A alucina��o de presen�a, caracterizada por forte sensa��o de que h� algu�m atr�s, pode ser um forte indicativo de um futuro agravamento do Parkinson
De acordo com a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), a doen�a de Parkinson acomete cerca de 4 milh�es de pessoas no planeta. Com o aumento da expectativa de vida e o envelhecimento populacional, o n�mero pode dobrar at� 2040. Dessa forma, identificar fatores que anteveem a evolu��o da doen�a � condi��o estrat�gica para enfrent�-la. Pensando nisso, pesquisadores da Escola Polit�cnica Federal de Lausana (EPFL), na Su��a, descobriram que pessoas que apresentam alucina��es precoces — comum em cerca de 30% dos pacientes — correm risco de ter um decl�nio cognitivo mais r�pido.
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Para realizar o trabalho, cientistas da EPFL se uniram a pesquisadores do Hospital Sant Pau, na Espanha, e coletaram dados de 75 pacientes com idade entre 60 e 70 anos. Os volunt�rios responderam a uma s�rie de entrevistas neuropsicol�gicas, para avalia��o do estado cognitivo, e a entrevistas neuropsiqui�tricas, que ajudam na detec��o de alucina��es. Tamb�m foram submetidos a medi��es eletroencefalogr�ficas (EEG), com o objetivo de visualizar a atividade cerebral em repouso.
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Ao analisar os dados obtidos, os pesquisadores descobriram que o decl�nio cognitivo da fun��o executiva frontal — que diz respeito � diminui��o das habilidades cognitivas envolvidas no controle e na regula��o de pensamento, comportamento e emo��es — �, nos cinco anos seguintes, mais r�pido nos pacientes que apresentavam alucina��es precoces.
Conforme o estudo, o n�vel de decl�nio cognitivo ao longo desse tempo est� associado a padr�es de ondas cerebrais medidos pelo EEG durante a primeira avalia��o. Assim, essa condi��o poderia ser um indicador de agravamento do Parkinson se percebida no in�cio do adoecimento. "Se voc� tem a doen�a de Parkinson e alucina��es, mesmo que sejam pequenas, deve compartilhar essas informa��es com seu m�dico o mais r�pido poss�vel", enfatiza, em nota, Fosco Bernasconi, do Laborat�rio de Neuroci�ncia Cognitiva da EPFL e principal autor do estudo.
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Terapias
Os cientistas ressaltam, no artigo, que doen�as neurodegenerativas, como o Parkinson, costumam ser detectadas quando est�o muito avan�adas, o que acaba reduzindo o efeito de algumas medidas terap�uticas. Ao buscar sinais precoces do avan�o da patologia, como as pequenas alucina��es, a equipe pretende criar formas de retardar a progress�o dos sintomas cognitivos e psiqui�tricos da doen�a.
Segundo Olaf Blanke, l�der do laborat�rio que guiou a pesquisa, a detec��o precoce tamb�m poder� facilitar o desenvolvimento de terapias aprimoradas e personalizadas. "Pretendemos ter um marcador precoce para identificar indiv�duos em risco de uma forma mais grave da doen�a de Parkinson com base na propens�o a alucina��es. E, idealmente, identificar esses indiv�duos antes mesmo de as alucina��es realmente ocorrerem", detalha, em nota.
O neurologista Marcelo Lobo, do Hospital Santa L�cia, em Bras�lia, refor�a que o sintoma avaliado pelos cientistas tem papel-chave no acompanhamento da doen�a. "Esse preditor pode ajudar no tratamento. Quando a gente diagnostica um paciente at�pico, o uso de medica��es espec�ficas pode trazer um um benef�cio importante no controle dos sintomas, principalmente nas alucina��es e no decl�nio cognitivo. Pode tamb�m fazer com que a gente inicie precocemente medidas de reabilita��o por meio de treinamento cognitivo", afirma.
De acordo com o ensaio, alucina��es em geral est�o entre os sintomas menos conhecidos da doen�a de Parkinson, apesar de serem comuns, acometendo cerca de metade dos diagnosticados. O tipo precoce �, de fato, motivo de preocupa��o porque aparece em um ter�o dos pacientes antes do in�cio dos sintomas motores, como tremores. Pode ser leve, mas tamb�m grave, como alucina��es visuais.
� estabelecido pela ci�ncia e pela medicina que alucina��es visuais complexas, como ver algu�m que n�o est� presente, s�o associadas ao decl�nio cognitivo e � dem�ncia em decorr�ncia do Parkinson e outros dist�rbios neurodegenerativos. Todavia, elas normalmente surgem em um est�gio avan�ado da doen�a, o que limita seu uso como marcador precoce de decl�nio cognitivo.
Priscilla Mussi, geriatra e coordenadora de Geriatria do Hospital Santa L�cia, cr� que, apesar da recente descoberta, o preditor poder� ser �til na cria��o de abordagens mais eficazes. "O reconhecimento precoce dessas altera��es cognitivas por meio da avalia��o neuropsicol�gica � importante e pode ser �til para a introdu��o de novas estrat�gias terap�uticas", diz. "Entre as altera��es cognitivas, a dem�ncia � o estado mais grave da doen�a, aumentando o risco de morte, devido a complica��es cl�nicas ligadas ao funcionamento respirat�rio, efeitos colaterais dos medicamentos, que podem levar � seda��o e a dist�rbios card�acos."
Palavra de especialista: necessidade de mais estudos
"Alucina��es s�o um sintoma comum em pacientes com a doen�a de Parkinson avan�ada. Elas podem envolver a vis�o, a audi��o, o olfato e at� mesmo o tato. O decl�nio cognitivo � outro sintoma frequente e se refere � diminui��o da capacidade de pensar, raciocinar, lembrar e processar informa��es. Isso pode afetar a mem�ria, a aten��o, a linguagem e o funcionamento executivo, levando a dificuldades no planejamento, na tomada de decis�o e na resolu��o de problemas. Existem v�rias implica��es na rela��o entre alucina��es e decl�nio cognitivo na doen�a de Parkinson. Estudos t�m mostrado que pacientes com alucina��es apresentam um maior comprometimento cognitivo do que aqueles que n�o t�m alucina��es. Diante disso, podemos utilizar medicamentos para atenuar esses sintomas. Todavia, a rela��o entre alucina��es e decl�nio cognitivo na doen�a de Parkinson � complexa e ainda n�o est� completamente compreendida. Mais pesquisas s�o necess�rias para investigar os mecanismos espec�ficos envolvidos e desenvolver abordagens terap�uticas eficazes para lidar com esses sintomas. O tratamento, atualmente, se concentra em ajustes de medicamentos, terapias comportamentais, atividade f�sica e suporte psicossocial."
Marcos Alexandre Alves, neurologista do Instituto de Neurologia de Goi�nia, pertencente ao Grupo Kora Saud
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