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Estado de Minas Anna Marina

O adeus do m�dico Carlos Figueroa

BH se despediu de um dos maiores cirurgi�es cardiovasculares que j� tivemos. Discreto, nunca fez alarde de sua compet�ncia


22/07/2022 04:00 - atualizado 21/07/2022 19:20

médico Carlos Camilo Smith Figueroa
Carlos Camilo Smith Figueroa, al�m der ser um grande m�dico, era um homem simples e �ntegro (foto: Beto Magalh�es/EM/D.A Press)

Esta semana perdemos o m�dico Carlos Camilo Smith Figueroa, mais conhecido como Carlos Figueroa, um dos maiores cirurgi�es cardiovasculares que n�s j� tivemos. Para quem n�o sabe, ele fez o primeiro transplante de cora��o de Minas Gerais, em 1986, em uma mulher chamada Maria Geracinda. Este tamb�m foi o primeiro transplante em uma mulher, no Brasil – e foi tamb�m o primeiro transplante do mundo em um paciente com doen�a de Chagas. Discreto, nunca fez alarde disso.

Figueroa nasceu no Peru, em uma cidade chamada Putina, em Puno, regi�o onde seu pai trabalhava como capataz de uma fazenda. Passou a inf�ncia ali, depois se mudou para Arequipa para estudar. Veio para o Brasil com o irm�o, Enrique – dois anos mais velho que ele –, para estudar e ganhar a vida, pois eram de fam�lia muito pobre. Fizeram agronomia juntos, profiss�o que o irm�o seguiu, radicado na Bahia, mas que ele n�o gostou. Talvez por influ�ncia da irm� mais velha, Candel�ria, que era enfermeira, ele decidiu fazer medicina. Estudou na UFMG, onde, depois, foi professor.

Depois de formado, foi para S�o Paulo fazer resid�ncia com Zerbine, que queria mant�-lo em sua equipe, mas Carlos Figueroa preferiu retornar para Belo Horizonte, e trabalhou at� 2017 no Hospital Fel�cio Rocho. Teve tr�s filhos, Luiz Carlos e Daniel, frutos do primeiro casamento, e Camilla, do segundo.

Conheci doutor Figueroa quando minha m�e precisou fazer uma cirurgia card�aca, aos 82 anos. Precisava trocar a v�lvula. Era isso ou morreria na pr�xima crise de edema pulmonar, diagn�stico feito pelo doutor Samuel Vianney, e o que ele falava era uma ordem para minha m�e, tamanha confian�a que tinha e continua tendo nele. Quando ela decidiu operar, foram citados dois nomes: Bayard, amigo do meu irm�o mais velho, e Figueroa, que ningu�m conhecia, mas a fama da sua compet�ncia o precedia. Ambos eram excelentes.

Minha filha Luisa tem uma amiga desde os 2 anos de idade, a Camilla. Foram colegas no Colibri e as duas mudaram para o Izabela Hendrix, sem nenhuma combina��o entre n�s, e se reencontraram no ano seguinte na mesma sala. Na pr�-adolesc�ncia e adolesc�ncia, costumava passar fim de semana e at� feriado na fazenda do pai da Camilla, em Florestal, pr�ximo a Par� de Minas. Eu combinava tudo com a mulher dele, D�ra. Luisa sempre dizia que o pai dela era muito legal, bonzinho e engra�ado. Camilla era de casa. Minha m�e a amava, brincavam muito uma com a outra, sem a menor cerim�nia.

No dia de decidir sobre a cirurgia da minha m�e, Luisa estava em seu quarto e escutou a conversa sobre a opera��o e, na mesma hora, disse: “Esse � o pai da Camilla”.

Na mesma hora, minha m�e tomou a decis�o. Era ele. Consulta agendada na hora. Ele nos recebeu com um carinho, simpatia e delicadeza que nos marcou, e Luisa disse que ele era assim. T�mido no primeiro momento, discreto, tinha no consult�rio um quadro com paisagem bonita. Era sua cidade no Peru.

Operou minha m�e. No dia seguinte, foi � UTI Card�aca e pediu a bandeja para curativo. O CTI parou. Toda a equipe se aglomerou na frente do box onde minha m�e estava para ver uma cena in�dita – segundo eles, Carlos Figueroa trocando curativo de um paciente. Pois essa cena se repetiu por todos os dias que minha esteve ali.

O anestesista S�rgio Botrel, outro grande amigo e excelente profissional, sempre operava com ele. Os dois combinavam como poucos, e eram muito engra�ados. S�rgio imitava Figueroa, passavam trote, e dizia ao amigo “Figueroa, voc� � um m�dico do Peru”. De fato, em todos os sentidos. Certa vez, Botrel me disse que se ele tivesse optado por ficar em S�o Paulo, provavelmente teria sido maior que Zerbine. Sorte nossa que escolher Belo Horizonte.

S�bio, sempre disse que pararia de operar quando ainda estivesse bem. Parou em 2017. Em 2019, sofreu um AVC. Agora, teve uma gripe, as coisas se complicaram e n�s perdemos um grande m�dico e um homem simples, �ntegro e com um car�ter exemplar. Este salvou muitas vidas.

(Isabela Teixeira da Costa/Interina) 

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