
Quando a moda mineira bombava no pa�s, ofuscando levemente as grifes cariocas e paulistas, recebi a incumb�ncia de acompanhar um estilista brasileiro que vivia em Paris e estava visitando algumas confec��es. Rodei com ele as marcas mais importantes aqui da cidade. Passamos uma tarde nessa tarefa, e ele tinha uma maneira pessoal de conferir as pe�as. Olhava ligeiramente o exterior e esmiu�ava o interior. Prestava aten��o nos bot�es, nos fechos, nos arremates, nas bainhas e nos acabamentos, enfim.
Quando terminamos a ronda, ele deu seu julgamento final: a maioria dos modelos � bem copiado externamente, lembram originais estrangeiros. Mas os estilistas daqui precisavam aprender que o acabamento � um dos requisitos mais importantes da alta-costura. Sem um bom acabamento, a c�pia se perde. E, al�m do mais, o que n�o devia faltar aqui � m�o de obra para aprender at� a prender um bot�o.
Achei que ele tinha um pouco de raz�o. Uma das pe�as que ele mais examinou foi um longo de musselina estampada vermelha, com as costas fechadas por uma carreira de bot�es min�sculos, vis�veis do lado externo da roupa. Nunca me esqueci da cr�tica, porque at� para leigos os bot�es deixavam a desejar.
Tudo isso me chamou muito a aten��o, porque a fama de algumas grifes locais � de que elas faziam realmente alta-costura. Poucos levavam em considera��o que a classifica��o est� mundialmente ligada ao setor mais luxuoso dentro da moda. As confec��es com o t�tulo de haute couture t�m de respeitar uma s�rie de regras.
Duas vezes por ano, o mundo para para assistir a desfiles das fashion weeks. Dentro dessas semanas de moda existe um momento especial, destinado aos desfiles de alta-costura. O termo s� � aplicado a produ��es que chegam ao n�vel de excel�ncia que inclui roupas feitas artesanalmente com tecidos, bordados e pedrarias finas, vendidos exclusivamente em Paris. Isso porque o termo alta-costura, na Fran�a, � at� protegido por lei.
Esse setor da moda, aberto � minoria rica, tem obrigatoriamente que seguir algumas regras para serem consideradas maisons de haute-couture. Essas regras s�o: fabricar pe�as feitas sob medida; ter ateli�s sediados em Paris; realizar � m�o toda a costura das roupas; ter no m�nimo 20 profissionais trabalhando em cada ateli�, como costureiros, bordadeiras, alfaiates; realizar dois desfiles por ano, em janeiro e julho; e apresentar no m�nimo 25 looks por cole��o.
N�o sei atualmente como anda o setor, mas at� onde d� para entender, ele “encolheu” nos �ltimos anos, acompanhando a queda de grana do brasileiro, que n�o est� com dinheiro sobrando. Al�m disso, muitas marcas abriram pontos de venda direta, evitando produzir para atender pedidos.
Dia desses, visitei por acaso uma marca que era muito conhecida. O que vi n�o foi nada animador. O estilo continua mais ou menos o mesmo, mas a qualidade dos tecidos n�o � a primeira escolha, o que pode enganar quem n�o conhece o setor.
As cores s�o bastante chamativas, o que, em termos de moda, significa “usou encostou”. Quando, na realidade, os tempos est�o para compras mais conscientes, de cores que n�o marcam tanto e que podem ser usadas em qualquer esta��o.