Pela primeira vez em sua carreira, Mônica Salmaso levou um show para o palco sem ter álbum de estúdio como base - (crédito: Aline Santos/divulgação)
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“Minha casa” (Biscoito Fino), novo álbum de Mônica Salmaso, representa um ponto de inflexão na trajetória da cantora paulistana. “Depois da pandemia, dos vídeos do ‘Ô de casas’ (projeto de encontros virtuais gerado na crise sanitária) e da turnê com o Chico (‘Que tal um samba?’, que correu o país entre 2022 e 2023), eu estava sem saber o que fazer. Precisava voltar para casa, para o meu trabalho solo, só que a casa não era mais a mesma depois de tudo o que vivemos.”
Foi dessa maneira que, pela primeira vez, ela concebeu um show sem ter disco de estúdio como base. Em setembro de 2023, em São Paulo, estreou o espetáculo que está rodando o Brasil desde então. E que só agora, dois anos depois, resulta em disco, gravado ao vivo no belo-horizontino Sesc Palladium, em 4 de outubro de 2024. Tudo direto, sem direito a repetição, como se deve.
Por um lado, “Minha casa” traz o registro de inéditas na voz da cantora como “Acalanto” (Teresa Cristina) e “O tempo nunca mais firmou” (Chico Chico e Sal Pessoa). Por outro, exibe novas gravações de canções já conhecidas de seu repertório, como “Valsinha” (Chico Buarque e Vinicius de Moraes) e “Menina amanhã de manhã’ (Tom Zé e Perna).
“Como o disco nasceu para o palco, fazia todo o sentido que não fosse gravado em estúdio. A plateia é parte do trabalho, bem como cada músico. As canções não são tratadas individualmente, mas dentro de um roteiro que inclui a participação do público”, continua Mônica.
A seu lado, além de Teco, que assinou os arranjos, estão Neymar Dias (viola, contrabaixo e arranjos), Lulinha Alencar (acordeom), Ari Colares (percussão) e Ricardo Mosca (bateria).
A possibilidade de registrar a turnê só veio no meio do processo. “É um show longo, de quase duas horas, com músicas que eu já tinha gravado. Conforme a gente foi fazendo, foi ficando tão bom que a ideia acabou se tornando possível em BH, quando ele já estava amadurecido.”
Chico Buarque
A temporada de “Que tal um samba?”, com Chico Buarque, rendeu alguns aprendizados. Um deles sobre a escolha de repertório. Assim que recebeu o convite, Mônica escolheu as canções que queria cantar. “Submeti as músicas a ele, fizemos a lista das que poderíamos cantar juntos. Depois, Chico chegou com o roteiro pronto.”
Ela, que nunca havia trabalhado dessa maneira, resolveu mudar em “Minha casa”. “Antes, escolhia um grupo de canções e depois pensava na ordem. Com esse, desenhamos o repertório que conta uma história. É como roteiro, em que você junta assuntos. Os arranjos, vários coletivos, foram pensados não só em relação à música, mas com o lugar dela (no roteiro).”
Um bom exemplo vem de “Mortal loucura”, poema de Gregório de Matos musicado por José Miguel Wisnik. “Já tinha gravado em ‘Alma lírica brasileira’ (2011). Agora, está nos momentos finais do show, tem outra temperatura. Demos um arranjo de maracatu, com densidade maior.”
Música de novela
Tanto por isso, a ordem das canções de “Minha casa” não mudou ao longo dos dois anos em que o show vem sendo apresentado. A única exceção, mas que não aparece no disco (está somente no palco), é “Canto sedutor”. A faixa, que ela havia gravado no álbum homônimo (2022), com Dori Caymmi, entrou na trilha da novela “Renascer” (2024). Diante da repercussão, Mônica decidiu incluí-la no bis.
“Minha casa” terá edição em CD, como todos os discos de Mônica. “Vou fazer assim até quando puder. Você tem fácil acesso a tudo nas plataformas digitais, mas acho que sem fazer o físico, o trabalho fica incompleto. Nas plataformas, nosso trabalho é tratado como matéria-prima para coletânea. O CD, além dos créditos devidos, apresenta a concepção do projeto. Nesse caso, são 21 músicas, não 21 singles.”
Mônica acredita que o show “Minha casa”, mesmo diante do lançamento do álbum, deverá seguir até o primeiro semestre de 2026. Depois disso, tem outras cartas na manga.
Em 2020, ela planejava fazer show em homenagem a Elizeth Cardoso (1920-1990), em celebração ao centenário de A Divina, que teve de ser engavetado em decorrência da pandemia.
Findo o isolamento social, “Senhora das canções”, idealizado com a Casa do Choro, no Rio de Janeiro, ganhou apresentações esparsas. Esse trabalho foi gravado, agora Mônica espera levá-lo devidamente para a estrada.
Outro centenário a aguarda. Em 12 de julho, ela estreou no Festival Jardim Sonoro, em Inhotim, show dedicado a Tom Jobim. Cantou ao lado de Teco Cardoso e do violonista João Camarero. Repetiu recentemente o repertório em São Paulo.
Em 2027, quando serão celebrados os 100 anos do “Maestro Soberano” (1927-1994), Mônica espera poder levar a público uma temporada em homenagem a ele.
Oito vídeos no YouTube
O canal do YouTube da Biscoito Fino disponibiliza, aos poucos, o registro audiovisual de “Minha casa”.
Até o momento, foram lançados oito vídeos de canções como “Noite severina” (Lula Queiroga e Pedro Luis), “Teleco-teco” (Marino Pinto e Murillo Caldas) e “Quebra-mar” (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro).