Servidores do Júlia Kubitschek são afastados por intoxicação alimentar
Cem funcionários apresentaram sintomas e 50 foram afastados do trabalho. Os casos começaram a surgir na última quarta-feira (8/10)
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Aproximadamente 100 servidores do Hospital Júlia Kubitschek, na Região do Barreiro, em Belo Horizonte, apresentaram sintomas de intoxicação alimentar nesta semana. Do total, 50 funcionários foram afastados, segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Saúde de Minas Gerais (Sind Saúde/MG).
Os primeiros casos surgiram nessa quarta-feira (8/10), segundo relatos de profissionais da unidade de saúde. Já na manhã de hoje (9/10), mais funcionários apresentaram sintomas gastrointestinais, como vômito, diarreia e cólica. Nesta data, 10 pessoas buscaram atendimento médico na emergência do hospital.
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Em nota, a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) afirmou que “todas as medidas previstas em protocolo foram imediatamente adotadas”. De acordo com a entidade, as equipes da Medicina do Trabalho, Segurança do Paciente e a empresa responsável pela alimentação foram prontamente acionadas.
As Vigilâncias Sanitárias estadual e municipal também foram notificadas, segundo a Fhemig, e uma investigação está sendo feita. A Prefeitura de BH informou, em nota, que equipes da Vigilância Sanitária, junto com profissionais da área de Epidemiologia da capital, estiveram na unidade de saúde para coletar amostras de alimentos e água para análise.
O Executivo ainda explicou que o órgão realiza vistoria da empresa responsável pela alimentação do hospital, para avaliar as condições do local e as boas práticas de fabricação dos alimentos. Por fim, a Vigilância Sanitária afirmou que o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs) de Belo Horizonte acompanha o caso.
Servidores se manifestam
Durante a tarde desta quinta, servidores da unidade de saúde e a presidente do SindSaúde, Neuza Freitas, estiveram no Júlia Kubitschek, relatando sobre os casos de intoxicação alimentar.
Na ocasião, a representante da entidade afirmou que já existe um desfalque grande de profissionais. “Quando se trata de saúde, nós trabalhamos com escala montada. Então, um trabalhador que falta já desfalca a escala”, disse.
Ela relatou que se deparou com uma médica pediatra deitada, apresentando sintomas de intoxicação. “Estive no setor em que a pediatra não tem condição de estar atendendo. Ela nem desceu para dar o depoimento porque não tem condição de estar atendendo. É menos uma trabalhadora”, contou. “Nós temos técnicos de enfermagem, profissionais do administrativo, médicos e inclusive vários gestores que também tiveram que ir para casa devido a situação”, completou.
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A presidente do sindicato ainda detalhou que não é a primeira vez que servidores reclamam da comida. “As bandejas, os pratos e os talheres são muito sujos. A questão das reclamações vem de tempos por todas as empresas terceirizadas praticamente. Já ocorreu das pessoas reclamarem da qualidade da alimentação, mas casos de passarem mal a esse ponto jamais”, disse.
Em vídeo divulgado pelo SindSaúde-MG, a técnica de enfermagem Ana Paula, afirmou que, após se alimentar na unidade de saúde na quarta-feira (8/10), começou a sentir sintomas de intoxicação. "Estou afastada do serviço e em uso de medicamentos", disse.
Processo de licitação
O Conselho de Saúde e o sindicato questionam o processo de licitação para a nova fornecedora de comida no hospital. De acordo com a presidente do SindSaúde, a atual empresa ficou em quarto lugar no processo de licitação.
“A empresa que venceu em primeiro lugar, pelo o que apuramos, não tem nenhum problema com a Vigilância Sanitária. Mas, mesmo assim, o Hospital Júlia Kubitschek montou uma equipe interna para que essa empresa fosse advertida”, disse Neuza.
A presidente ainda afirmou que o sindicato notificou o Ministério Público sobre essa questão. A reportagem do Estado de Minas entrou em contato com a Instituição de Justiça, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto.
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“A nossa preocupação é porque essa empresa que ficou em quarto lugar, tem um valor de 30 milhões a mais do que a empresa que venceu a licitação e que até então, no momento, não assumiu”, explicou Neuza. “Não nos interessa qual é a empresa. Agora, a qualidade da alimentação e o dinheiro público sim”, finalizou.
A atual empresa também abastece os pacientes e acompanhantes, segundo o sindicato. Mas, até o momento, não foi registrado nenhuma ocorrência de intoxicação alimentar.
‘Grave episódio’
Em nota, o Sindicato dos Enfermeiros do Estado de Minas Gerais (SEE-MG) lamentou a situação e descreveu o ocorrido como um “grave episódio”. Segundo a entidade, o presidente do sindicato, enfermeiro Anderson Rodrigues, também diretor da Federação Nacional dos Enfermeiros (FNE), afirmou ter recebido manifestações e denúncias sobre o assunto e “já acionou o seu departamento jurídico para ultimar as providências que couber à entidade em relação a esse caso.”
No texto, o SEE-MG ainda reafirmou seu compromisso com a defesa da saúde, da segurança e das condições dignas de trabalho para todos os enfermeiros e demais servidores do sistema público de saúde.
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“O Sindicato acompanha atentamente o caso e espera que todas as medidas necessárias sejam adotadas pela Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) para garantir o acolhimento adequado das vítimas, a apuração rigorosa das causas e a prevenção de novos episódios semelhantes”, finalizou.
*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice