(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas Entre Linhas

Milei far� governo contingenciado por liberais e peronistas

Os fantasmas dos ex-presidentes Alfons�n e De la R�a, que derrotaram o peronismo nas urnas, mas n�o terminaram o mandato, assombram o Milei


21/11/2023 04:00
816

Milei
Milei (foto: LUIS ROBAYO/AFP)

Se a vit�ria de Javier Milei nas elei��es argentinas foi incontent�vel, com uma diferen�a de quase 3 milh�es de votos a mais do que Sergio Massa, o futuro de seu governo ainda � uma grande inc�gnita. Tem um m�s para montar seu governo e formar maioria no Congresso. Nesse �nterim, ter� que administrar as incertezas econ�micas do pa�s, com uma corrida atr�s de d�lar e a infla��o em disparada.

No seu primeiro dia como presidente eleito, Milei reiterou a inten��o de fechar o Banco Central, dolarizar a economia e p�s na ordem do dia as privatiza��es, a come�ar pela petroleira do pa�s. Milei quer privatizar tamb�m a Tel�m — a TV p�blica do pa�s — e a R�dio Nacional. E pretende visitar Israel e os Estados Unidos antes de tomar posse, marcada para 10 de dezembro.

Precisa formar maioria no Congresso, principalmente na C�mara, A coliga��o de partidos peronistas Uni�o pela P�tria, do candidato Sergio Massa, perdeu 10 assentos, mas seguir� sendo a maior bancada da C�mara dos Deputados, com 108 das 257 cadeiras. A segunda for�a na C�mara, com 93 deputados, � a coaliz�o de centro-direita Juntos pela Mudan�a, cuja candidata Patricia Bullrich, ficou de fora do segundo turno, mas apoiou o presidente eleito. O partido A Liberdade Avan�a, de Milei, elegeu 35 deputados.

Juntos, Liberdade Avan�a e Juntos pela Mudan�a, por�m, t�m 20 deputados a mais do que os peronistas. Essa alian�a com os liberais-conservadores � a chave para a estabilidade pol�tica do pa�s e a sustenta��o do programa econ�mico de Milei. O ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), que o apoiou, � uma lideran�a influente no Congresso. No segundo turno, foi um fator de modera��o do discurso de Milei. Entretanto, os fantasmas dos ex-presidentes Alfons�n e De la R�a, da Uni�o C�vica Radical, que derrotaram o peronismo nas urnas, mas n�o terminaram o mandato, assombram Milei.

Resili�ncia peronista


A vit�ria de Ra�l Alfons�n havia imposto ao peronismo a primeira derrota nas urnas, com o pa�s quebrado, humilhado e frustrado. Em 1985, o Plano Austral tentou corrigir o curso, com controle de pre�os, sal�rios e c�mbio, redu��o dos gastos do Estado e freio � emiss�o monet�ria. Seguiram-se os Planos Austral II e Primavera: congelamento de pre�os, tarifas, sal�rios e c�mbio. O fracasso desses planos produziu hiperinfla��o, escalada do d�lar, desemprego, recess�o e desgaste pol�tico. Alfons�n renunciou cinco meses antes de concluir o mandato, em 8 de julho de 1989.

O peronista Carlos Menem assumiu a presid�ncia com um programa neoliberal. Em 1999, dez anos depois, as den�ncias de corrup��o e a deteriora��o do quadro econ�mico-social no segundo mandato de Menem levaram o eleitorado a votar novamente contra o peronismo. As elei��es foram vencidas pela Alianza UCR-Frepaso, Fernando de la R�a / "Chacho" �lvarez, que se mostrou incapaz de governar. Domingo Cavallo, que comandou o programa de reformas neoliberais de Menem, retornou ao Minist�rio da Economia em 2001 e recebeu de o Congresso a miss�o buscar a estabilidade, com a receita: “blindagem" financeira, aumento impostos, reestrutura��o da d�vida e d�ficit zero. A deteriora��o social e a desordem econ�mica, por�m, atingiram n�veis insustent�veis, com saques e violentas manifesta��es. Sob a press�o dos "panela�os", Cavallo e De la R�a renunciraam.

Em duas semanas, entre 20 de dezembro de 2001 e 2 de janeiro de 2002, a Argentina teve cinco presidentes. O peronista Ram�n Puerta, presidente do Senado, que assumiu porque “Cacho” Alvarez j� havia renunciado; Adolfo Rodr�guez Sa�, governador da prov�ncia de San Luis, eleito presidente provis�rio, que decretou a morat�ria e depois renunciou; novamente o presidente do Senado Ram�n Puerta, que ap�s 15 minutos entregou o cargo; o peronista Eduardo Cama�o, presidente da C�mara, como designa a Constitui��o, para os casos de ren�ncia do presidente do Senado.

Finalmente, a Assembleia Legislativa escolheu o senador peronista Eduardo Duhalde como novo presidente do pa�s, para completar o mandato de De la R�a, at� dezembro de 2003. Em seu discurso ao Congresso, logo ap�s a elei��o, Duhalde anunciou o fim da conversibilidade que mantinha o peso atrelado ao d�lar havia dez anos. Al�m disso, manteve a morat�ria de sua d�vida externa.

Duhalde assumiu a presid�ncia de um pa�s desnorteado. Sua prioridade era reconstruir a governabilidade. Substituiu o apoio do establishment econ�mico-financeiro por uma alian�a entre o setor produtivo nacional e com o peronismo tradicional, “pesificou” a economia, mas, pela primeira vez na hist�ria, a Argentina conheceu a fome e a prolifera��o da mis�ria. Com a posse do ministro da Economia, Roberto Lavagna, em 2002, o pa�s come�ou a se recuperar. Iniciou-se um breve ciclo de crescimento econ�mico.

Nas elei��es de 2003, enfrentaram-se propostas antag�nicas para a Argentina, polarizadas nas candidaturas de Kirchner (centro-esquerda) e Menem (centro-direita), ambos peronistas. Vitorioso ap�s a desist�ncia deste �ltimo, Kirchner assegurou a governabilidade e o crescimento do pa�s, que chamou de “refunda��o” da Argentina, que se esgotou agora, com a derrota de Massa. Ser� o fim do peronismo?
 





*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)