Armazém Companhia de Teatro. Neste sábado (23/8), às 20h, no Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Ingressos: R$ 40 (inteira), R$ 20 (meia), R$ 34 (inteira para sócio MTC e Unimed) e R$ 17 (meia para sócio MTC e Unimed), à venda na bilheteria e na plataforma Sympla.

* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria

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