A decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de impor medidas cautelares contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) repercutiu na sexta-feira (18/7) entre políticos e figuras públicas ligadas aos campos da direita e da esquerda.
Pela decisão de Moraes, Bolsonaro deverá cumprir recolhimento domiciliar entre 19h e 6h de segunda a sexta-feira e em tempo integral nos fins de semana e feriados.
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O ex-presidente também será monitorado por tornozeleira eletrônica; não poderá manter contato com embaixadores, autoridades estrangeiras e nem se aproximar de sedes de embaixadas e consulados.
A defesa de Bolsonaro disse ter recebido "com surpresa e indignação a imposição de medidas cautelares severas contra ele, que até o presente momento sempre cumpriu com todas as determinações do Poder Judiciário".
Em entrevista à imprensa, Bolsonaro atribuiu motivação política à investigação que levou à nova operação da Polícia Federal nesta sexta-feira. "Nunca pensei em sair do Brasil ou buscar refúgio em embaixada", declarou.
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Ministros do governo federal e parlamentares petistas e de outros partidos de esquerda comemoraram a decisão de Moraes e fizeram postagens irônicas, sobre a possível prisão iminente de Bolsonaro.
Já os apoiadores do ex-presidente criticaram o que consideram mais uma decisão autoritária de Moraes, enfatizando que Bolsonaro seria vítima de perseguição política.
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Reações à esquerda
"TOC, TOC, TOC! Agora, um possível plano de fuga ficou mais difícil. O @STF determinou uso de tornozeleira eletrônica no ex-presidente golpista, e a @policiafederal já cumpriu a decisão da Justiça. Como não é uma joia das "Arábias", não poderá ser desviada nem vendida", postou Luiz Marinho, ministro do Trabalho e Emprego, no X (antigo Twitter).
"O bananinha @BolsonaroSP que se cuide porque ao voltar para o Brasil pode ter uma tornozeleira eletrônica esperando por ele aqui", escreveu Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, também no X.
"Faltou postar: Grande dia!", escreveu o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), ex-ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social do governo federal, que deixou o cargo em janeiro deste ano.
Pimenta ironizava postagem de Jair Bolsonaro feita em 24 de janeiro de 2019, quando Jean Wyllys anunciou que deixaria o Brasil e não assumiria um novo mandato na Câmara — posteriormente, Bolsonaro negaria estar comemorando o exílio voluntário de Willys, dizendo que, com sua postagem de "Grande dia", celebrava a volta de uma missão no exterior e a alta da bolsa de valores.
"Além de tramar um golpe contra a democracia, Bolsonaro articulou as sanções dos EUA ao Brasil e planejava fugir do país. É um criminoso contumaz", afirmou o senador Humberto Costa (PT-PE).
A deputada Erika Hilton (Psol-SP) antecipou a possibilidade de prisão de Bolsonaro num futuro próximo. "EI, BOLSONARO, SUA HORA TÁ CHEGANDO!", escreveu Hilton, listando as medidas cautelares impostas contra o ex-presidente. "Isso tudo ainda é só o trailer do filme que o povo aguarda ansioso pelo lançamento. E nele, Bolsonaro será finalmente PRESO", completou a deputada do Psol.
Reações à direita
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, prestou solidariedade a Bolsonaro nas redes sociais. "Coragem é um atributo que quem conhece Jair Bolsonaro sabe que nunca lhe faltou. Não faltou quando atentaram contra a sua vida. (...) E não vai faltar agora, pois ele sabe que estamos e seguiremos ao seu lado", escreveu Tarcísio.
"Não conheço ninguém que ame mais este país, que tenha se sacrificado mais por uma causa, quanto Jair Bolsonaro. Não imagino a dor de não poder falar com um filho. Mas se as humilhações trazem tristeza, o tempo trará a justiça", completou o governador de São Paulo.
Tarcísio chegou a se reunir com chefe da embaixada dos EUA, após a imposição de tarifas ao Brasil por Donald Trump, e teria solicitado ao STF a devolução do passaporte de Bolsonaro, para que ele pudesse ir aos Estados Unidos negociar com o presidente americano.
O influenciador bolsonarista Leandro Ruschel, afirmou no X que o Brasil atravessa o momento mais grave da sua história. "Aceleramos na direção do desfiladeiro totalitário", afirmou Ruschel.
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) comparou as medidas cautelares impostas contra Bolsonaro com a prisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2018. "Lula foi condenado em três instâncias e posteriormente preso. Nunca o vi proibido de falar com alguém, usando tornozeleira ou sem ter acesso às redes sociais. Ele ainda chegou a conceder entrevista de dentro da prisão. Na democracia relativa as coisas são bem diferentes", escreveu Nikolas.
Ele também repostou mensagem do vereador Pablo Almeida, do PL em Belo Horizonte (MG), dizendo que Bolsonaro seria um preso político. "Bolsonaro é um preso político. Ele não foi julgado, não foi condenado, mas está com tornozeleira, proibido de falar com o próprio filho, censurado nas redes e vigiado 24 horas por dia", escreveu Almeida. "Isso não é justiça — é perseguição. É o sistema usando o aparato judicial pra silenciar quem pensa diferente. Quando isso acontece, o nome não é democracia. É tirania disfarçada de legalidade."
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Rogério Marinho, Carlos Portinho, Izalci Lucas, Zucco e Sóstenes Cavalcante – respectivamente líderes da oposição no Senado, do PL no Senado, da oposição no Congresso, da oposição na Câmara e do PL na Câmara – se manifestaram através de uma nota conjunta.
" O Brasil assiste, mais uma vez, a um grave episódio de perseguição política disfarçada de ação judicial. O ex-presidente Jair Bolsonaro foi novamente alvo de medidas cautelares arbitrárias determinadas pelo ministro Alexandre de Moraes, que, em nome da autoridade, tenta impor o silêncio ao principal líder da oposição no país", escreveram os políticos de oposição.