Na �poca em que o pa�s viveu a ditadura, eu era crian�a e depois pr�-adolescente, mas tinha primos que lutaram contra ela e foram presos e torturados. Meu pai j� trabalhava no jornal e, apesar de n�o ser jornalista – era advogado e atuava na administra��o da empresa –, sabia de tudo que se passava. Quando chegava em casa, geralmente comentava com minha m�e sobre alguma mat�ria que havia sido proibida de sair.
No final da d�cada de 1970, participava de um grupo de teatro amador evang�lico, o Verbenas, e t�nhamos que fazer ensaio geral para a Pol�cia Federal. Eram tr�s censores que entravam mudos, s�rios, assistiam � pe�a com o texto na m�o e depois o entregavam com os poss�veis cortes e observa��es ao diretor Marco Ant�nio Gualter Rosas. Sem chances para qualquer apelo ou explica��o.
Em 1982, fui participar do “Show�aite” pela primeira vez, um show beneficente feito por pessoas da sociedade, com dan�a, m�sica, desfile de moda, apresentadores interligando as atra��es e esquetes. Era do jornal, eu j� trabalhava na casa. E n�o � que no ensaio geral vejo os tr�s censores na plateia? At� hoje n�o entendi o que eles queriam censurar ali. Assim era a ditadura.
Fiz uma pequena pesquisa para mostrar um pouco o que a imprensa j� passou, uma vez que n�o vivi em algumas dessas �pocas e em outras era muito nova: “O per�odo da Rep�blica no Brasil foi marcado por v�rios atentados � liberdade de imprensa. Durante a Rep�blica Nova, a primeira lei de imprensa retirava do c�digo penal os crimes de imprensa e reformou o processo desses crimes. Al�m disso, instituiu o direito de resposta.
Durante o regime militar, tamb�m foi institu�da a chamada Lei de Imprensa, estabelecendo importantes restri��es � liberdade de express�o. Todo e qualquer tipo de not�cia deveria passar pelo crivo de censores, sendo barrada quando detectada alguma hostilidade ao governo. Durante os 'anos de chumbo', chegou-se a criar um Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) para executar essa tarefa. Os anos da ditadura militar na Am�rica Latina serviram para fortalecer o ideal de liberdade e democracia pregado pelos agentes da imprensa. Com o fim do per�odo ditatorial e com o advento da Constitui��o Federal de 1988, os fundamentos legais acerca do direito � informa��o foram estabelecidos, garantindo a liberdade de imprensa, desde que vedado o anonimato”.
N�o sou de esquerda, mas me arrepia quando ou�o algumas pessoas de extrema-direita levantando bandeira a favor da retomada do pa�s por militares, pedindo a volta da ditadura. S� quem nunca viveu essa �poca pode falar algo assim.
Talvez por tudo que o pa�s viveu, essa data seja celebrada atrav�s do exerc�cio de nosso trabalho, sem protestos. � importante que esse dia nos lembre que os meios de comunica��o t�m o direito e o dever de manter as pessoas informadas.
Mas acredito que essa liberdade que temos tem que ser acompanhada de respeito � liberdade dos outros. Temos o direito de liberdade, mas temos uma obriga��o com a �tica. Em um mundo que est� invadido por avalanches de fake news, e com o avan�o da tecnologia � poss�vel criar imagens e falas nunca ditas antes, cabe � imprensa apurar a veracidade de tudo antes de divulgar. Mesmo que isso custe perder o “furo jornal�stico”, pois a repercuss�o de uma not�cia errada pode fugir do controle. E todos n�s sabemos que uma afirma��o errada repercute muito mais que o direito de resposta.
(Isabela Teixeira da Costa/Interina)