O secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais, Rogério Greco, afirmou que ficou pasmo ao saber que o suspeito de matar o gari Laudemir de Souza Fagundes, de 44 anos, disse que o conhecia durante uma tentativa de “carteirada”,  no Centro de Remanejamento de Presos no Bairro Gameleira, na Região Oeste da capital. Ao Estado de Minas, o chefe da segurança mineira reforçou que nunca manteve contato com o investigado.

Greco ainda afirmou que o investigado não terá nenhum privilégio nas unidades prisionais mineiras por ser marido de uma delegada da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG). Ele explicou que há casos em que o detento possui algum cargo, como advogados, ele é remanejado para espaços específicos como a sala de Estado-Maior, que está prevista pelo Estatuto da Advocacia. 

“No caso dele não. Ele já está em regime recolhido em uma unidade prisional e vai ficar assim até que aconteça uma ordem judicial, se acontecer. Ele vai ter o mesmo tratamento de qualquer preso”. 

Em nota publicada nas redes sociais, o chefe da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp-MG) afirmou que não mantém “qualquer relação, contato ou familiaridade” com o investigado. Para ele, a afirmação é “mentirosa”. “De alguma forma ele quis tirar algum proveito disso, se fazendo passar por conhecido meu para poder ter algum benefício e obviamente isso deu errado”, disse o secretário.

A situação foi revelada pelo próprio empresário durante sua audiência de custódia na manhã de quarta-feira (13/8). Na oportunidade, Renê teria afirmado que ao ser indagado por diversos agentes sobre o crime ele teria dito que conhece o secretário e que o contaria sobre a “recepção” na unidade. No entanto, a familiaridade entre os dois foi desmentida pelo secretário. 

Nas gravações, feitas em todas as audiências, o suspeito é questionado por seus advogados sobre o tratamento durante o momento da prisão. Em resposta, o homem afirmou que passou por momentos de constrangimento ter que agachar três vezes ao sair da cela em que estava. Ele também reclamou das acomodações da unidade prisional por estar dormindo no chão e ter sido fotografado. 

“Alguns agentes começaram a falar: ‘Pô, você matou o gari’, ‘Você fez isso, covarde’. Então eu falei que eles tinham que entender que existe uma investigação em curso’ e falei: ‘Eu conheço o Greco [Rogério Greco, secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública] e vou falar com ele quando sair daqui’”, relatou Renê.

Como foi o crime?

O prestador de serviços da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) trabalhava, junto com outras quatro pessoas, na Rua Modestina de Souza, por volta das 8h55, quando a motorista do caminhão, uma mulher de 42 anos, parou e encostou o veículo para que uma fila de dez carros pudessem passar. A via de mão dupla, segundo relato de testemunhas, fica próximo da Avenida Tereza Cristina. Em determinado momento, o último veículo, identificou um carro, modelo BYD da cor cinza, teria enfrentado dificuldades para passar pelo caminhão e, por isso, a motorista e um dos garis teriam indicado ao motorista que o espaço seria suficiente.

Em seu depoimento à Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), a condutora do caminhão de coleta, identificada como Eledias Aparecida Rodrigues, afirmou que enquanto recebia as instruções dos funcionários, o motorista do BYD pegou uma arma preta, fez movimento para engatilhar a arma e apontando para ela disse: “Se você esbarrar no meu carro eu vou dar um tiro na sua cara, duvida?”. 

Diante das ameaças feitas à colega, uma segunda testemunha afirmou que os demais trabalhadores tentaram acalmar o suspeito e pediram que ele seguisse seu caminho. Mesmo assim, segundo o boletim de ocorrência, o homem desembarcou com a arma em punho, deixando o carregador cair. Ele então o recolocou, manobrou a arma e efetuou um disparo em direção à vítima. Laudemir chegou a ser socorrido e encaminhado para o Hospital Santa Rita, no Bairro Jardim Industrial, em Contagem, mas faleceu. 

Imagens de câmera de segurança flagraram o momento em que o gari saiu correndo já ferido. Na gravação é possível ver o momento que o carro que seria do investigado, vira na rua em que o caminhão de coleta estava parado. O veículo então para por um segundo, segue em frente e os demais que estavam atrás passam a dar ré e sair da via. Na sequência, dois garis saem correndo e um deles coloca a mão na região do abdômen e cai no chão. Ele é amparado por um colega que segura sua cabeça. 

Violência doméstica

Nessa quarta-feira (13/8), o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) informou que apesar de não haver antecedentes criminais em Minas Gerais, Renê possui registros em São Paulo e no Rio de Janeiro. De acordo com a decisão, a que o Estado de Minas teve acesso, o primeiro caso se trata de uma ação penal pela prática de crime de lesão corporal grave contra uma mulher. 

Já no estado fluminense o empresário responderia por lesão corporal contra uma ex-companheira, além de ameaça contra a ex-sogra. A informação foi confirmada à reportagem pelo chefe da divisão de homicídios do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da PCMG, Álvaro Huertas. Além disso, o registro de antecedentes da Polícia Civil do Rio de Janeiro, aponta que o homem também teria envolvimento em uma ocorrência de homicídio culposo, quando não há intenção de matar. 

Ao ser questionado sobre o histórico pelos seus advogados, o investigado afirmou que nunca foi preso e não responde a nenhum processo criminal. “Eu respondo por uma luxação do quinto metatarso da minha ex esposa. Mas já tenho uma medida cautelar contra ela, dada pelo Ministério Público de São Paulo”, disse Renê.

 

Pontos a serem esclarecidos

O álibi, conforme o delegado Álvaro Huerdas, chefe do DHPP, foi refutado pelas testemunhas do crime, que durante as oitivas afirmaram que o homem que disparou contra Laudemir se tratava de Renê. Agora, os investigadores da PCMG seguem em busca de imagens de câmera de segurança que indiquem o que teria acontecido.

Conforme informado à reportagem pela empresa em que o homem trabalhava havia duas semanas, imagens de câmeras de segurança registraram a entrada de Renê às 9h18 e sua saída às 12h30. Em nota, a empresa afirmou que as gravações foram encaminhadas para a Polícia Civil, que agora vai analisar as imagens.

Além disso, durante a audiência, Renê alegou que o carro registrado nas imagens, que foram mostradas a ele na abordagem policial, apresentava uma lateral cromada, detalhe que o veículo dele não teria. “Não são os mesmos carros”, disse o suspeito aos policiais, de acordo com depoimento dele. “Meu carro não é um elétrico, é um híbrido”, completou.

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O que ocorreu com a esposa do suspeito?

  • Logo após ser abordado por uma equipe da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) o suspeito afirmou que sua mulher é delegada

  • Desde os fatos, Ana Paula Balbino Nogueira, identificada como a esposa do suspeito de homicídio continua trabalhando

  • A delegada foi ouvida pela Corregedoria da corporação onde trabalha

  • As armas de serviço e pessoal foram apreendidas e estão sendo analisadas nos inquéritos administrativos e criminal

  • A PCMG afirma que, até o momento, não há informações que incluem a delegada no homicídio do gari

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