Na última quinta-feira (25/9), a Organização das Nações Unidas (ONU) publicou uma nova declaração política sobre doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs). O documento não reconheceu a obesidade como doença, não abordou o acesso a tratamentos e deixou de incluir ferramentas já recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Uma ferramentas que não constam na declaração é o Acceleration Plan, plano global lançado em 2022 que orienta países a reconhecer a obesidade como doença, integrar sua prevenção e tratamento à atenção primária e implementar políticas de alimentação saudável, tributação de ultraprocessados e ampliação do acesso a terapias eficazes.
- Nova diretriz sobre obesidade e sobrepeso foca em risco cardiovascular
- Onde se consome mais ultraprocessados no Brasil? Quais são os motivos?
Para o presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), Fábio Trujilho, é preciso que os líderes globais tenham clareza sobre a gravidade do cenário e ajam de forma integrada. “A obesidade não pode mais ser ignorada como um dos maiores desafios de saúde pública do nosso tempo. É necessário que governos assumam compromissos claros, baseados em ciência, para reduzir o impacto da doença e garantir políticas de prevenção e tratamento efetivas”, afirma.
A obesidade é hoje um dos maiores desafios globais de saúde e equidade. Mais de 1 bilhão de pessoas vivem com a condição no mundo, número que deve alcançar quase metade da população até 2035. A estimativa é que, se nada for feito, o impacto econômico da obesidade chegue a 3% do PIB mundial até 2030.
Leia Mais
No Brasil, o cenário também preocupa. Estima-se que 68% da população adulta tenha sobrepeso (IMC 25) e 31% viva com obesidade, de acordo com os dados mais recentes do Atlas Mundial da Obesidade 2025. Em 2021, mais de 60 mil mortes prematuras no país foram atribuídas ao excesso de peso.
Para Bruno Halpern, vice-presidente da Abeso e presidente eleito da World Obesity Federation (WOF), ao não reconhecer a obesidade como doença crônica, a ONU reduz a relevância do tema e ele perde espaço nas agendas políticas e de saúde pública. “Se não reconhecermos o problema, não teremos solução. O documento da ONU não reconhecerá a obesidade como doença e a deixará fora da discussão. E se nós não reconhecemos o problema, não teremos como trabalhar na solução”, alerta.
- Brasil quer eliminar 14 doenças que atingem população vulnerável
- ‘Doença X’: Entenda o termo criado pela OMS
Ele acrescenta que o papel das sociedades médicas é garantir que a ciência e a assistência cheguem às pessoas. “Não nos envolvemos em disputas jurídicas ou políticas que extrapolam a esfera da ciência. O que defendemos é que os tratamentos para obesidade sejam acessíveis à população. Todo movimento a favor da ampliação do acesso e da redução de custos é positivo, enquanto iniciativas em sentido contrário nos preocupam”, complementa.
Para a Abeso, reconhecer a obesidade como doença crônica e garantir o acesso a terapias eficazes, incluindo medicamentos inovadores como os agonistas de GLP-1, é essencial para conter o avanço das DCNTs. Além disso, é necessário integrar prevenção e tratamento da obesidade à atenção primária em saúde e assegurar que as pessoas com experiência de vida com a doença participem da formulação das políticas públicas.
A entidade reforça o chamado da WOF para que governos honrem compromissos já assumidos e avancem em ações concretas para prevenir e controlar a obesidade. Sem isso, a federação afirma que não haverá progresso real no enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis.
Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia