QUALIDADE DE VIDA

Santa Casa realiza mutirão de cirurgia cerebral em pacientes com Parkinson

Hospital de BH é o único de Minas a oferecer o procedimento via SUS; fila de espera tem cerca de 80 pessoas

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Pela primeira vez, dez pacientes com Parkinson e outras doenças do movimento recebem, no mesmo dia, cirurgia que pode transformar suas rotinas: o implante de eletrodos cerebrais feito pela Santa Casa BH, único hospital de Minas Gerais habilitado a realizar o procedimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

 

O mutirão realizado nesta quarta-feira (25/6) inclui tanto pacientes que receberão o sistema pela primeira vez quanto aqueles que passam por substituição do gerador, uma espécie de bateria implantada no tórax e que precisa ser trocada em um período de cinco a sete anos.

Para quem convive com os impactos do Parkinson, o procedimento é mais do que uma cirurgia: é uma chance real de retomada da autonomia. A enfermeira Rosélia de Souza, de 34 anos, acompanhou o declínio da saúde do marido, José David, por quase duas décadas. “Ele ficou praticamente acamado, dependente de cuidados diários. Foi uma fase muito ruim da nossa vida", relata.

Em 2019, ele foi submetido a uma cirurgia de implante dos eletrodos, e, segundo ela, a transformação foi imediata: “Conseguimos ter uma qualidade de vida melhor. Hoje voltamos para fazer a troca da bateria e dar continuidade ao tratamento que mudou nossas vidas”.

O que é o Parkinson

A Doença de Parkinson é uma condição degenerativa, crônica e progressiva do sistema nervoso central, causada pela redução da produção de dopamina, neurotransmissor essencial para o controle dos movimentos voluntários do corpo. Dentre os sintomas mais comuns estão tremores, rigidez muscular, lentidão nos movimentos e desequilíbrio.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Parkinson é a segunda doença neurodegenerativa mais comum no mundo, atrás apenas do Alzheimer. Estima-se que cerca de 4 milhões de pessoas convivem com a doença no planeta, sendo aproximadamente 450 mil no Brasil.

A evolução costuma ser lenta e variável entre os pacientes, afetando a capacidade de realizar tarefas simples do dia a dia, como vestir-se, cozinhar ou escrever. Os tremores geralmente em repouso podem afetar mãos, queixo, pés ou cabeça e variam de intensidade ao longo do dia. Outros sintomas incluem distúrbios da fala, dificuldades para engolir, depressão, dores e alterações do sono e da urina.

A cirurgia de Estimulação Cerebral Profunda (ECP), também chamada de DBS (Deep Brain Stimulation), é indicada para casos em que o tratamento com medicamentos já não é suficiente para controlar os sintomas da doença. O procedimento consiste na implantação de eletrodos em áreas profundas do cérebro, ligados a um gerador instalado no tórax do paciente.

Os impulsos elétricos enviados pelos eletrodos ajudam a reduzir sintomas motores como tremores e rigidez. Segundo os médicos, o efeito da estimulação pode ser percebido logo nos primeiros dias após a ativação do aparelho. O ajuste ideal do equipamento, no entanto, pode levar cerca de três meses.

Para a dona de casa Eva Fernandes, uma das beneficiadas com o procedimento, a cirurgia é a oportunidade de uma vida nova. O primeiro procedimento foi em 2021, após anos de espera. “Eu não conseguia andar, não tomava banho sozinha. Eram minhas filhas quem me davam banho. Depois que eu fiz a cirurgia, fiquei maravilhosa. Hoje coloquei um novo gerador e estou me sentindo muito bem. Estou maravilhada”, afirma, com os olhos marejados e a voz firme.

Santa Casa concentra atendimento

Único hospital de Minas Gerais habilitado a realizar a cirurgia via SUS, a Santa Casa BH atende pacientes encaminhados de todas as regiões do estado. Atualmente, a fila de espera para o procedimento conta com cerca de 70 a 80 pessoas. “Como somos o único centro público de referência para esse tipo de cirurgia, recebemos casos do estado inteiro. Atendemos 100% da demanda do SUS em Minas”, afirma o neurocirurgião Júlio Almeida, que coordena a equipe responsável.

A Santa Casa realiza, em média, 40 cirurgias desse tipo por ano. O hospital é responsável por 25% de todas as cirurgias de ECP feitas no país.

Custo elevado

O procedimento tem alto custo, especialmente por causa do equipamento implantado. No setor privado, a cirurgia pode custar entre R$ 200 mil e R$ 300 mil. No SUS, parte do valor é custeada pelas secretarias municipal e estadual de saúde, que mantêm parceria com a Santa Casa para viabilizar o serviço. "A tabela do SUS não cobre integralmente os custos do sistema. Por isso, o apoio das secretarias é fundamental para manter o serviço funcionando e garantir acesso aos pacientes”, explica o médico.

Além do Parkinson, a Estimulação Cerebral Profunda pode ser indicada para outras doenças do movimento, como tremor essencial e distonia refratária. Também há autorização para seu uso em casos específicos de epilepsia de difícil controle e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Estudos clínicos em andamento avaliam ainda a aplicação da técnica em quadros como dependência química, transtornos alimentares e doenças psiquiátricas.

Acompanhamento vitalício

O cuidado com o paciente começa antes da cirurgia, com uma avaliação multidisciplinar que envolve neurologistas, neurocirurgiões e psicólogos. Após o procedimento, o acompanhamento se estende por toda a vida. Nos primeiros meses, as consultas são frequentes, com ajustes periódicos no aparelho até se atingir a estimulação ideal. A partir daí, o paciente passa a ser acompanhado de forma regular, com retornos semestrais ou anuais. O gerador precisa ser trocado, em média, de cinco a sete anos.

O aumento da expectativa de vida e o envelhecimento da população têm contribuído para o crescimento da demanda por esse tipo de tratamento. Segundo Júlio Almeida, é cada vez maior o número de pacientes que deixam de responder bem ao tratamento medicamentoso e passam a ter indicação para cirurgia.

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A expectativa é que novas edições do mutirão ocorram ao longo do ano. “Com essa fila de pacientes aguardando, nosso objetivo é repetir os mutirões pelo menos uma ou duas vezes por ano. É uma forma de acelerar o acesso e oferecer um cuidado mais rápido a quem já está sofrendo com os sintomas”, conclui.

*Estagiária sob supervisão do subeditor Thiago Prata

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