Comum em mulheres em idade fértil, a síndrome dos ovários policísticos (SOP) afeta não apenas o equilíbrio hormonal, mas também o metabolismo da glicose. Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, até a última década, cerca de 50% a 70% das mulheres com SOP apresentaram resistência à insulina. Essa condição ocorre quando o organismo é incapaz de responder ao hormônio responsável pelo controle dos níveis de açúcar no sangue.
A relação entre as duas condições funciona como uma via de mão dupla: a resistência provoca níveis elevados de insulina circulante, que, por sua vez, estimulam os ovários a produzirem mais andrógenos (hormônios masculinos), agravando sintomas como acne, aumento de pelos e, principalmente, irregularidades menstruais. O resultado é uma interferência direta no ciclo ovulatório, dificultando a concepção.
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De acordo com Flávia Pieroni, endocrinologista do São Marcos Saúde e Medicina Diagnóstica - marca Dasa em Minas Gerais -, o excesso de insulina gera um ambiente hormonal desfavorável à ovulação, e muitas mulheres só descobrem isso quando tentam engravidar e não conseguem. Por isso, é fundamental que o diagnóstico da SOP seja feito de forma cautelosa, com uma avaliação geral da saúde metabólica.
“O diagnóstico da SOP não depende de um único exame, mas sim de um conjunto de análises clínicas e laboratoriais. O médico avalia o histórico menstrual da paciente, sinais clínicos de excesso de andrógenos e realiza exames de sangue para medir níveis hormonais e metabólicos, como glicemia, insulina e perfil lipídico”. Flávia explica que o ultrassom transvaginal complementa a investigação, verificando o aspecto dos ovários. É importante também descartar outras condições que possam causar sintomas semelhantes, como a endometriose.
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O tratamento da SOP envolve mudanças no estilo de vida, como alimentação balanceada, controle de peso e prática regular de atividade física, que ajudam a melhorar a sensibilidade à insulina e a equilibrar os níveis hormonais. Medicamentos como a metformina podem ser indicados para reduzir a resistência à insulina, além de terapias hormonais para regular o ciclo menstrual e aliviar sintomas, como doenças mais raras como a hiperplasia adrenal congênita ou síndrome de Cushing.
“Com um diagnóstico adequado, é possível controlar os sintomas da SOP, reduzir os riscos metabólicos e aumentar as chances de uma gestação saudável. Muitas mulheres que desejam engravidar conseguem alcançar esse objetivo com o acompanhamento médico. Em alguns casos, medicamentos indutores de ovulação podem ser recomendados, sempre com orientação especializada”, reforça a endocrinologista.
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Resistência à insulina aumenta risco de doenças metabólicas e cardiovasculares
A resistência à insulina está relacionada a diversas enfermidades crônicas. Entre as principais condições associadas estão a síndrome metabólica, caracterizada por aumento da circunferência abdominal, pressão arterial elevada e alterações nos níveis de colesterol e triglicerídeos, além do maior risco de infarto e acidente vascular cerebral (AVC). Também há uma forte ligação com o desenvolvimento do diabetes tipo 2 e da esteatose hepática não alcoólica (acúmulo de gordura no fígado).
O diagnóstico pode ser feito através da história clínica e alguns exames laboratoriais complementares, como a dosagem de glicose e insulina em jejum. A hemoglobina glicada, embora não identifique diretamente a resistência à insulina, é útil para avaliar o controle glicêmico nos últimos meses e pode reforçar a suspeita clínica. Identificar e tratar precocemente essa condição é essencial para reduzir o risco de complicações graves e melhorar a qualidade de vida.
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