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Estado de Minas ANNA MARINA

Meu livro de cabeceira foi escrito pela menina Alice, no s�culo 19

Com o pseud�nimo Helena Morley, Alice Dayrell Caldeira Brant revela como era a vida em Diamantina de 1893 a 1895


27/05/2023 04:00 - atualizado 27/05/2023 02:41
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Atriz Ludmila Dayer escreve diário em cena do filme 'Minha vida de menina'
Ludmila Dayer interpretou Helena Morley no filme "Vida de menina", lan�ado em 2003 e dirigido por Helena Solberg (foto: Raccord Produ��es/reprodu��o)

De tanto assistir na TV � repeti��o ad aeternum das mesmas coisas, resolvi apelar para os filmes tradicionais que parecem feitos s� para crian�as, como “Harry Potter”, e para as s�ries, algumas muito boas, que contam hist�rias de nobres de antigamente. 


Outro lance importante para ficar agradavelmente em casa � a leitura. Fiz uma temporada de livros com hist�rias sobre campo de concentra��o – n�o consigo entender como � que a ruindade ataca pessoas que n�o carregam com elas culpa ou piedade. Alguns me comovem e me prendem totalmente, outros s�o um arremedo do terror, s� para vender.

Recentemente, revirando as estantes em busca de um livro sobre o Papa Francisco que comprei numa mercearia, no qual ele conta como ia para a cozinha preparar macarronada argentina para seus companheiros de moradia – e todos amavam –, encontrei o meu atual livro de cabeceira.

Trata-se de “Minha vida de menina”, de Helena Morley, que na vida real � Alice Dayrell Caldeira Brant. Ela se consagrou n�o s� na literatura nacional, como na internacional. A autora foi saudada com os maiores elogios por Carlos Drummond de Andrade e Alexandre Eul�lio (“O livro que j� nasceu cl�ssico”).

Trata-se do di�rio escrito por uma menina que morava em Diamantina e, na simplicidade de seus relatos, registra uma �poca importante do pa�s, quando a busca pelo ouro e pelos diamantes era uma constante para variadas fam�lias, brasileiras e estrangeiras.

Diariamente, ela relatava em seus cadernos o que acontecia com a fam�lia, os parentes e amigos, os conhecidos da cidade. Conta como sua fam�lia – m�e, quatro filhos e mais o pai ingl�s, sempre em busca das pedras – era a mais pobre de todos os parentes. Por�m, a pobreza n�o trazia infelicidade, nem revolta, nem amargor.

No dizer de Drummond, “� a leitura ou releitura das impress�es infantis de uma garota mineira de 1893, em Diamantina, que nos d� uma satisfa��o profunda, ao sentirmos a perman�ncia de alguma coisa que n�o se deixou vencer pela robotiza��o nem pela selvageria a que o extremo requinte da civiliza��o vem conduzindo o homem. Se ainda somos capazes de nos deliciar com o di�rio de Helena, as coisas n�o est�o assim t�o feias. Ela nos redescobre a inf�ncia, faz rir e comove, observadora sagaz e moleque de um panorama familial que se alarga at� abranger a vida em movimento da cidade e da regi�o, com seus veios de diamantes quase esgotados, seus tipos populares, suas fazendas, festas religiosas e profanas, suas comidas, seu jeito inconfund�vel de ser e sua humanidade.”

O livro foi montado com os escritos infantis de Alice, recolhidos pela fam�lia quando ela completou 60 anos, casada, rica e feliz. 

Comprei o meu exemplar na tradicional Livraria Amadeu, que vendia livros novos e usados. E ele j� estava na 15ª edi��o, em 1976. O texto cobre os anos de 1893 a 1895, todas as p�ginas s�o uma deliciosa hist�ria de vida.

Gosto de l�-lo aleatoriamente, sem seguir as datas, porque cada dia desse di�rio � um achado de vida pura, digna de ser conhecida. Recomendo para quem gosta de ler textos que agradecem e enriquecem a vida, sem pieguismo ou falsidade.

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